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Por trás do glamour dos cosméticos, poluição do corpo e do ambiente

24/01/2019 00h00

O shampoo que deixa o cabelo sedoso e brilhante ou o sabonete com toque aveludado escondem um lado nada glamouroso: para conseguir esse efeito, a maioria dos produtos possuem derivados de petróleo, que nada mais são do que plástico em forma líquida. Outras marcas se orgulham de só ter ingredientes naturais na fórmula - mas os componentes são obtidos com métodos duvidosos de produção, em países distantes nos quais as regras ambientais são inexistentes.

O shampoo que deixa o cabelo sedoso e brilhante ou o sabonete com toque aveludado escondem um lado nada glamouroso: para conseguir esse efeito, a maioria dos produtos possuem derivados de petróleo, que nada mais são do que plástico em forma líquida. Outras marcas se orgulham de só ter ingredientes naturais na fórmula – mas os componentes são obtidos com métodos duvidosos de produção, em países distantes nos quais as regras ambientais são inexistentes.

Para combater as práticas nada ecológicas de ao menos 80% da indústria cosmética mundial, o movimento Slow Cosmetique, da França, propõe um selo de qualidade para destacar as marcas que respeitam o corpo e o meio ambiente. A coordenadora da associação, Constance Sycinski, explica o quanto um simples banho pode ser nocivo, dependendo da escolha do sabonete líquido ou do shampoo.

“O efeito macio e sedoso é garantido, mas na verdade estamos envolvendo os cabelos de plástico e, quando enxaguamos a cabeça, ainda levamos esse plástico para os esgotos. É muito grave porque além de poluirmos mais o planeta a cada banho, ainda colocamos poluentes no nosso próprio corpo”, afirma.

Constance chama a atenção para o consumismo exagerado que permeia a indústria cosmética: existe um produto diferente para cada parte do corpo, num estímulo permanente a comprar cada vez mais.

“Não precisamos de tudo isso! O Slow Cosmetique convida as pessoas a consumir menos e melhor. Produtos simples e de multiuso, como os óleos vegetais, que têm ingredientes naturais e são ótimos para a pele como um todo, porque contêm ácidos graxos que a nutrem profundamente, sem poluir”, observa.

Produtos para bebê

Esse retorno à simplicidade foi o que motivou a gestora educacional Deborah Feyte a se interessar pelo movimento, no sudoeste da França. Ela começou com receitas caseiras, como trocar o demaquilante por um simples azeite de oliva. O nascimento das filhas a fez questionar ainda mais a necessidade de ter tantos cosméticos no banheiro. 

“Minha filha mais velha tinha muita irritação na pele quando era bebê. Foi quando decidi introduzir uma mudança radical: fim de produtos industrializados no banho e passei comprar só produtos naturais, com o selo Slow Cosmetique. Vi a diferença em poucos dias”, atesta a francesa. “As irritações simplesmente acabaram. Ela não tem mais nenhum problema de pele.”

Outro problema é a geração de lixo. Constance Sycinski destaca que não basta as marcas oferecerem embalagens recicláveis, se elas continuam a conter plástico. Para ser sustentável, é preciso romper com a dependência dos materiais sintéticos e privilegiar embalagens minimalistas, de papel ou tecido.

Grandes marcas de fora

A Slow Cosmetique se preocupa com toda a cadeia de produção, em circuito curto, artesanal, local e atento a princípios éticos, como o bem-estar animal. É por isso que, na lista de marcas agraciadas com o selo, jamais haverá espaço para gigantes como L’Oréal ou L’Occitane – por mais que elas se esforcem para passar uma imagem ecológica.  

A diretora da associação destaca que, por pressão do mercado consumidor, cada vez mais atento aos rótulos dos produtos e atento à presença de desreguladores endócrinos, as grandes marcas se obrigam a oferecer pelo menos uma gama de orgânicos. Mas atenção: orgânico não é sinônimo de sustentável.

“A fórmula será boa, não-poluente, mas terá ingredientes do mundo inteiro, produzidos num ritmo alucinante, às vezes prejudicando as populações locais. Tudo isso porque o Ocidente está exigindo cosméticos orgânicos, então vão passar a produzir orgânicos desenfreadamente”, prevê.

Por conta do modo de produção diferenciado, os cosméticos sustentáveis nunca estarão entre os mais baratos do supermercado. Eles custam em média o dobro de um produto comum de uma marca conhecida.

“Quanto mais o preço for baixo, mais chances de estarmos diante de um produto que contém derivados de petróleo, que não custam nada comparados a um bom óleo vegetal ou outros ingredientes naturais nobres. Já faz seis anos que fazemos essa conscientização na França e ainda temos um longo caminho pela frente: somos um nicho dentro do nicho de produtos orgânicos”, nota Constance. “E para todas as pessoas que acham os cosméticos franceses luxuosos, tradicionais, fabulosos, saibam que a maioria dos produtos exportados em massa para o mundo estão longe de ser nobres, inclusive do ponto de vista das suas fórmulas.”