"Wayne Shorter buscava o inesperado" diz cantora francesa sobre saxofonista morto aos 89 anos

O último disco da cantora e compositora francesa Manu Le Prince, considerada a embaixadora do jazz latino na França, é um tributo a Wayne Shorter. O CD foi idealizado e lançado muito antes do genial saxofonista americano ficar doente e morrer nessa quinta-feira (2), aos 89 anos, em Los Angeles. "As composições do Wayne são sempre em busca do inesperado, longe dos clichês", define Manu Le Prince.

Wayne Shorter, um dos maiores compositores de jazz de todos os tempos, morreu em um hospital de Los Angeles. O saxofone não foi seu primeiro instrumento. Shorter, que nasceu em 25 de agosto de 1933 em Newark, tocou inicialmente clarinete na adolescência, antes de se destacar como um dos mais ousados saxofonistas de sua época. Ele deixa uma carreira de sucesso e músicas inesquecíveis, pelas quais recebeu onze estatuetas do Grammy e vários outros prêmios importantes.

"A música Wayne nos leva a lugares mágicos e permanecerá para sempre", diz Manu Le Prince. A compositora ressalta que além de músico, Shorter também era "um grande filósofo, humanista e budista. Ele não somente incentivou inúmeros músicos, como também as pessoas a nível humano".

O saxofonista, que tocou com músicos como Mile Davis, era um dos últimos grandes nomes do jazz que marcaram o século 20. Dessa geração, ainda fica o pianista Herbert Hancock. Shorter também tocou com brasileiros. O disco do saxofonista "Native Dancer" de 1975, em parceria com Milton Nascimento, foi uma das fontes de inspiração de Manu Le Prince para o disco "Children of the Night", em homenagem a Shorter.

Letras para músicas instrumentais de Shorter

O tributo ao saxofonista de jazz é o sexto disco da cantora francesa, mas brasileira de coração, como ela gosta de dizer. Manu Le Prince mistura em suas músicas e interpretações vários estilos e influências, jazz, bossa nova, MPB e ritmos étnicos e é considerada a embaixadora do jazz latino na França.

"Children of the Night" foi lançado no final de 2022 pela gravadora "Frémeaux & Associés". Manu Le Prince decidiu colocar letra e cantar quatro músicas instrumentais de Shorter. "Eu sempre gostei muito de tudo do Wayne e falei "eu quero cantar essas melodias loucas de saxofone e eu quero escrever", conta.

Ela conseguiu entrar em contato com o saxofonista, que é casado com uma brasileira Carolina dos Santos Shorter, e foi incentivada por ele. "Ele realmente gostou. Mas foi um desafio muito grande".

O disco, com 12 faixas, também traz duas músicas de Milton Nascimento ("Tarde" e "Vera Cruz"), e contou com a participação de vários músicos brasileiros, como o pianista Kiko Continentino e o veterano percussionista Robertinho Silva.

Manu Le Prince foi no início de fevereiro a Los Angeles para se encontrar com Wayne Shorter e levar um disco para ele. Quando chegou, o saxofonista tinha acabado de ser internado, mas ela esperava poder voltar para encontrá-lo. "Não conseguimos nos ver e já estava preparando a minha viagem para voltar, porque na realidade ele saiu da UTI na semana passada. Mas enfim, a história foi assim, foi. A gente não conseguiu se encontrar, mas nos falamos muito por telefone", lamenta.

Com morte de Shorter, o tributo de Manu Le Prince à "lenda do jazz" ganha uma nova dimensão. "É uma maneira de fazer perdurar. Nós temos essa missão de mostrar esse trabalho maravilhoso que foi o trabalho dele."