ButanVac, vacina contra Covid-19, traz esperança em contexto de guerra política
O governador de São Paulo, João Doria, anunciou nesta sexta-feira (26) que o Instituto Butantan está desenvolvendo a primeira vacina 100% brasileira, a ButanVac. A expectativa é produzir 40 milhões de doses a partir de maio e iniciar as aplicações em julho, na tentativa de controlar uma epidemia que já matou 300.000 pessoas no país e bateu um recorde de 3.650 mortes em 24 horas. O número acumulado de mortes e infectados no Brasil é o segundo maior no mundo, superado apenas pelos Estados Unidos.
De acordo com o comunicado divulgado pelo Instituto, a autorização para iniciar em abril um ensaio clínico de fase 1 e 2 ainda será solicitada à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A grande vantagem é que o imunizante será totalmente produzido no Brasil, utilizando, segundo o texto, "a fábrica de Influenza do Butantan", que pode "produzir o insumo utilizando a tecnologia de vacina inativada com base em ovo." O vírus utilizado como vetor é o da Doença de Newcastle, que afeta aves e não causa sintomas em humanos.
A iniciativa, segundo o instituto, é resultado de um consórcio internacional. O Butantan produzirá 85% das vacinas e também distribuirá o futuro imunizante, após aprovação nos testes, para outros países de baixa e média renda. "Vacinas inativadas são eficazes contra a Covid-19. Poder entregar mais vacinas é o que precisamos em um momento tão crítico", disse no comunicado Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Butantan. O anúncio não altera a produção local da CoronaVac, em parceria com a China.
O lançamento da ButanVac acontece em um contexto de rivalidade política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, que apresentaram dois projetos de imunizantes com poucas horas de diferença. "A ButanVac é a resposta para quem nega a ciência e nega a vida", disse Doria, em alusão a Bolsonaro, que durante meses questionou medidas preventivas contra a pandemia, e colocou em dúvida a eficácia das vacinas, inclusive à do Butantan, que se recusou a comprar em outubro.
Competição
Na sexta-feira (26) à tarde, o ministro da Ciência, o ex-astronauta Marcos Pontes, disse que o governo federal "tem investido" em uma dezena de projetos de vacinas brasileiras. Na quinta-feira (25), o governo pediu autorização da Anvisa para iniciar os ensaios clínicos com a Versamune-CoV-2FC, desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP). De acordo com o ministro, outras duas vacinas apoiadas pelo governo em breve solicitarão autorização para ensaios clínicos.
Os projetos devem acelerar a vacinação no país, que sofre atrasos na importação de doses e insumos. Até o momento, 12,6 milhões de brasileiros, 5,95% da população, receberam pelo menos uma dose da vacina e 3,92 milhões a segunda. Apenas a chinesa CoronaVac e a britânica AstraZeneca, ambas produzidas no Brasil, estão sendo aplicadas no país.
A agência reguladora de saúde recebeu nesta sexta-feira o pedido de autorização de uso emergencial da vacina russa Sputnik V. A do grupo farmacêutico americano Pfizer já recebeu autorização para seu uso definitivo. O governo anunciou recentemente a compra para este ano de 100 milhões de doses desse imunizante, mas começará a receber as primeiras doses em abril.
(RFI e AFP)
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