Topo

Governo alemão apresenta projeto para socorrer setor energético com ameaça de corte do gás russo

06/07/2022 06h18

Temendo um corte total do fornecimento do gás russo nos próximos dias e uma consequente recessão econômica na maior economia europeia, o governo alemão apresentou nesta terça-feira (5) um projeto de lei para ampliar os instrumentos governamentais para socorrer o setor energético. A proposta prevê a compra de ações de fornecedoras de gás prejudicadas pela alta dos preços do combustível. A medida é uma resposta à crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. 

Márcio Damasceno,  correspondente da RFI em Berlim

A intenção do governo é tentar diminuir o impacto da redução do abastecimento de gás russo, sobretudo sobre as distribuidoras e importadoras de gás do país. 

A medida abre caminho para que o Estado alemão compre ações da empresa Uniper, que a maior importadora de gás russo na Alemanha. Na semana passada, já surgiam relatos de que o grupo energético estava em conversações com o governo para um resgate financeiro. 

A Uniper está sob intensa pressão econômica por causa dos cortes de gás russo. À medida que a quantidade de gás fornecido diminui, as importadoras na Alemanha têm que encontrar outros fornecedores a preços mais caros, para cumprir seus contratos. E elas não podem repassar o sobrepreço aos clientes.

A Uniper foi severamente afetada pelos cortes do fornecimento russo através do gasoduto Nord Stream 1, que é o de maior capacidade entre Rússia e Alemanha. As reduções recentes de 60% nos suprimentos de combustível por essa via desde meados de junho forçaram o grupo a pagar preços mais altos de outros fornecedores, fazendo com que a companhia acumule prejuízos. 

Efeito dominó

Segundo estimativas oficiais, um pacote de resgate para a Uniper pode custar em torno de 9 bilhões de euros, o equivalente a quase R$ 50 bilhões.

O governo em Berlim teme que a falência da Uniper possa provocar um efeito dominó no mercado de gás alemão. 

Desde junho, a gigante de energia russa Gazprom tem diminuído os volumes de fornecimento de gás para Alemanha através do gasoduto Nord Stream 1, no Mar Báltico. Atualmente, a Alemanha vem recebendo pelo gasoduto menos da metade da quantia que deveria receber.

A alegação para o corte foram os trabalhos de reparo realizado pela empresa alemã Siemens em uma turbina, que atrasaram devido às consequências das sanções ocidentais à Rússia. 

Pausa técnica 

Berlim acusa um motivo político por trás dos cortes e teme uma piora da situação. O governo alemão está se preparando para que isso ocorra já nos próximos dias. 

Na próxima semana começam trabalhos regulares de manutenção no gasotudo Nord Stream 1. E o governo alemão teme que essa pausa técnica no fornecimento, que normalmente é de 10 dias, seja ampliada por motivos políticos para um período muito maior.

O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirma que a justificativa para os cortes no fornecimento de gás é "uma farsa". Ele diz que é uma estratégia de Moscou "para desestabilizar e elevar os preços". O ministro espera que a Rússia restrinja ainda mais o fornecimento, como aconteceu como outros países europeus.

Nas últimas semanas, a Gazprom interrompeu as entregas de gás a vários países europeus que se recusaram a fazer pagamentos em moeda russa, como Dinamarca, Finlândia e Holanda. Também diminuiu o fornecimento à Polônia.

Medo de recessão

Temendo que a Rússia corte todo o fornecimento de gás para a Alemanha, no mês passado, o governo alemão colocou o país na fase 2 de um total de três níveis de alerta do plano nacional de emergência para o abastecimento de gás natural, já preparando consumidores e indústria para um possível racionamento de gás.

O governo determinou que os estoques de gás estejam 90% cheios até o começo de dezembro. Atualmente os estoques de gás estão cheios em 60%. Mas se a Rússia suspender o fornecimento para a Alemanha nos próximos dias, essa meta de 90% dificilmente não vai ser atingida e pode faltar gás. 

Berlim diz que os consumidores privados vão ser os últimos a serem afetados. Mas o que se teme é que a falta de gás afete sobretudo a indústria alemã, que é a coluna vertebral do país, e provoque uma forte recessão na maior economia europeia, com inflação galopante e desemprego em massa.