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Sem oposição, Ortega é reeleito para quarto mandato na Nicarágua com 75% dos votos

Apoiadores de Daniel Ortega erguem uma bandeira da FSLN enquanto comemoram sua reeleição na Victoria Square, em Manágua - Oswaldo Rivas/AFP
Apoiadores de Daniel Ortega erguem uma bandeira da FSLN enquanto comemoram sua reeleição na Victoria Square, em Manágua Imagem: Oswaldo Rivas/AFP

08/11/2021 08h02

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, foi reeleito para um quarto mandato de cinco anos, com 75% dos votos, segundo resultados oficiais parciais divulgados hoje pelo tribunal eleitoral do país. Os dados se baseiam na apuração de cerca de 49% dos locais de votação. A taxa de participação foi, até agora, de 65,34%. As eleições de ontem foram qualificadas de "farsa" pelo presidente americano Joe Biden.

Em segundo lugar, com 14,4% dos votos, chegou o liberal Walter Espinoza, de acordo com a presidente do tribunal, Brenda Rocha. Espinoza é acusado pela oposição de ser aliado de Ortega.

Mais cedo, o observatório Urnas Abertas, próximo à oposição, afirmou que a taxa de abstenção alcançou 81,5%, segundo 1.450 observadores não autorizados em 563 locais de votação. Mesmo sem resultados oficiais, simpatizantes de Ortega festejaram durante a noite, em vários bairros da capital Manágua.

Após eleições polêmicas, com sete opositores detidos, Ortega, que chegou ao poder pelas urnas em 2007 e completará 76 anos na quinta-feira (11), continuará na presidência e liderando a FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional), ao lado da influente Rosario Murillo (70), sua esposa, candidata à vice-presidência pela segunda vez.

O ex-guerrilheiro, que também governou o país nos anos 1980, depois que a FSLN derrubou em 1979 o ditador Anastasio Somoza, enfrentou cinco candidatos, desconhecidos e classificados como colaboradores do governo. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou de "farsa" as eleições, e a Costa Rica - vizinha da Nicarágua - não reconheceu o pleito, enquanto o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reiterou apoio a Ortega. Os 4,4 milhões de eleitores também definiram os 90 deputados do Congresso.

A votação, com 30.000 militares e policiais nas ruas, aconteceu sem incidentes, mas a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) citou no Twitter relatos de "detenções arbitrárias, assédio e restrições à imprensa". As eleições acontecem três anos e meio após os protestos de 2018 que exigiram a renúncia de Ortega. A repressão deixou pelo menos 328 mortos e mais de 100.000 exilados, o que provocou uma grande crise no país de 6,5 milhões de habitantes da América Central.

Em uma ofensiva nos últimos meses contra a oposição, três partidos foram considerados ilegais. Sete aspirantes à presidência e 32 ativistas sociais políticos, empresários e jornalistas foram detidos. Desde 2018, 120 opositores foram presos. Depois de votar, Ortega chamou os opositores de "terroristas" e "demônios" que conspiraram para impedir as eleições. "Neste dia, desafiamos aqueles que promovem o terrorismo, financiam a guerra, aqueles que semearam o terror e a morte" nos protestos antigovernamentais de 2018, declarou.

Sanções

"Estavam conspirando, não queriam realizar estas eleições", justificou o presidente. "Semeiam morte, ódio e terror. São demônios que não querem a paz", afirmou.

De acordo com leis aprovadas em 2020, os detidos foram acusados de atentar contra a soberania, promover sanções internacionais, "traição à pátria" ou "lavagem de dinheiro", como é o caso da principal aspirante de oposição à presidência, Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997) e que está em prisão domiciliar. Ortega é acusado pelos críticos de "nepotismo" e de instaurar uma "ditadura". Ele chama os opositores de "golpistas" patrocinados por Washington.

A comunidade internacional já havia criticado as eleições por considerá-las não democráticas. Estados Unidos e UE anunciaram sanções ao círculo íntimo de Ortega. Biden assinará um arsenal de medidas, com base na lei 'RENASCER', para aumentar a pressão sobre o governo de Ortega. A situação na Nicarágua será debatida esta semana na Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que pode suspender o país do bloco regional. Analistas advertem que um isolamento vai piorar a situação socioeconômica e provocará um novo aumento da migração.

(Com informações da AFP)