Topo

Esse conteúdo é antigo

Grau de imunização gerada pelo coronavírus é enigma para cientistas, mostram estudos do Pasteur

iStock
Imagem: iStock

24/04/2020 12h31

Os resultados de dois estudos divulgados esta semana pelo Instituto Pasteur, na França, confirmam que ainda é impossível para os cientistas determinar por quanto tempo dura a imunização contra o coronavírus SARS-CoV-2, que matou até agora pelo menos 190 mil pessoas em todo o mundo, pouco mais de 21.850 apenas na França.

Os cientistas do Pasteur avaliaram testes sorológicos que servem para identificar a presença de anticorpos contra o vírus. Eles também analisaram a contaminação em um dos primeiros focos da covid-19 no território francês, no departamento do Oise, ao norte da região parisiense. A amostra reuniu 661 voluntários do colégio Jean de la Fontaine, na localidade de Crépy-en-Valois (departamento do Oise, norte), onde foram registrados dois casos da covid-19, incluindo o de um professor de tecnologia que morreu da pneumonia viral em 26 de fevereiro. Ele tinha 60 anos.

Os voluntários foram divididos em dois grupos: um deles com 320 alunos, professores e funcionários administrativos do colégio; e um segundo grupo, de 341 pessoas, composto de familiares dos estudantes. Os testes sorológicos revelaram que 26% das pessoas tiveram "contato" com o vírus, e 17% dos infectados não apresentaram sintomas. A presença de anticorpos foi bem maior, 40,9%, no grupo de estudantes, professores e funcionários do colégio, contra apenas 10,9% nos pais e irmãos dos adolescentes.

Os pesquisadores utilizaram testes com selo de conformidade europeia (CE), mas chegaram à conclusão que para serem confiáveis, os testes de verificação de imunidade contra o coronavírus ainda requerem uma avaliação rigorosa das agências sanitárias. Por enquanto, a França só validou a compra de 5 milhões de testes do laboratório americano Abbott.

Em entrevista ao Le Monde, Odile Launay, diretora do centro de pesquisa clínica de vacinas do Hospital Cochin e do Instituto Pasteur, ambos em Paris, explica que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 aparecem precocemente, antes da infecção gerar sintomas. No estudo realizado no colégio de Crépy-en-Valois, anticorpos foram detectados entre o quinto e o sexto dia após o contágio, mas a capacidade deles bloquearem a ação do novo coronavírus se manifestou de sete a 14 dias depois da manifestação de sintomas.

Um ilustre desconhecido

A imunidade contra um vírus costuma ser apreciada pela quantidade de anticorpos capazes de bloquear sua ação presentes no soro. No caso da covid-19, virologistas franceses dizem que ainda há muitas incertezas. Ainda não está comprovado que todas as pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 produzam anticorpos. Segundo Launay, especialista em infecções tropicais, não está claro se pessoas que apresentam poucos sintomas produzem anticorpos, e, em caso positivo, em qual quantidade.

O grau de proteção do organismo diante de um vírus só pode ser determinado ao longo do tempo. Para a maioria deles, os especialistas consideram uma pessoa imunizada quando depois da primeira infecção, ela passa dois anos apresentando anticorpos nos exames sorológicos, sem desenvolver novamente a doença. Para seis tipos de coronavírus humanos estudados anteriormente, esse prazo é de dois a três anos no máximo. Quanto ao SARS-CoV-2, os cientistas ainda ignoraram esse prazo.

Na Coreia do Sul, especialistas reportam casos que testaram positivo para o coronavírus num primeiro momento e depois negativaram. Não foi possível estabelecer se foram falsos negativos, se a pessoa se contaminou novamente ou se SARS-CoV-2 fica escondido num reservatório do organismo antes de reaparecer.

Até o momento, nenhuma vacina foi encontrada para as sete cepas de coronavírus humanos. Os cientistas ignoram se os anticorpos são capazes de proteger a pessoa do desenvolvimento da Covid-19. Uma vacina costuma estimular o sistema imunológico em geral, não apenas a produção de anticorpos. Mas no caso da Covid-19, persistem muitas interrogações sobre o modo de funcionamento do vírus.

"Uma vacina não é para amanhã", estima a especialista em doenças tropicais Odile Launay.