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Biblioteca digital revela 500 anos da relação entre a França e o Brasil

21/02/2019 23h00

O portal França-Brasil disponibiliza artigos e documentos históricos que revelam cinco séculos das relações entre os dois países. O projeto foi criado em 2009, durante o "Ano da França no Brasil", pelas bibliotecas nacionais da França e do Brasil, e era pioneiro. Dez anos depois, o portal ganha uma nova versão que está sendo lançada nesta terça-feira (19), na embaixada brasileira em Paris.

O portal França-Brasil disponibiliza artigos e documentos históricos que revelam cinco séculos das relações entre os dois países. O projeto foi criado em 2009, durante o “Ano da França no Brasil”, pelas bibliotecas nacionais da França e do Brasil, e era pioneiro. Dez anos depois, o portal ganha uma nova versão que está sendo lançada nesta terça-feira (19), na embaixada brasileira em Paris.

A nova versão, atualizada e ampliada, da biblioteca digital França-Brasil, “disponibiliza para o público mais de dois mil documentos, contextualizados por 54 artigos inéditos, redigidos por especialistas dos dois países”, detalha Régine Piersanti, responsável científica do portal pela BNF. Os documentos integram o acervo das duas bibliotecas. São textos manuscritos, impressos, mapas e desenhos que comprovam e ilustram a relação franco-brasileira do século 16 até meados do século 20, das tentativas fracassadas de colonização do território pelos franceses (A França Antártica e a França Equinocial) até a viagem de intelectuais franceses nos anos 1920 e 1930.

O portal é um instrumento útil tanto para estudantes e pesquisadores quanto para os usuários em geral. “O grande público vai encontrar coisas curiosas e vai ter esclarecimentos, pelos artigos, corrigindo às vezes preconceitos ou ideias errôneas sobre a relação França-Brasil. Já o pesquisador vai ter acesso a documentos muito raros”, salienta Michel Riaudel, diretor do Departamento de Estudos Lusófonos da Universidade Sorbonne e integrante do conselho científico do portal.

Influências recíprocas

A grade de navegação foi repensada para facilitar o acesso. A lógica anterior, que era cronológica, deu lugar a uma divisão temática: Momentos Chaves; Correntes Transatlânticas; Literatura e Circulação de Ideias; e Artes, Ciências e Técnicas. A reciprocidade norteia a concepção do site: “Nós saímos dessa ideia de modelo, de influência de uma cultura mais hegemônica. Não se trata de negar as hierarquias que existiam. Mas mostrar que, dentro dessas hierarquias, ambas as partes tinham uma contribuição, um trabalho de reapropriação,” explica Riaudel.

A ideia da França como modelo, de um diálogo unilateral, de um Brasil receptor passivo, ou a “lógica de dependência que foi durante muito tempo ativa”, estão ultrapassadas.

Patrimônios compartilhados

O portal é bilingue, francês e português, e de livre acesso. Em 2009, ele se chamava “A França no Brasil” e era hospedado pelo site da Fundação Biblioteca Nacional. A nova versão passa a ser disponibilizada pelo portal da Biblioteca Nacional da França, a BNF. Ele integra agora a coleção Patrimônios Compartilhados, que a instituição francesa criou em 2017 para valorizar a colaboração com bibliotecas nacionais de outros países com os quais têm laços culturais estreitos. Daqui para frente, o site será mantido e custeado pela BNF e vai se beneficiar de todas as evoluções técnicas da biblioteca digital francesa Gallica, que é uma das maiores do mundo.

Angela Monteiro, responsável científica pela Fundação Biblioteca Nacional, ressalta que a sustentabilidade e a perenidade do projeto também influenciaram a migração do portal para a BNF: ”O fato dele estar hospedado na BNF, que é uma instituição que já tem há muito tempo uma política de preservação digital implementada e validada, nos deixa muito tranquilos quanto ao compromisso de preservação digital a longo prazo do acervo dessa biblioteca França-Brasil.”

Ela diz que o acervo não corria risco hospedado no site da Fundação Biblioteca Nacional, mas “ter um espelhamento, estarem em dois lugares preservados, é uma garantia, uma segurança.”