Sangue ou solo: Na Itália, Olimpíada reacende discussão sobre o direito à cidadania
Com 40 medalhas conquistadas na Olimpíada de Tóquio, a Itália poderia estar comemorando seu recorde de conquistas, obtido com ajuda de atletas nascidos no exterior. No entanto, a exposição internacional dos esportistas reacendeu o debate sobre as condições de acesso à cidadania italiana e a dificuldade de atletas nascidos no território europeu em obter a nacionalidade.
No centro das discussões, o velocista Lamont Marcell Jacobs, que ganhou o ouro ao vencer a rápida corrida de 100m. Nascido no Texas, Jacobs é filho de uma italiana com um norte-americano e correu pelas cores do país europeu, ajudando a Itália a conquistar duas medalhas e ultrapassar as 36 conquistadas em 1932 e em 1960.
O chefe do Comitê Olímpico italiano, Giovanni Malago, lembrou que a conquista poderia ser ainda maior se não fosse o pesadelo administrativo que enfrentam atletas que gostariam de defender as cores da Itália mas não têm a nacionalidade oficial.
O problema é que no país a cidadania é obtida por direito de sangue e não de solo, ou seja, quem nasce na Itália não é necessariamente italiano, mas um filho de italiano, como Jacobs, pode ter a cidadania mesmo nascendo nos Estados Unidos.
Já as crianças nascidas na Itália com pais estrangeiros têm que esperar até o 18º aniversário para poder exigir o direito à nacionalidade, um percurso cheio de obstáculos que pode durar até quatro anos, segundo Giovanni Malago.
Em Tóquio, 46 dos atletas que representaram a Itália nasceram em outros países.
Contudo, a campeã de salto com vara Greta Nnachi, de 17 anos, não pôde ter suas apresentações reconhecidas sob as cores italianas. Apesar de ter nascido em Turim, cidade do Norte da Itália, Nnachi é filha de nigerianos.
"Embora eu seja italiana, não posso representar meu país", disse ela ao jornal La Stampa. "Sou campeã italiana, mas não posso defender isso fora do país".
Conforme a agência nacional de estatísticas (Istat), cerca de 800.000 menores na Itália obteriam a cidadania italiana se o direito à terra fosse adotado, além de 60.000 novos recém-nascidos por ano.
Extrema direita não aceita ampliação do debate
A Ministra do Interior Luciana Lamorgese reconheceu a validade dessas críticas, desencadeando a ira do líder de extrema direita Matteo Salvini, que pediu que ela se concentre nos controles fronteiriços contra migrantes em vez de defender o direito à terra.
A resposta da extrema direita coloca em destaque o aumento da entrada de migrantes no país. De acordo com o Ministério do Interior, mais de 31.000 migrantes desembarcaram nas costas italianas desde janeiro, total duas vezes maior que o acumulado no mesmo período de 2020.
(Com informações da AFP)
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