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EUA: Após indiciamento de Trump, republicanos se unem e democratas saúdam decisão da Justiça

31/03/2023 06h35

Ao se tornar o primeiro ex-presidente da história americana a ser acusado criminalmente, na noite desta quinta-feira (30), Donald Trump recebe apoio de seus correligionários que veem na decisão uma manobra política. Por outro lado, os democratas americanos celebram o parecer do júri de Manhattan no caso que investiga a compra do silêncio da estrela do cinema pornô, Stormy Daniels.  

Com informações dos correspondentes da RFI David Thomson, em Miami, Guillaume Naudin, em Washington, e Loubna Anaki, em Nova York.

Segundo seus advogados, Donald Trump poderá comparecer à Justiça em Nova York, na terça-feira (4). Uma apresentação para a qual a polícia da cidade se prepara há vários dias. Os 36.000 policiais do NYPD receberam ordens de se apresentar em seus postos nesta sexta-feira (31). Detalhes das acusações contra Donald Trump ainda são conhecidos, pois a acusação está sob sigilo.

O ex-ocupante da Casa Branca, que sonha em reconquistar o cargo em 2024, foi indiciado oficialmente pelo promotor de Manhattan Alvin Bragg, ligado à Justiça do estado de Nova York, em um caso de pagamento, pouco antes de novembro de 2016, de US$ 130.000 (cerca de R$ 428 mil) para a atriz e diretora de filmes pornográficos, Stormy Daniels. Em 2018, o advogado pessoal do presidente Donald Trump, Michael Cohen, confirmou ter pago esses valores à atriz pornô americana, que afirmava ter mantido um caso com Trump, em 2006.

"Caça às bruxas"

A decisão inédita da Justiça americana provoca muitas reações. Poucos minutos após ser informado sobre a acusação criminal que recai sobre ele, o ex-presidente republicano denunciou "uma caça às bruxas". Trump se declara "completamente inocente", vítima de uma "perseguição política" lançada pelos democratas no dia da sua primeira candidatura presidencial.

Um discurso que encontra forte eco na direita conservadora. Sem surpresas, os republicanos se uniram em torno de Trump. O presidente da Câmara dos Deputados, Kevin MacCarthy, que deve sua cadeira aos deputados trumpistas, promete fazer com que o promotor Alvin Bragg assuma as suas responsabilidades.

Já o ex-vice-presidente Mike Pence denuncia um escândalo. O candidato à corrida presidencial republicana de 2024, Ron DeSantis, promete, como governador da Flórida, estado de residência de Donald Trump, não facilitar a possível extradição do ex-presidente para o estado de Nova York.

"Coisa de comunista"

O filho de Trump, Don Júnior, denuncia que essa acusação serviria apenas para impedir que seu pai concorresse novamente. "Vamos ser claros pessoal: isso é coisa digna dos comunistas", lançou. "É algo que fariam Mao, Stalin, Pol Pot", disse.

Donald Trump pediu a seus apoiadores que o ajudem a financiar sua defesa. Segundo informações de sua campanha, o ex-presidente já arrecadou mais de US$ 2 milhões para esse fim.

"Ninguém está acima da lei"

Entre os democratas, pelo contrário, a sensação é de vitória. O presidente da Comissão Especial sobre a invasão do Capitólio em 6 de janeiro, Bennie Thompson, explica que "ninguém está acima da lei".

Em Nova York, onde o bilionário Trump não é muito popular, a notícia foi saudada como uma vitória da Justiça. A cidade, no entanto, teve a segurança reforçada em caso de protestos violentos.

"Eu esperei por isso há tantos anos. Fico feliz em ver que ninguém, nem mesmo um ex-presidente, está acima da lei", reagiu um nova-iorquino, após o anúncio do indiciamento de Donald Trump. "Acho que já era hora de finalmente haver algo oficial dizendo que ele fez algo errado", afirma uma mulher. "Ainda tenho um pouco de dificuldade em acreditar, mesmo que esperássemos. Este é um grande dia para a América e para a nossa democracia", comemora outro americano.

Mas nesta cidade tradicionalmente democrática, muitos são cautelosos, até mesmo céticos sobre a continuidade do processo. "Ele ainda não tem algemas nos pulsos... Mas espero que as tenha, que responda pelos seus atos", sublinha um dos curiosos que se dirigiram até o edifício que leva o nome de Trump, na ilha de Manhattan.

A Casa Branca permanece em silêncio. Cauteloso, Joe Biden defende a independência da Justiça. A estratégia é adotada especialmente no momento em que o presidente se prepara para lançar uma futura candidatura a reeleição.