Ultraortodoxos de Israel continuam a desafiar regras para conter a pandemia
Israel começa a desaceleração das medidas de restrição após quatro semanas de confinamento que serviram para mostrar ao país o que analistas consideram o maior exercício de desobediência civil de sua história: a recusa da comunidade ultraortodoxa judaica em seguir as regras para se proteger da Covid-19.
Mikel Ayestaran, correspondente da RFI em Israel
Grandes setores da comunidade ultraortodoxa, os mais afetados pela pandemia, não respeitaram as medidas impostas pelo Ministério da Saúde de Israel durante o confinamento e continuam a ignorá-las durante a flexibilização das medidas de restrição.
Houve confrontos violentos com as forças de segurança em bairros ortodoxos de Jerusalém como o Mea Shearim, ou cidades como Modiim Ilit ou Bnei Brak, fora de Tel Aviv, onde vivem cerca de 200.000 habitantes, muitos deles ultraortodoxos e a maioria deles com recursos escassos.
"Os agentes tentam fazer cumprir as medidas, falam com os rabinos para que não façam reuniões em massa e multam as pessoas que não usam máscaras e não mantêm distância", disse o porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, à RFI.
Contra o judaísmo
As escolas em Israel estão fechadas, mas dezenas de milhares de jovens ultraortodoxos se dirigem a seus centros de estudo judaicos todos os dias, alheios à proibição dos Ministérios da Saúde e da Educação.
"Isso é totalmente contra o judaísmo porque no judaísmo a base é que a vida é o mais sagrado de tudo, antes das orações e antes de todas as obrigações", disse o rabino conservador Uri Ayalón à RFI. Estima-se que, em 2030, os ultraortodoxos representarão 16% da população judaica de Israel e, em 2065, a porcentagem aumentará para 40%.
Os homens não trabalham porque devem dedicar suas vidas ao estudo da Torá. Para a indignação dos israelenses seculares, que arcam com uma pesada carga tributária, os ultrarreligiosos também desfrutam de uma ampla gama de subsídios e a maioria não presta serviço militar obrigatório.
"Netanyahu não fará nada contra eles porque seu interesse é manter o governo", disse Ayalón, referindo-se ao fato de que os dois partidos políticos que representam os ultraortodoxos são fundamentais para a manutenção do governo. "A paciência da maioria da sociedade se esgota ao ver que há discriminação a favor de quem faz o que quer", acrescenta Ayalón.
A prioridade dos rabinos é manter a coesão dessa comunidade ultraortodoxa, mas o preço a pagar em meio à pandemia é a saúde de um país inteiro.
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