Volta de Lula à cena internacional com posições distantes às dos países ocidentais "decepciona", diz jornal francês
O jornal Libération desta sexta-feira (23) publica uma matéria de capa sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em Paris para participar da Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento e para encontros bilaterais. Segundo a publicação, a volta do brasileiro à cena internacional, com posições distantes às dos países ocidentais, decepciona.
"Lula la decepção", diz a manchete do Libération, que mistura francês e português. A derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022 causou alívio, mas os países ocidentais tinham esquecido que o ex-metalúrgico, três vezes chefe de estado, não era alinhado com suas ideias, diz o jornal.
"Ele era esperado como messias, mas sua imagem se ofuscou um pouco", afirma o texto dizendo que o abraço entre o presidente francês Emmanuel Macron e o líder petista diante das câmeras dos jornalistas, após o almoço oferecido ao presidente brasileiro no Eliseu, não deve ser tão sincero e cordial como previsto.
Não alinhado sobre a Rússia
O presidente brasileiro não é o aliado precioso esperado pelos países ocidentais, reconhece o jornal, sobretudo quando o assunto é a guerra na Ucrânia e o isolamento da Rússia.
Outro ponto de discórdia é a posição de Brasília sobre Caracas e as declarações de Lula, que incomodaram Washington, sobre as "sanções exageradas" dos Estados Unidos à Venezuela, uma política, segundo a especialista Armelle Anders, entrevistada pelo jornal, marcada por um "grande rancor contra os Estados Unidos".
Já Jacques Kourliandisky, diretor do Observatório da América Latina para a Fundação Jean Jaurès, também citado pelo jornal, recusa a tese do "anti-americanismo primário" e afirma que a linha de Lula não mudou: "uma política de alto nível e ativa, que pressupõe que o Brasil seja reconhecido como um ator global capaz de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança" da ONU.
Mas apesar dos percalços diplomáticos, Libération admite que a relação entre os dois líderes é muito mais tranquila que com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Meio ambiente e livre comércio
A relação entre União Europeia e Brasil se baseia na política ambiental e no livre comércio, resume o Libération. Em Paris, Lula deve tentar convencer Macron a participar do Fundo Amazônia.
A Europa também quer reduzir a influência da China no Brasil e com o retorno de Lula ao poder, as discussões sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia retomaram, apesar de esbarrarem no protecionismo francês e em exigências ambientais.
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