Milei rompe protocolo diplomático, esnoba Lula e põe Mercosul em xeque
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou sabendo da viagem do argentino Javier Milei ao Brasil pela imprensa, em um gesto que aprofundou o mal-estar entre os dois principais países sul-americanos.
O presidente da Argentina fará parte da conferência organizada em Santa Catarina com as principais lideranças da extrema direita da região e mesmo convidados de fora do continente. O evento ocorre em 6 e 7 de julho.
Lula indicou que não terá um encontro com Milei enquanto o argentino não pedir desculpas pelas ofensas proferidas ainda durante a campanha eleitoral no país vizinho, em 2023. Ainda assim, o protocolo diplomático estabelece que, quando um chefe de Estado realiza uma visita a outro país, seus representantes informem o governo local, mesmo quando não se trata de uma viagem oficial.
No caso de Milei, o argentino ignorou os costumes que tradicionalmente marcam os serviços de política externa. Para completar, foi às redes sociais ofender Lula, uma vez mais.
Não se trata da primeira vez que o argentino age dessa forma. No mês passado, ele viajou à Espanha para apoiar a extrema direita local durante a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. Quando o governo espanhol do socialista Pedro Sánchez ficou sabendo, tentou contato. Mas foi desprezado por Milei.
Na ocasião, o argentino subiu ao palanque dos herdeiros do franquismo na Espanha, o Vox, e acusou Sánchez de ser corrupto. O gesto gerou uma profunda crise diplomática, e Madri convocou de volta sua embaixadora em Buenos Aires, um ato para marcar o descontentamento.
No governo Lula, a ordem é de não reagir às ofensas e ao comportamento de Milei. A avaliação é que o argentino busca justamente a confrontação como forma de criar uma cortina de fumaça diante da profunda crise social em seu país.
Mas fontes próximas ao presidente brasileiro admitem que, dependendo do tom usado pelo argentino, a situação pode ficar insustentável.
O que mais preocupa o governo brasileiro, porém, é a recusa de Milei de participar da cúpula do Mercosul, marcada para 7 e 8 de julho, em Assunção, no Paraguai. A atitude do argentino foi considerada um sinal de que um dos principais países do bloco sul-americano pode não estar comprometido com sua existência.
O Mercosul foi um dos pilares da construção da integração sul-americana, depois da queda das ditaduras na Argentina e no Brasil nos anos 80. Considerado estratégico, o bloco marcou uma nova etapa da relação entre as duas maiores economias da região.
A decisão de Milei de esnobar a cúpula do Mercosul também sinaliza que a ambição de Lula de retomar o processo de integração sul-americana terá sérios obstáculos enquanto Milei estiver no poder.
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