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Medidas restritivas para conter pandemia diminuem criminalidade em Paris

Ataques a pessoas caíram 16%, os delitos contra o patrimônio, 27% e a ação dos batedores de carteiras foi reduzida em até 30% - Getty Images
Ataques a pessoas caíram 16%, os delitos contra o patrimônio, 27% e a ação dos batedores de carteiras foi reduzida em até 30% Imagem: Getty Images

05/02/2021 11h19

A redução da circulação de pessoas em Paris para conter a pandemia da covid-19 parece evitar mais que novas contaminações. A violência também caiu drasticamente na capital francesa. Mesmo assim, os números sobre o ano de 2020, recém-publicados pela polícia local, ainda apontam a cidade como uma das mais perigosas do país. Sob o título "O novo mapa da criminaliadde em Paris", o jornal Le Monde revela, nesta sexta-feira (05), o quadro de violência em todos os bairros da capital.

O artigo abre a discussão descrevendo uma cena considerada "banal" na cidade: a abordagem pela polícia no último sábado (30) de um grupo de cerca de 15 adolescentes portando diversos bastões e pedaços de madeira. Cenário que se repetiu recentemente, quando câmeras de segurança registraram, em meados de janeiro, o espancamento de Yuriy, de 15 anos, também por um grupo de adolescentes.

Brigas, roubos, furtos, estupros, tráfico: a criminalidade continua alta na capital, afirma o texto. Mas, ao esvaziar Paris de seus turistas e muitas vezes colocar em quarentena seus habitantes, a crise sanitária diminuiu a criminalidade. Os ataques a pessoas caíram 16% e os delitos contra o patrimônio, 27%. A ação dos batedores de carteiras foi reduzida em até 30%, enquanto os assaltos à mão armada despencaram 39%. Estes são resultados históricos, enfatiza o diário francês. Apenas os furtos a empresas e lojas aumentaram, 40%, com alguns ladrões "tendo que recorrer" ao assalto de caixas de pequenos negócios que permaneceram abertos, principalmente farmácias.

Apesar do declínio da violência, Paris continua sendo mais perigosa do que as outras cidades francesas. Em 2020, por exemplo, ocorreram 111,3 mil roubos sem agressão contra as pessoas, ou 51 por mil habitantes, um recorde nacional. Isso é seis vezes mais do que a média francesa. O Ministério do Interior observa que, na França, "cerca de um em cada cinco roubos não violentos ocorre em Paris".

A crise mudou a geografia da criminalidade. O número de incidentes diminuiu muito mais do que a média no 9º distrito (arrondissement), bairro de Paris que abriga as lojas de departamentos, atualmente abandonadas pelos turistas internacionais, assim como no 11º arrondissement.

Substituir a polícia

A alta criminalidade alimenta a sensação de insegurança e leva alguns habitantes a quererem "substituir a polícia". Em Porte de Champerret, ao norte da cidade, moradores de um conjunto habitacional de baixo custo se organizaram em um coletivo, ameaçando "tomar medidas" contra pequenos crimes. Um delegado do bairro conta ter "recebido um homem que queria formar uma milícia".

Depois do episódio com o adolescente Yury, o subprefeito do 15° arrondissement, onde ocorreu a agressão, conseguiu a instalação de dez câmeras de vigilância adicionais. Ele agora pede que seu bairro possa se beneficiar de mais contingentes da política municipal, atualmente reservada a oito bairros mais populares.

Dois distritos de Paris permanecem particularmente problemáticos. Sozinhos, o setor central (que reúne os quatro primeiros arrondissements) e o 18º arrondissement concentraram 22,5% dos ataques a pessoas ou bens registrados na capital em 2020. "O centro de Paris representa apenas 5% da população, mas cerca de 20% das lojas de alimentos, e muita gente passa por lá todos os dias, principalmente em torno de Châtelet e Les Halles, observa Ariel Weil, o subprefeito local. Isso se traduz em números de criminalidade. "Ele teme que a redução da crise e a volta das habituais multidões às ruas aumentem a criminalidade.

Barbès, La Chapelle, la Goutte-d'Or... Em várias áreas do 18º distrito, os problemas são crônicos. A biblioteca municipal da Goutte-d'Or pode ser um símbolo disso: cercada por traficantes de drogas, alvo de bandidos, teve que fechar diversas vezes em 2020.

Em desespero, a equipe escreveu ao Palácio do Eliseu. Em janeiro, a polícia instalou tropas para vigiar as ruas. "Podemos trabalhar de novo, mas por quanto tempo?", se pergunta o diretor da biblioteca. "Traficantes e vendedores de drogas estão à espreita nas ruas próximas. Há o risco que eles voltem assim que a polícia não estiver mais de serviço".