Macron reconhece violência policial e pede "ética" na ação da polícia
O jornal Libération dedica sua manchete nesta quarta-feira (15) a um tema que há meses causa indignação entre os franceses: a violência policial. Nos últimos dias, três casos de gravidade distinta, todos flagrados em vídeos que viralizaram na internet, fizeram o ministro do Interior, Christophe Castaner, lançar uma advertência aos policiais sobre o dever de terem conduta exemplar. O presidente Emmanuel Macron também pediu propostas rápidas para melhorar a ética policial.
No início do ano, um motoqueiro de 42 anos, pai de cinco filhos, que trabalhava como entregador, morreu depois de passar por uma blitz violenta perto da Torre Eiffel. No bate-boca com os policiais, ele foi jogado no chão e imobilizado na altura do tórax. O homem teve um ataque cardíaco e morreu horas mais tarde. A autópsia revelou que ele foi vítima de asfixia e teve a "laringe fraturada". O Ministério Público de Paris abriu uma investigação judicial por "homicídio culposo".
Outro vídeo que viralizou na internet - e deixou o primeiro-ministro, Edouard Philippe, constrangido durante uma entrevista na TV - mostra policiais dando uma rasteira pelas costas em uma mulher, depois dela participar de uma manifestação contra a reforma da Previdência em Toulouse (sul). O terceiro incidente, perigoso para a vítima, mostra um policial disparando um tiro de borracha à queima roupa em um manifestante, o que é proibido.
Libération recorda que há mais de um ano, desde o início do movimento dos coletes amarelos, a França registra um número elevado de cidadãos mutilados ou mortos por uso de força abusiva da polícia. Mas os sindicatos de agentes se insurgem diante das críticas, alegando que os policiais são alvejados nos protestos, estão exaustos depois de trabalhar durante meses sob forte tensão, acumulam centenas de horas extras sem repouso, ou seja, trabalham num ritmo acima do suportável. Os suicídios na polícia de fato aumentaram no último ano.
Armas de guerra
Entrevistado pelo Libération, o advogado Raphael Kempf diz que a polícia francesa passa por um "processo de militarização" que deve ser revisto com urgência. Ele defende a suspensão do uso de armas perigosas pelos agentes que fazem o policiamento urbano, como o lançador de balas de borracha LBD 40 e as granadas de gás lacrimogêneo GLI-F4. Esses equipamentos, apresentados como defensivos, são armas de guerra, destaca o advogado. Kempf defende uma mudança radical de doutrina na ação da polícia, de modo a evitar o corpo a corpo entre policiais e a população.
O jornal francês compara a metodologia usada pela polícia na Alemanha. Para os alemães, os protestos na França se assemelham a uma guerra civil, o que é incompreensível, ressalta o texto. De acordo com o Libération, os policiais alemães são treinados para uma ação preventiva. Antes das manifestações, eles estabelecem contato com os organizadores para detectar possíveis problemas. A estratégia do diálogo, e não a da escalada da violência, deve prevalecer sobre a ação brutal, conclui o diário progressista.
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