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Campanha tenta emplacar cacique Raoni como próximo prêmio Nobel da Paz

Após internação por covid-19, cacique Raoni tem alta hospitalar - Nicolas Tucat/AFP
Após internação por covid-19, cacique Raoni tem alta hospitalar Imagem: Nicolas Tucat/AFP

30/09/2020 15h49

Os 305 povos indígenas do Brasil enfrentam uma situação desoladora: a pandemia do coronavírus se soma ao avanço do desmatamento, a queimadas nas regiões da Amazônia e do Pantanal e ao aumento na invasão de suas terras. Para dar visibilidade à luta por sua sobrevivência e pela do ambiente, o cacique Almir Narayamoga Suruí conta que os indígenas retomaram a campanha para alçar o cacique Raoni ao prêmio Nobel da Paz. "Seria muito importante para os povos indígenas", diz, em entrevista à RFI.

O líder da terra indígena Sete de Setembro, localizada entre Mato Grosso e Rondônia, conta que seu povo está há meses fazendo seu próprio lockdown para controlar o avanço da pandemia do coronavírus em seu território. Mesmo assim, o povo pater-suruí contou 200 contágios e perdeu quatro pessoas.

Nessa conversa, o cacique explica como seu povo está organizando campanhas para poder comprar produtos de limpeza e outros itens necessários para manter seu confinamento sem ajuda do governo federal.

Em resposta ao discurso de Jair Bolsonaro feito às Nações Unidas, em que o presidente brasileiro afirma proteger a Amazônia e os povos da floresta, Almir retruca: "Aqui não tem nenhum tipo de ação [do governo federal] que protege meio ambiente, biodiversidade ou os povos indígenas".

RFI - Qual a situação da pandemia na Terra Indígena Sete de Setembro?

Almir - Aqui temos uma situação critica, ainda muito grave. Tivemos 200 pessoas positivas [para o coronavírus] e quatro mortes. Com essa pandemia, também veio o aumento do desmatamento da floresta, queimadas, coisas que vem prejudicando nossa vida. Está muito difícil com este governo, que acusa os povos indígenas de não fazerem nada pela floresta, mas nós fazemos.

RFI - E como vocês estão fazendo para enfrentar esta situação? Vocês têm tido algum apoio do governo federal?

Nós estamos fazendo lockdown. Temos uma campanha [financeira] do povo paiter-suruí para permanecermos no lockdown. E não temos tido muito apoio neste nível, para comprar as coisas que não temos dentro da floresta. Em medida emergencial, tivemos apoio de algumas instituições e também doações individuais. Isso ajudou até agora, mas estamos há seis meses em isolamento social, então estamos ainda buscando esse tipo de apoio [financeiro] para poder continuar.

RFI - O que vocês mais precisam neste momento?

Alimentação e material de limpeza [contra o coronavírus], estamos fazendo uma escala de quem pode sair para fazer as compras. Mas precisamos também que o governo ajude a proteger o nosso território porque odesmatamento aumentou, a queimada aumentou, invasão de garimpeiros dentro do território paiter-suruí cresce cada vez mais. E isso é muito, muito perigoso.

Isso está relacionado com o que o presidente do Brasil diz. Ele fala que pode desmatar, que não precisa proteger os indígenas, então é um discurso do presidente que incentiva esse tipo de invasão, de desmatamento dentro do território. E ele ainda acusa os povos indígenas como principais responsáveis por isso acontecer, o que não é verdade.

RFI - Nas Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil é alvo de desinformação em relação ao que acontece na Amazônia e no Pantanal e disse que protege as populações indígenas. Como você reage a essa fala?

É lamentável ouvir esse tipo de discurso. Aqui não tem nenhum tipo de ação [do governo federal] que protege meio ambiente, biodiversidade e os povos indígenas. Ele tem um discurso discriminatório contra povos indígenas. Ele está mentindo, é vergonhoso para nós que o presidente do Brasil faça esse tipo de declaração contra o meio ambiente.

RFI - Vocês participam de alguma campanha internacional para alertar sobre a situação dos povos indígenas?

Sim, o movimento indígena do Brasil está fazendo, com a Apib [Articulação dos Povos Indígenas do Brasil]. Inclusive estamos atualmente apoiando a mobilizando a opinião pública para uma campanha para que o cacique Raoni seja eleito como prêmio Nobel da Paz em 2020. Eu vou participar de uma live em um evento internacional apoiando sua candidatura.

Seria muito importante para os povos indígenas esse [prêmio]. Ele pode ajudar muito nossos povos com sua luta. A gente precisa dessa compreensão dos avaliadores.