Alemanha é criticada por falhas na aquisição de vacinas contra a covid-19
Uma semana depois do início da campanha de vacinação contra a covid-19, a Alemanha debate sobre as possíveis falhas na compra de vacinas. Especialistas e políticos acusam o governo e a União Europeia de não terem assegurado o fornecimento de doses suficientes de imunizante.
Especialistas e políticos, não apenas da oposição, dizem que a Alemanha está atrasada com a vacinação em comparação com outros países. O debate veio à tona depois de uma entrevista em que o fundador da BioNTech afirmou que a UE (União Europeia) demorou a fazer sua encomenda à empresa.
Como membro do esquema de aquisição de vacinas da UE, a Alemanha depende da autorização da vacina pelos reguladores europeus. Mas a UE demorou mais do que nações como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá para aprovar o imunizante da parceria entre a alemã BioNTech e a americana Pfizer.
Até agora, apenas esta vacina é permitida na UE, que encomendou 300 milhões de doses no meio deste ano, na crença de que mais alternativas de vacinas estariam logo disponíveis, o que não aconteceu ou, pelo menos, não tão rápido quanto se esperava. O bloco deve dar o sinal verde para o produto da americana Moderna nesta semana.
O tom das críticas é que ambos os imunizantes - tanto da Pfizer/BioNTech quanto da Moderna -, foram encomendados muito tardiamente pela UE. Somente em novembro, depois de o bloco ter feito grandes encomendas junto à Sanofi, Johnson & Johnson e AstraZeneca, é que os contratos com a Pfizer/BioNTech e Moderna foram assinados. A quantia reservada para toda a UE é relativamente pequena: ao todo, 300 milhões de doses da Pfizer/BioNTech e 160 milhões de doses da Moderna.
A título de comparação, os Estados Unidos, com seus cerca de 330 milhões de habitantes, já tinham fechado contratos em julho assegurando 600 milhões de doses da Pfizer/BioNTech e 500 milhões de doses da Moderna. Ambas as companhias já haviam apresentado resultados de estudos bastante promissores.
As autoridades europeias e alemãs alegam que em meados do ano, quando as encomendas foram feitas, ninguém sabia ainda qual das vacinas ficaria pronta mais rápido. Por isso a estratégia foi "pulverizar" as encomendas entre as seis ofertas que pareciam mais promissoras.
As autoridades da UE também afirmam que o gargalo de fornecimento não é relacionado à quantidade da encomenda, mas às capacidades de produção, e que isso se aplica também ao inoculante da parceria entre o laboratório americano e do grupo alemão.
Campanha de vacinação
Até o momento, 1,3 milhão de doses da vacina da Pfizer/BioNTech chegaram aos estados alemães. Com elas, devem ser imunizados inicialmente os residentes de lares de idosos, pessoas com mais de 80 anos, assim como profissionais de saúde.
O Instituto Robert Koch anunciou ontem ter registrado a aplicação de cerca de 238 mil vacinas, mas ressaltou que, devido a atrasos nas transmissões de dados, o número real é provavelmente maior.
O ministério da Saúde alemão aponta que a responsabilidade pela aplicação dos imunizantes na população é dos estados federais alemães.
A maioria da primeira leva de doses está sendo aplicada em idosos e em asilos. Os residentes muitas vezes não têm mobilidade, fazendo com que sejam necessárias equipes de vacinação móveis que têm de ir até os asilos. Isso leva mais tempo do que uma vacinação em massa realizada em centros de vacinação. Também estão previstas consultas médicas curtas antes das injeções, e isso contribui para a morosidade no processo.
O governo alemão tem como meta imediata a vacinação de todos os moradores de casas de repouso até o fim deste mês.
Estratégia falha da UE
No total, a UE tem direitos de compra para quase dois bilhões de doses de vacinas, teoricamente mais do que suficiente para imunizar os 450 milhões de habitantes na UE. O problema é que até agora, apenas a Pfizer/BioNTech tem a aprovação da UE.
A vacina da farmacêutica francesa Sanofi, por exemplo, de quem a UE encomendou 300 milhões de doses, só deve estar pronta no fim desse ano, tarde demais para ajudar a atual situação dramática da Europa, que já conta com milhares de mortos diariamente pelo coronavírus.
Críticos afirmam que o bloco europeu não somente foi lento, como tentou economizar no lugar errado. Possivelmente por medo de encomendar milhões de doses de vacinas supérfluas, a decisão foi encomendar uma menor quantidade. Enquanto a comissária da Saúde europeia, Stella Kyriakides, afirma que os europeus não deveriam apostar tudo numa mesma carta, críticos dizem que o certo era investir igualmente em todas as possibilidades, ou pelo menos em muitas delas.
Um dos argumentos dos críticos é que o custo disso teria sido pequeno em comparação com os danos econômicos causados pela pandemia. De acordo com um cálculo da revista Der Spiegel, se a UE tivesse encomendado 900 milhões de doses dos imunizantes da Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca/Oxford - o suficiente para vacinar todos os cidadãos da União com duas injeções cada um — gastaria um total de cerca de € 26 bilhões.
Para efeito de comparação, o governo alemão sozinho pagou mais de € 30 bilhões em novembro e dezembro para ajudar empresas que foram forçadas a interromper as atividades na Alemanha. De acordo com uma estimativa de um instituto especializado em análise do mercado de trabalho citado pela Der Spiegel, a economia alemã perde cerca de € 3,5 bilhões a cada semana de lockdown.
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