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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Entre botox e culto à grandeza soviética: Imprensa francesa tenta decifrar personalidade de Putin

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante encontro com o presidente de Belarus em Moscou - Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin/via Reuters
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante encontro com o presidente de Belarus em Moscou Imagem: Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin/via Reuters

11/03/2022 15h43Atualizada em 11/03/2022 18h20

As revistas semanais francesas tentam entender a personalidade do presidente russo Vladimir Putin. Cada uma à sua maneira, as publicações traçam o perfil do chefe de Estado russo e se questionam: quem é realmente o homem forte do Kremlim e até onde ele pode ir?

Para tentar responder a essas perguntas, a revista Les Echos Week-End entrevista Michel Eltchaninoff, autor de "Dans la tête de Vladimir Poutine" (Na cabeça de Vladimir Putin, em tradução livre), uma biografia publicada em 2015. Em um texto intitulado "Putin, o possuído", o escritor conta na revista como se construiu a personalidade do presidente russo, que cresceu marcado pela Segunda Guerra Mundial, mesmo não a tendo vivenciado.

O texto relata como Putin sempre sonhou em ser espião, cultivando uma admiração sem limites pela KGB, o serviço secreto russo, cuja sede ficava perto de sua casa. Mas há também o seu apego à uma União Soviética "invencível". Seu biógrafo explica que o presidente se inspira em vários autores que afirmam que é "a Rússia é muito grande, muito singular e muito orgulhosa para se diluir na Europa".

Por essa razão, em 2014, ele criou, junto com ex-repúblicas soviéticas, como Cazaquistão, Belarus e Quirguistão, a União econômica eurasiática, uma zona de livre comércio fundada para concorrer com a União Europeia. Mas a Ucrânia, que deveria ser um dos elementos centrais do projeto, não integrou a iniciativa, suscitando "a fúria do presidente russo", resume Les Echos Week-End.

Falhas do regime

Já a revista L'Obs se concentra nos pontos fracos da estratégia de Putin nessa guerra para entender seu raciocínio e suas fraquezas. Com o título "Putin pode aguentar até quando?", a publicação explica que o poder do presidente russo se apoia desde sempre na propaganda e na força de seu sistema repressivo.

Mas a invasão da Ucrânia acabou mostrando "as vulnerabilidades de seu regime", avalia a revista. "Com as sanções ocidentais, produtos básicos e medicamentos estão se esgotando em toda a Rússia. E em breve começarão a chegar os caixões de soldados russos mortos na Ucrânia", aponta o texto, chamando a atenção para o impacto da guerra na popularidade do chefe de Estado.

"O mestre do Kremlin teme apenas uma coisa: seu próprio povo", sentencia L'Obs. "Esta é a principal fraqueza de seu regime", continua o texto, lembrando que em 2011 protestos pacíficos nas ruas de Moscou estremeceram as bases de Putin e quase o derrubaram.

Mas é difícil saber exatamente o que passa pela cabeça do presidente russo. Para tentar decifrar o enigma, a revista L'Express pediu a opinião de François Hourmant, autor do livro "Pouvoir et beauté" (Poder e Beleza, em tradução literal), obra que analisa a importância da aparência na política contemporânea.

Culto ao corpo

O especialista explica que a retórica visual de Putin é baseada em um imaginário ligado à autoridade e à virilidade, como provam as fotos do chefe de Estado sem camisa durante uma cavalgada ou nadando em águas geladas, cultivando uma forma de "masculinidade ofensiva" mais exacerbada na Rússia que no mundo ocidental, aponta Hourmant.

Ele lembra que Putin cresceu alimentado por valores soviéticos, contaminado pela propaganda ideológica do comunismo, que pregava o culto do corpo, reforçado por seu passado de militar.

No entanto, a transformação do rosto do chefe de Estado, que muitos afirmam ser o resultado de cirurgias plásticas e muitas injeções, não apenas dão ao presidente formas paradoxalmente mais femininas, como também tornam o personagem ainda mais difícil de entender.

"Este rosto congelado exala uma forma de impassibilidade e está mais inexpressivo do que nunca. É difícil ler emoções por trás de suas feições. Essa impassibilidade, provavelmente em parte ligada ao Botox e à cirurgia estética, o torna ainda mais indecifrável e enigmático", avalia o especialista nas páginas da revista L'Express.