Zelensky acusa Rússia de bombardear bairros civis em Kiev e compara ataque a ofensiva nazista
O Exército russo está atacando áreas civis, denunciou nesta sexta-feira (25) o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que elogiou o "heroísmo" de seus compatriotas e afirmou que as tropas estão fazendo "todo o possível" para defender o país da ofensiva russa. Segundo o chefe de Estado ucraniano, áreas residenciais da capital ucraniana, Kiev, estão sendo alvo de bombardeios, inclusive no norte.
"Eles dizem que os civis não são um alvo. Mas esta é outra mentira. Na realidade, eles não fazem distinção entre as áreas em que operam", disse Zelensky em um vídeo. "Esta noite começaram a bombardear bairros civis. Isto nos recorda a ofensiva nazista de 1941", completou na mensagem, divulgada nas redes sociais.
Desde o início dos ataques, pelo menos 137 pessoas morreram, civis e soldados, e 316 ficaram feridas, relatou o presidente ucraniano. Os bombardeios já deixaram 100.000 deslocados.
As forças ucranianas anunciaram que estão combatendo tanques russos em Dymer e Ivankiv, situadas, respectivamente, a 45 km e 80 km de Kiev. O Exército ucraniano afirma que retomou o controle do aeroporto militar de Antonov, em Gostomel, na entrada de Kiev, atacado pelas forças russas.
"Os ucranianos estão demonstrando heroísmo", disse, antes de acrescentar que "nossas forças estão fazendo todo o possível" para proteger a população. "As autoridades russas afirmam que as áreas civis não são alvo das ofensivas, mas essa é apenas uma de suas mentiras. Na realidade, eles não fazem nenhuma distinção", declarou o presidente ucraniano.
Duas fortes detonações foram ouvidas nesta sexta-feira no centro de Kiev, de acordo com jornalistas presentes no local. O Exército ucraniano indicou que "tiros de mísseis visaram Kiev", e dois deles foram destruídos em pleno voo.
Segundo o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, pelo menos três pessoas ficaram feridas, uma delas em estado grave, em um bairro residencial do sudeste da capital. "Os ucranianos estão demonstrando heroísmo", afirmou Zelensky. Ao iniciar a invasão na quinta-feira, os russos "pensavam que nossas forças estavam esgotadas, mas não", declarou.
"Nossas forças estão fazendo todo o possível" para defender a Ucrânia, destacou. Zelensky também afirmou que a Rússia terá de iniciar o diálogo com a Ucrânia, em algum momento, para colocar fim nos combates. "A Rússia terá que falar conosco, mais cedo ou mais tarde. Conversar sobre como acabar com os combates e parar esta invasão. Quanto mais cedo a conversa começar, menores serão as perdas, inclusive para a Rússia", declarou o chefe de Estado ucraniano.
Em uma mensagem aos russos que protestaram contra a guerra na quinta-feira, incluindo centenas que foram detidos, ele declarou: "Aos cidadãos da Federação da Rússia que estão saindo para protestar, nós observamos vocês. E isto significa que vocês nos ouviram. Isto significa que vocês acreditam em nós. Lutem por nós. Lutem contra a guerra".
A invasão russa começou na madrugada de quinta-feira, depois do reconhecimento na segunda-feira da independência dos territórios separatistas rebeldes da região leste da Ucrânia por parte de Vladimir Putin.
Mobilização geral
A Ucrânia decretou nesta sexta-feira uma mobilização geral para tentar frear a ofensiva total da Rússia, que em menos de 24 horas se aproximou da capital, Kiev. Em resposta à invasão, o Ocidente e seus aliados endureceram as sanções econômicas contra Moscou, julgadas insuficientes pelo presidente ucraniano, que lamentou que seu país tenha sido deixado "sozinho" para enfrentar as tropas russas.
A mobilização geral afetará pessoas submetidas ao "serviço militar obrigatório e reservistas" e vigorará por 90 dias, especificou o decreto emitido por Zelensky.
As tropas russas entraram pelo norte, sul e leste do país e tomaram uma base aérea estratégica perto de Kiev, assim como a área da usina de Chernobyl, ainda contaminada pela radioatividade do acidente nuclear de 1986, quando a Ucrânia fazia parte da agora desmembrada União Soviética.
A base aérea de Gostomel caiu após um ataque realizado por soldados desembarcados de helicóptero da vizinha Belarus, país aliado da Rússia, relataram testemunhas. "Os helicópteros chegaram e começaram os combates. Atiravam com metralhadoras e lança-granadas", disse uma das testemunhas, Serguiy Storojouk.
Esse aeródromo pode servir como posto avançado para o lançamento de uma ofensiva contra Kiev, onde, segundo Zelensky, já há "grupos de sabotagens" russos. Na madrugada desta sexta-feira, a capital acordou novamente com fortes explosões, constatou a AFP.
Na região de Sumy (nordeste), na fronteira com a Rússia e não muito longe de Kiev, todos os municípios "estão cercados" e "muitos" veículos blindados russos marcharam em direção a Kiev, disse o governador Serhiy Zhyvytskiy à agência UNIAN.
Rússia comemora "sucesso"
O Ministério da Defesa russo disse que todas as missões neste primeiro dia de operações "foram concluídas com sucesso". A ofensiva foi minuciosamente planejada por Vladimir Putin, que durante semanas enviou mais de 150.000 soldados para as fronteiras com a Ucrânia.
O Exército russo afirmou que destruiu 74 instalações militares, entre elas 11 aeródromos, e que os separatistas estão avançando e assumindo o controle dos territórios. Por sua vez, as Forças Armadas ucranianas estimaram os danos infligidos ao Exército russo em mais de 30 tanques, até 130 veículos de combate, sete aviões e seis helicópteros.
Putin, que exige que a Otan feche suas portas à Ucrânia, garantiu que não busca a "ocupação" desta ex-república soviética, mas "uma desmilitarização e desnazificação" do país e a defesa dos rebeldes pró-russos. Quase 100.000 pessoas fugiram de suas casas e milhares buscaram refúgio no exterior, indicou a ONU.
Olena Kurilo foi ferida por estilhaços de vidro em sua casa, provocados por bombardeios em Chuguev, perto de Kharkov. "Nunca, sob nenhuma condição, vou me render a Putin. É melhor morrer", declarou a professora de 52 anos, com o rosto coberto de bandagens.
Sanções
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou restrições às exportações para a Rússia e às importações de tecnologia do país, bem como sanções contra bancos e magnatas russos. Japão e Canadá decretaram medidas similares contra Moscou. A União Europeia também decidiu adotar sanções com consequências "maciças e severas" contra a Rússia, que terão como alvo os setores financeiro, de energia, transporte, o controle de exportações e restrições de vistos.
O pacote de sanções "aumentará a inflação, acelerará a fuga de capital e afetará progressivamente a base industrial" da Rússia, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O presidente francês, Emmanuel Macron, que conversou com Putin durante o dia para "pedir o fim imediato" da ofensiva, destacou a importância das sanções, mas também de "deixar o caminho aberto" para um eventual diálogo com o líder russo, quando "condições forem reunidas" para tal.
A invasão da Ucrânia afetou os mercados internacionais. O petróleo Brent atingiu US$ 100 o barril pela primeira vez em sete anos e as bolsas europeias despencaram na quinta-feira, embora Wall Street tenha fechado no verde e os mercados asiáticos tenham mantido essa tendência na abertura desta sexta-feira. A moeda russa, o rublo, atingiu seu mínimo histórico em relação ao dólar antes da intervenção do Banco Central russo.
A queda de Chernobyl
O governo ucraniano anunciou a ocupação por tropas russas da usina nuclear de Chernobyl. "Depois de uma feroz batalha, perdemos o controle do local de Chernobyl", disse Mikhailo Podoliak, conselheiro-chefe do gabinete do presidente Volodomyr Zelensky.
Após a perda desta área, ainda altamente contaminada pelo pior acidente nuclear da história, desconhece-se o estado das instalações, da cobertura que isola o reator danificado e de um depósito para combustível nuclear, observou o alto funcionário. "Esta é uma das maiores ameaças à Europa hoje", afirmou ele, que acredita que os russos poderiam organizar atividades de "provocação" no local para culpar a Ucrânia.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) pediu "contenção máxima para evitar qualquer ação que coloque em risco as instalações nucleares do país".
Manifestantes presos na Rússia
A polícia russa deteve em várias cidades cerca de 1.700 pessoas por participarem de manifestações contra a guerra na Ucrânia, segundo a ONG de direitos humanos OVD-info. Nas ruas de Moscou, habitantes manifestavam sua preocupação e outros, apoio a Putin.
"Não estou feliz, estou muito nervoso", disse Nikita Grushin, empresário de 34 anos, afirmando não ter ideia de quem "está certo" nesta crise. "Não vou criticar uma ordem do comandante supremo. Se ele acha que isso é necessário, deve ser feito", declarou Ivan, um engenheiro de 32 anos.
(Com informações da AFP)
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