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Reino Unido enfrenta mais greves até o final do mês e perspectiva de recessão

13/02/2023 05h50

Aos trancos e barrancos, o Reino Unido tenta fugir do que parece ser uma inevitável recessão. A leitura do Banco da Inglaterra, o banco central britânico, é a de que a economia terá um ano difícil. Aliás, é a única entre as sete nações mais ricas do mundo que não conseguiu retomar o ritmo pré-pandemia. O Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,8% desde então.

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

Os movimentos de greve, que seguem paralisando segmentos inteiros do Reino Unido, ainda não têm solução clara. A expectativa é a de que já tenham causado um prejuízo de 1,7 bilhão de libras em oito meses até janeiro deste ano, pouco mais de R$ 10 bilhões, pelas contas do Centre for Economics and Business Research.

Depois de aumentar os juros pela décima vez consecutiva para o nível mais alto das últimas décadas, o Banco da Inglaterra fala da inevitável recessão em que o país deve mergulhar este ano, embora já diga que durará menos de dois anos, como chegou a prever anteriormente. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que acaba de revisar suas previsões para o ano, disse que a economia britânica terá o pior desempenho entre os países desenvolvidos e recessão maior do que a Rússia, que está em guerra contra a Ucrânia há quase um ano e sob o efeito de sanções internacionais.

Tudo isso é uma péssima notícia para todos, sobretudo para os britânicos com hipotecas e para o mercado imobiliário sempre tão aquecido, um dos puxadores dos indicadores econômicos do país. Na média geral, a inflação teve uma ligeira queda, mas se mantém nos níveis mais altos dos últimos 40 anos. Os preços dos alimentos, contudo, continuam em alta. Dezenas de milhares de famílias não sabem como fechar as contas no final do mês.

Greves se multiplicam

Enquanto isso, ainda não há luz no fim do túnel para os movimentos de greve, que seguem intensos. O dia 14 de fevereiro, dia dos namorados em boa parte dos países do hemisfério norte, será marcado pela retomada da greve das universidades, que persistirá por vários dias. Até o final do mês, outras categorias também param. Na semana passada, o Reino Unido assistiu à maior paralisação do sistema de saúde gratuito. O NHS, na sigla em inglês, já não vai bem das pernas há algum tempo. Desde a pandemia não dá conta das consultas e cirurgias programadas. Não tem mão-de-obra suficiente, nem recursos.

O governo do primeiro-ministro Rishi Sunak ainda não teve qualquer trégua por parte dos movimentos grevistas. Desde que assumiu o cargo, em outubro do ano passado, pode-se dizer que o premiê enfrentou mais dias de greves do que sem elas. Mas está decidido a manter a estratégia de não ceder. A ideia é que, se oferecer aumento para uma categoria, terá de fazê-lo para todas, o que terá impacto direto importante sobre os índices de inflação. Na semana passada, o sindicato dos ferroviários recebeu nova proposta de reajuste, mas não não aceitou. Vai decidir quando fará novas paralisações.

Nova legislação para serviço mínimo

Sem conseguir chegar a um acordo com sindicatos, o governo já conseguiu passar na Câmara dos Comuns projeto de lei que obriga várias categorias a cumprirem um mínimo de dias trabalhados. A nova lei valerá para bombeiros, médicos, enfermeiros, motoristas de ambulância, professores e outros. Para entrar em vigor, ainda precisa passar pela Câmara dos Lordes. A iniciativa sofre muitas críticas, sobretudo no país onde as leis sindicais já eram conhecidas como duras entre as nações do Ocidente, como já teria dito o ex-primeiro-ministro Trabalhista Tony Blair em 1997. Especialistas dizem que só há lei semelhante em vigência na Hungria.

A verdade é que, depois de tantos meses, o governo contava que, neste ponto, os movimentos de greve já estivessem enfraquecidos e que o público estivesse com raiva dos profissionais que cruzam os braços, o que ainda não aconteceu.