Busca por ivermectina contra covid-19 cresce na França e preocupa especialistas
O interesse crescente pelo uso preventivo da ivermectina contra a covid na França preocupa os especialistas. A França estaria vivendo o mesmo fenômeno que com a hidroxicloroquina? pergunta o jornal Le Parisien hoje.
O diário francês define a situação como um "déjà-vu", ou, traduzindo para o português, "já vimos isso antes", em referência ao debate provocado pelo uso de hidroxicloroquina no país. Os especialistas ouvidos pela reportagem relativizam a eficácia do remédio contra parasitas, também chamado de "nova cloroquina", como "tratamento precoce milagroso e barato contra a covid".
Le Parisien conta inicialmente o caso de Antoine, que foi aconselhado por seu médico a tomar ivermectina se fosse positivo para o coronavírus. O remédio evitaria o desenvolvimento de uma forma grave da doença, garantiu o doutor. O problema é que ao chegar à farmácia Antoine soube que a agência francesa de medicamentos havia negado a autorização temporária para a utilização do antiparasita contra a covid. Ele poderia até comprar o remédio, mas não seria reembolsado pelo plano de saúde.
Farmacêuticos não sabem o que fazer
O presidente da Ordem dos Farmacêuticos Franceses, Pierre Béguerie, disse que há dois meses o número de receitas médicas prescrevendo a ivermectina aumentou no país e impressiona os profissionais que se sentem "encurralados". Eles podem se recusar a vender o remédio, mas a decisão de ir contra a recomendação de um médico de confiança do paciente é delicada. "Tivemos exatamente o mesmo problema com a hidroxicloroquina", diz o farmacêutico.
Objeto de um debate acalorado há vários meses, "a ivermectina é defendida na França pelas mesmas pessoas que defendiam a hidroxicloroquina", principalmente políticos populistas da extrema direita, aponta o texto. No Twitter, a hashtag #BeBraveWHO (OMS Seja Corajosa) se espalhou para pressionar a Organização Mundial da Saúde a reconhecer o antiparasita como tratamento contra a covid.
No setor médico, o maior defensor da "nova cloroquina" na França é o cirurgião aposentado Gérard Maudrux, que é urologista, ressalta a reportagem. Para provar a eficácia da ivermectina, o médico cita um estudo realizado em quatro hospitais na Argentina, onde 800 profissionais da saúde que tomaram preventivamente o remédio não foram contaminados. Estes estudos convencem e hoje, a República Tcheca e a Eslováquia, na Europa, e vários países da América do Sul autorizam de maneira provisória o tratamento contra o novo coronavírus, informa o diário.
Falta de estudos sólidos
Mas o Le Parisien alerta que nenhum dos especialistas que consultou considera a ivermectina "uma pista séria". Eles questionam a falta de estudos sólidos sobre a ação do antiparasita contra a covid.
O epidemiologista Dominique Costagliola, entrevistado pelo jornal, diz que existem atualmente várias pesquisas, mas todas são "pequenas, não muito bem feitas, baseadas em um número muito reduzido de pacientes, de doses e de duração de tratamento. Os procedimentos variam muito entre elas, impossibilitando qualquer comparação".
Se o antiparasita não evita a contaminação, ele poderia ajudar a combater a infeção provocada pelo vírus? "Eu seria o primeiro a adotar um tratamento barato e mais eficaz, mas duvido fortemente que a ivermectina seja este remédio", declarou o professor Yazdan Yazdanpanah.
Além das Agência Francesa de Medicamentos, a Agência Europeia de Medicamentos e a OMS também não recomendam o uso precoce de ivermectina contra a covid. Apesar de todas as advertências, a "nova cloroquina" continua muito popular, conclui Le Parisien.
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