Brasileiros não estão conscientes da gravidade da pandemia, diz presidente da Associação Médica Brasileira
O Brasil vive uma fase crítica da pandemia de covid-19, com um balanço de quase 260 mil mortos, o colapso do sistema de saúde de vários estados, a vacinação avançando lentamente, enquanto muita desinformação é propagada sobre as medidas de prevenção contra a doença. Em entrevista à RFI, o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes, faz um apelo em prol do uso da máscara e pede que a população não desista de lutar contra a pandemia: "A palavra a ser exercitada neste momento é a resiliência".
Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) ontem, o Brasil registrou oficialmente 1 910 mortes por Covid-19 em 24 horas, o pior balanço desde o início da pandemia. Junto com o alto número de mortos e contaminados, os hospitais e UTIs enfrentam superlotação, enquanto não há previsão para a ampliação da vacinação.
"O nosso sentimento é de extrema preocupação. Passado um ano da pandemia, nós que imaginávamos que nesse período já teríamos dias melhores e um cenário mais esperançoso, estamos no pior momento", afirma Fernandes.
Por isso, a AMB lançou um manifesto nesta semana, recomendando o uso de máscara e fazendo um apelo a todos os governantes e gestores públicos para que deem prioridade absoluta à vacinação e às medidas de prevenção contra a doença.
"Através dessas notas que emitimos, tentamos chamar a atenção para questões que são muito simples de serem praticadas e de alta eficácia. Veja que neste último ano jamais alguém ou alguma entidade séria contestou o uso de máscara, de atos simples, como higiene das mãos, do distanciamento social, do isolamento dos contaminados e suspeitos de contaminação", observa.
Para o médico, a população brasileira parece não estar consciente da gravidade da situação. Ele aponta três possíveis motivos para esse comportamento:
"A impressão que eu tenho é que muitas as pessoas pensam que não serão contaminadas. Também acho que há a exaustão: não são só os médicos e os profissionais de saúde que estão exaustos, mas a população também. O terceiro ponto é que imaginávamos no final do ano passado que nessa época estaríamos nos despedindo da pandemia porque nossos números eram declinantes e todos se prepararam para voltar à vida normal. Ou seja, há um descompasso entre a expectativa que a população tinha e a realidade que vivemos", diz.
Fernandes alerta que a situação tende a piorar nos próximos dias e semanas, com o aumento do balanço de vítimas. Segundo ele, a chegada das variantes traz ainda mais incertezas ao prognóstico da pandemia.
"É natural que os vírus sofram mutações e é o que está acontecendo com o coronavírus. Essas novas cepas, ao que tudo indica, são muito mais virulentas do que a anterior, e oferecem evolução para casos mais graves. Além disso, se especula sobre a eficácia das vacinas sobre essas novas cepas. Então, todo esse cenário mostra que esse é o pior momento da pandemia que estamos vivendo", salienta.
Campanha de vacinação
O presidente da AMB elogia o cronograma de vacinação do Brasil, que está imunizando de forma prioritária os profissionais de saúde e as populações mais vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades. No entanto a tarefa se mostra complexa.
"Temos uma população gigantesca e o número de vacinas disponíveis é muito baixo. Vacinamos um percentual pequeno da população - entre 2% e 3%. As notícias, ainda que desencontradas, sobre o número de vacinas que teremos, nos próximos meses, nos deixam claro que não teremos doses suficientes para atender à toda a população brasileira", ressalta.
Para Fernandes, essa lentidão da vacinação no Brasil mostra que a imunização populacional é uma meta ainda longe de ser atingida: uma situação que classifica de "preocupante".
"Acho que as autoridades precisam se debruçar seriamente sobre essa questão. Hoje o mundo todo clama, procura e quer comprar vacina e nós não temos imunizantes disponíveis. Estamos um pouco atrasados na aquisição de vacinas. Portanto, precisamos recuperar o tempo perdido", reitera.
Enquanto não há imunizantes para todos, o presidente da AMB pede que a população seja resiliente e não desista de continuar aplicando as medidas básicas de prevenção. Segundo ele, é preciso que os brasileiros se preparem para dias difíceis.
"Não queremos trazer desalento à população, mas nosso objetivo é mostrar a realidade com a transparência necessária. Não podemos nos enfraquecer e perder as esperanças. Vamos superar a Covid-19, mas não sabemos quando. Provavelmente, chegaremos em 2022 ainda lutando contra a pandemia", conclui.
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