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De passagem por Paris, artista brasileiro Alberto Pereira defende a arte "disponível para todo mundo"

22/09/2022 10h12

Alberto Pereira é um artista visual, mas também um comunicador social como ele mesmo se apresenta. Especializado em colagens e arte de rua, o designer gráfico está de passagem pela Europa, onde fez trabalhos em Barcelona, na Espanha, e Montpellier, na França, antes de vir a Paris, onde conversou com a RFI Brasil.

Alberto Pereira é um artista visual, mas também um comunicador social como ele mesmo se apresenta. Especializado em colagens e arte de rua, o designer gráfico está de passagem pela Europa, onde fez trabalhos em Barcelona, na Espanha, e Montpellier, na França, antes de vir a Paris, onde conversou com a RFI Brasil.

Nascido no Rio de Janeiro, ele cresceu entre Niterói, Rio, Brasília e Angra dos Reis. Suas obras têm como foco a crítica social, as questões de classe e o racismo. "Uma vez que os trabalhos ficam na rua, não tem como não ser um reflexo da sociedade e falar de questões como racismo e diferenças de classe. São observações do mundo em que vivemos", afirma.

Sua pesquisa artística se baseia na colagem e na semiótica, em composições digitais, trocadilhos e lambe-lambe, pôsteres artísticos, colados em lugares urbanos, inspirados nos fotógrafos ambulantes. "No Brasil, a gente usa esse nome de lambe-lambe porque você passa uma cola na parede e no verso do papel. O lambe-lambe nada mais é do que o cartaz de rua, que aqui na Europa é conhecido por colagem, mas que tem um valor artístico", explica.

"Muitas vezes não são autorizados. Mas algumas cidades têm espaços determinados para arte urbana, ou arte pública, como eu chamo", completa.

"É uma disputa de direito à cidade. Quando a gente passa na rua, não escolhe ver a propaganda que está no trem, no metrô ou no elevador", compara.

Alberto Pereira segue uma corrente de arte que utiliza o papel como ferramenta e plataforma de expressão. Seus trabalhos já foram apresentados em exposições individuais e coletivas, festivais de arte digital e urbana, feiras de arte contemporânea em países como Argentina, Brasil, Egito, França, Itália e Líbano.

"Eu desgosto da palavra urbano, porque ela engloba tudo o que não tem categoria, como dança urbana, música urbana. Eu prefiro chamar de arte pública, que está disponível para todo mundo, seja dentro ou fora da galeria, ainda que exista uma resistência para entramos num circuito tradicional de arte", lamenta. "O artista que faz arte pública, ao mesmo tempo que ele faz um carinho na cidade, ele machuca também", acrescenta.

Engajado

Ao longo da carreira, Alberto Pereira já foi chamado para desenvolver peças publicitárias para grandes marcas, como Adidas, Budweiser, Chilli Beans e a revista Piauí.

O artista também costuma se engajar em campanhas sociais e em prol do meio ambiente. Para ele, a arte pode ser vista como uma ferramenta de transformação da sociedade.

"Dentro de tantas preocupações que a gente tem atualmente, não há como esquecer o meio ambiente e o espaço que a gente habita. Normalmente, eu reciclo o papel que eu utilizo. Eu tento fechar um ciclo completo dos materiais e ser responsável com o lixo que eu produzo", diz.

Em 2016, Pereira criou uma plataforma para reunir outros artistas da chamada street art. A rede Lambes Brasil é focada na promoção e valorização de artistas ambulantes que produzem lambe-lambe no país. Um mercado ainda pouco organizado, de acordo com o artista.

"A Lambe Brasil é uma plataforma que nasceu porque faltava um pouco de conexão entre os artistas de vários estados, com objetivo de partilhar o conhecimento e dar voz a eles. É uma forma de divulgar a técnica do lambe, que por mais que seja simples, tem várias etapas".