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Seriam TikTok e Xi Jinping os arquitetos de uma Nova Ordem Mundial?

01/04/2023 06h11

Duas das principais revistas francesas desta semana desvendam como o TikTok passou de "o aplicativo preferido dos adolescentes" ao inimigo número 1 de Washington e dos países ocidentais. Com algoritmos que aprendem mais rapidamente que os dos concorrentes, a rede social, que ultrapassa 1 bilhão de usuários, é um reflexo da influência e da capilaridade crescentes da China no mundo. 

A revista L'Express traz um dossiê completo com o nome "TikTok, o inimigo público", em que explica como o aplicativo, criado em 2016 pela empresa chinesa ByteDance e que teve o boom da sua utilização a partir de 2020, com a pandemia, passou de ser visto como um aplicativo de dancinhas a um arrojado dispositivo de espionagem chinesa ao redor do mundo.

Já a Le Point, que tem o presidente chinês Xi Jinping na capa e a frase: "China, o império da mentira", aborda a fundo o até hoje mal esclarecido início da epidemia (que depois se tornaria uma pandemia) de Covid-19 em Wuhan, passando pelas relações de Xi com Vladimir Putin - na qual o chinês é descrito como o "arquiteto da Nova Ordem Mundial" - e, é claro, os muitos rumores de espionagem, incluindo aí o TikTok.

Parlamentares e funcionários do governo de países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e França estão proibidos de acessar o aplicativo em seus celulares.

Relacionamento EUA-China

Além disso, Washington pode banir a rede social em todo o território americano. "Os Estados Unidos não têm sido inteligentes em seu relacionamento com a China", afirma Alexey Muraviev, professor da Curtin University em Perth, Austrália, especialista em estudos estratégicos russos, à Le Point.

"Continuam a ameaçá-la com provas reveladoras do seu envolvimento na origem da pandemia de Covid-19. Então, vem o escândalo do balão espião chinês e o secretário de Estado Antony Blinken cancela sua visita a Pequim. E agora britânicos e americanos pensam em banir o TikTok. Coincidentemente ou não, os EUA estão empurrando a China em direção à Rússia", analisa Muraviev.

A China nega acessar informações sigilosas do TikTok e acusa o governo americano de fazer "ataques injustificados" à empresa chinesa. No entanto, a cada dia mais países apresentam limites ao aplicativo que tem mais de 1 bilhão de usuários no mundo.

O Senado francês lançou, no dia 13 de março, uma comissão de inquérito sobre a utilização e a estratégia do TikTok que vai ouvir dezenas de especialistas de diversas áreas (inteligência artificial, cibersegurança, especialistas em primeira infância etc.). Essa comissão foi instaurada antes mesmo da audição do CEO do TikTok, o singapurense Shou Zi Chew, no Congresso americano.

 

 

Algoritmos poderosos

Para o senador francês Claude Malhuret, em entrevista à L'Express, "os ocidentais são confusamente ingênuos" sobre o TikTok, que possui os algoritmos "mais viciantes", tanto que seus concorrentes tentam copiá-los.

"O algoritmo do TikTok se aperfeiçoa muito mais rapidamente que seus concorrentes diretos como o YouTube, porque os vídeos, que são bem curtos, multiplicam os dados de visualização coletados a cada hora", decifra Guillaume Chaslot, fundador da organização AlgoTransparency.

"Além disso, TikTok é a subsidiária de uma empresa chinesa. Isso levanta questões sobre quais dados ela provavelmente terá que entregar ao Partido Comunista Chinês, se solicitada. Isso também levanta questões sobre a tolerância que o TikTok poderia ter em relação às operações de influência (desinformação, censura etc.) realizadas pela China", sublinha o senador Claude Malhuret.

Para a revista Le Point, uma proibição do TikTok em território americano seria uma boa notícia para a Meta, que reúne Facebook, Whatsapp e Instagram, mas o perigo é que, a exemplo da também chinesa Huawei, banida dos Estados Unidos, passe a investir mais em pesquisa e se torne ainda mais poderosa - e ameaçadora. "O Tiktok sofreu um abalo, mas está longe de ser derrotado. E o setor high-tech chinês ainda não deu a sua última palavra", resume a revista. 

Usuários

No mundo, a maioria do público do TikTok tem menos de 25 anos e quase 30% têm entre 13 e 17 anos. Segundo uma pesquisa elaborada pela Fundação Jean Jaurès, 41% dos jovens franceses usam o TikTok para substituir o Google.

Na França, a quantidade de crianças de 11 e 12 anos usando uma rede social em 2022 atingiu o pico de 87%, segundo estudo da Heaven's Born Social.