Sanções internacionais asfixiam economia do Afeganistão
A economia do Afeganistão está asfixiada. Depois que os talibãs tomaram o poder há um ano, o país mergulhou em uma grave crise financeira e humanitária. No total, 75% do orçamento do país dependia da ajuda internacional, que foi suspensa com a volta dos fundamentalistas religiosos. O desemprego explodiu e 70% das famílias afegãs não conseguem suprir suas necessidades básicas; 90% da populacao vive abaixo da linha da pobreza e 20 milhões de afegãos, quase a metade dos habitantes, passa fome.
Enviadas especiais da RFI ao Afeganistão, Sonia Ghezali e Clea Broadhurst
Os bancos não têm liquidez e são obrigados a impor limites de saques semanais. O Banco Central afegão foi privado das reservas internacionais e US$ 7 bilhões em ativos foram congelados nos Estados Unidos depois que o Talibã assumiu o poder.
Embora os problemas econômicos tenham começado muito antes do retorno dos talibãs, a mudança de poder colocou o país de 38 milhões de pessoas à beira do precipício.
Milhares de empresas entraram em colapso. As que sobreviveram estão lutando, vítimas de sanções internacionais que pesam sobre o país liderado por um governo cuja legitimidade não foi reconhecida por nenhum país até o momento.
No bairro comercial de Herat, não falta nada nas prateleiras das lojas, mas os preços dobraram em um ano.
"O arroz custava cerca de 1.800 afegânis, hoje custa 3.000. E o óleo, que vem da Rússia, custava 450 afegânis e hoje custa 900", diz o comerciante Aziz Ahmad Amiri.
Esse valor é uma fortuna para uma grande parte da população, que caiu na pobreza extrema desde que o Talibã assumiu o poder. Aziz Ahmad Amiri teve de demitir cerca de 15 funcionários nos últimos meses. Ele conta que perdeu 50% de sua clientela e que luta para manter seu negócio.
"A maioria das pessoas ricas deixou o país. E, sem pessoas ricas ou que tenham uma boa situação, não podemos fazer bons negócios. As pessoas que ficaram são pobres, então damos crédito a eles e temos clientes que nos devem dinheiro, mas que deixaram o Afeganistão".
Os empresários também estão sofrendo com o peso das sanções internacionais. Jalil Ahmad Karimi é produtor de açafrão. O ouro vermelho é o grande orgulho de Herat, mas o produto perdeu 80% do faturamento.
"Antes, enviávamos nossos produtos de avião diretamente para a Índia, China, Europa ou Estados Unidos. Agora é complicado porque temos que mandar tudo por caminhões para o Irã e depois enviar as encomendas para outros países."
Não há outra opção, porque as transportadoras internacionais não fazem mais o frete aéreo no Afeganistão. Outro problema, segundo o empresário, é o fim do acordo bancário com outros países. Com isso, Jalil Ahmad Karimi não recebe dinheiro há um ano e espera há vários meses o equivalente a € 334.000 de um cliente sediado na Índia a quem enviou 200 quilos de açafrão.
"Como o Estado afegão não é reconhecido, as transferências bancárias do exterior são proibidas."
Najibullah Khairandish Fushanji importa farinha por atacado do Cazaquistão, óleo da Malásia, leite e conservas da China e arroz do Paquistão e da Índia. Mas, além das sanções internacionais, a inflação, devido à guerra na Ucrânia e a crise econômica no Irã e no Paquistão, têm um impacto direto em sua atividade. No entanto, ele destaca alguns pontos positivos:
"Pagamos 200 mil afegânis na alfândega, ou € 2.200 por cada caminhão carregado de mercadorias. Era propina. Nada era legal. Agora, cada produto é tributado de acordo com uma tabela tarifária. Agora é tudo legal."
Como muitos líderes empresariais, ele espera o reconhecimento diplomático do Emirado Islâmico do Afeganistão, o que significaria a retirada das sanções internacionais.
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