Estudo francês acompanhará evolução da Covid longa em pacientes durante dez anos
Um grupo de pesquisadores da rede de hospitais públicos de Paris iniciou um estudo para avaliar a gravidade da Covid-19 e seu impacto na vida dos doentes. Os pacientes, normalmente portadores de doenças crônicas, fazem parte de uma comunidade que responde com frequência a questionários preparados pelos médicos sobre suas condições de vida, uso de medicamentos e outros temas.
A RFI Brasil conversou com o pesquisador Viet-Thi Tran, do Centro de Epidemiologia Clínica do Hospital Público de l'Hôtel-Dieu, em Paris, um dos responsáveis pela pesquisa. Segundo ele, o objetivo foi padronizar a definição da Covid longa, a partir da descrição dos pacientes. "Vários estudos foram feitos sobre a Covid longa e os resultados são muito diferentes", ressalta Tran.
Essas diferenças, diz, podem ser explicadas pelo contexto, país onde os dados foram recolhidos e até mesmo pelo momento escolhido para realizar a pesquisa. "Hoje, para saber se as pessoas têm sintomas persistentes seis meses depois de terem contraído o vírus, utiliza-se uma lista de sintomas. Se os pacientes têm um deles, são diagnosticados com a Covid longa", detalha Tran.
Há variação também no número de sintomas utilizados nas pesquisas, frisa. "A heterogeneidade do que é usado para analisar os casos e do que consideramos como parte da Covid longa ou não muda os resultados", reitera. Segundo a OMS, entre 10 e 15% dos contaminados desenvolveram a doença, o que corresponderia a mais de 11 milhões de pessoas no mundo.
Na primeira fase do estudo da rede hospitalar pública parisiense, no ano passado, os pesquisadores interrogaram 492 pacientes. A média da idade dos participantes era de 45 anos e 84% eram mulheres. A presença dos sintomas relacionados à contaminação pela Covid-19 já durava pelo menos 3 semanas após a contaminação.
No total, foram relatados 53 sintomas, que afetaram a vida familiar e profissional.
"Os primeiros resultados que temos no estudo sobre a Covid longa é, dessa forma, a definição dos sintomas que são importantes para os pacientes e pertinentes do ponto de vista deles, além da análise sobre o impacto da doença na vida das pessoas", salienta Tran. "Temos alguns resultados sobre até que ponto isso os incomoda, mas o que fizemos, principalmente, foi um trabalho de definição da doença."
De acordo com o epidemiologista, o sintoma mais frequente relatado pelos pacientes, pela ordem, foi cansaço, em níveis diferentes, dores de cabeça e dificuldades de concentração. Os participantes também descreveram dores nas articulações, falta de fôlego e até mesmo problemas digestivos.
Na segunda fase da pesquisa, realizada entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, os cientistas utilizaram os resultados para desenvolver um questionário para medir a severidade da doença e seu impacto na vida dos doentes.
As perguntas foram em seguida submetidas a um grupo de 1022 pessoas - 79% são mulheres e 12% foram hospitalizados. O estudo mostrou que 77% deles consideraram as consequências da doença "insustentáveis" e 48% declararam não serem mais capazes de realizarem certas atividades em casa ou no trabalho.
O estudo também levou em conta sintomas duradouros de pacientes que foram hospitalizados, inclusive em unidades de terapia intensiva (UTIs). A Covid longa, diz, designa todos os sintomas que aparecem após uma contaminação. Eles podem incluir sequelas nos órgãos, stress pós-traumático, cansaço crônico, persistência viral e consequências imunitárias variadas.
O problema, diz o epidemiologista, não é somente o reconhecimento administrativo da patologia, mas também a visão dos profissionais da saúde em relação à questão, que muitas vezes podem considerar a Covid longa como algo menos grave do que patologias graves, como uma fibrose pulmonar, por exemplo. "O conjunto de recomendações, na França e outros países, insistem na multidisciplinaridade, que visa ouvir o paciente, e acompanhá-lo em sua vida, propondo uma reeducação." ElE lembra que, atualmente, o tratamento contra o Covid longo é apenas sintomático.
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