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Com inspiração nos povos indígenas, brasileira na Suíça vende produtos para quem tem intolerância alimentar

11/03/2023 07h47

Ela sempre se interessou por cozinhar para os que têm intolerâncias alimentares e alergias, porque ela mesma era uma dessas pessoas. Há dois anos, o sonho saiu do papel e ela abriu uma confeitaria em Genebra, na Suíça, especializada em produtos sem glúten, sem lactose e sem açúcar refinado.

Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

A jornalista e empreendedora Eliane Carvalho é a brasileira por trás desse negócio dedicado àqueles que têm intolerâncias a alguns alimentos e se inspirou nos povos originários do Brasil.

"Como a gente sabe, Tupi vem de uma aldeia indígena, e eu acho que nada mais natural do que voltar às origens, que vêm da planta, da natureza, sem aditivo químico, sem nada tóxico. Então, eu acho que Tupi Healthy Bakery, que é a pâtisserie saudável, tinha tudo a ver com o meu projeto", explica.

Eliane conseguiu transformar o que seria uma desvantagem, digamos assim, o fato de ter uma intolerância alimentar, em algo positivo, que foi a criação de uma empresa destinada a atender pessoas como ela. A empreendedora criou uma solução para o que muitos considerariam um problema, uma limitação.

"Isso veio, inclusive, de uma frustração desde a minha infância. A criança, no Brasil, vai a uma festa pensando no brigadeiro, né? E eu não podia comer porque eu sou intolerante à lactose desde o berço. E o que acontecia? Eu comia o brigadeiro escondido e depois passava muito mal. Então, eu queria criar uma inclusão. Há espaço para todo mundo", afirma.

Como tudo começou

Ela diz que a ideia de abrir uma confeitaria especializada em Genebra teve como ponto de partida muita pesquisa no Brasil e nos Estados Unidos, antes de ela se decidir, finalmente, pela Suíça.

"Começou basicamente de uma constatação de que o produto saudável ainda era visto como alternativo e hippie. Eu percebi logo que com essas mudanças no mundo o tempo todo, ele deixou de ser hippie e se tornou a norma. Uma preocupação cada vez maior com a saúde. No Brasil, eu não vi um caminho por uma questão de impostos, de muita inconstância no momento. Nos EUA, eu vi que a concorrência seria muito grande e ávida. E como eu tenho um vínculo com a Suíça desde a adolescência, achei que era o lugar que me daria essa segurança necessária para um novo projeto."

Eliane conta que, entre os produtos com mais saída, estão o polvilho com sabor (de páprica, manjericão, gruyères), que, em breve, ganhará novas versões:

"Vamos lançar novos sabores, o tomate-pizza, o de chocolate. As verrines saem muito bem. Temos também os minibrownies e as miniverrines para festas", explica.

Ainda há tortas, como a de paçoca, cheesecakes e os famosos bolos de pote brasileiro, que aqui na Suíça se chama verrine (de cheesecake, de banoffee, de tiramisu).

"Todos têm uma saída muito boa. Mas o que mais está crescendo nesse momento é o polvilho", conta.

Segundo ela, há também produtos brasileiros adaptados ao gosto local. "A gente vende o pão de queijo, que é de temporadas, mas pode ser encomendado sempre. Usamos o gruyères, que é um queijo sem lactose, muitos não sabem disso. Tem também a torta de paçoca, um grande sucesso".

Como foi o teste de receitas até o produto ideal

Eliane diz que a fase de criação e testes das receitas deu muito trabalho. À RFI, ela contou como foi esse período e quais os ingredientes que mais usa para fazer os produtos.

"A gente sabe que cada um tem um paladar, e a primeira mudança que a gente teve que fazer foi diminuir o açúcar, porque o paladar suíço não gosta de tão doce quanto o brasileiro. Provam-se dez tipos de farinhas diferenciadas até achar o produto ideal. Tanto que nós acabamos criando o mix Tupi, que é uma mistura de três farinhas. E a gente pretende, um dia, tentar botar esse mix no mercado".

Segundo ela, a aceitação dos produtos pela clientela local tem sido "excelente".

"Gostam muito da proposta do luxo saudável. Luxo no sentido de uma embalagem bonita, com muito capricho, muito cuidado. A receptividade, desde o começo, foi muito boa".

Jornalista de formação e filha de dona de jornal

Formada em jornalismo, com mestrado em Ciências Políticas por Harvard, a brasileira vem de uma família ligada à imprensa.

"Eu sou filha - e acho que ele é saudoso pra muita gente - do Ary Carvalho, do Ary de Carvalho, como ele gostava, do jornal O Dia, pioneiro de venda em banca, o primeiro full color no Brasil. Eu acho que se eu não fosse filha dele, não estaria aqui hoje, porque eu tenho na veia esse empreendedorismo, essa vontade de vencer, de fazer a diferença. E, se Deus quiser, onde ele estiver, ele vai ter muito orgulho do sucesso da Tupi", disse.