Brasileiro que perdeu casa em incêndio no Havaí teve poucos minutos para fugir
Há 20 anos morando em Maui, o fotógrafo santista Rodrigo Moraes conta à RFI como perdeu sua casa em poucos momentos. O último balanço de mortes nos incêndios florestais no Havaí, divulgado neste sábado (12), é de 80 pessoas. Bombeiros continuavam a debelar focos nesta manhã.
O brasileiro é uma das milhares de pessoas que perderam tudo na tragédia, desta semana, que reduziu a cinzas a cidade histórica de Lahaina, um dos principais polos turísticos na costa oeste de Maui.
A combinação de vegetação seca, baixa umidade e rajadas de ventos que chegaram a 130 km/h trazidos pelo furacão Dora foi o combustível para a devastação.
"Começou com um pouco de fogo na montanha, ninguém se preocupou, só ficamos um pouco em alerta. Uma vez a gente olhou e estava bem pequena a fumaça e meia hora depois já a fumaça já estava tomando conta da cidade toda", lembra o fotógrafo, que diz que não teve nenhum alerta e nem alarmes ordenando para evacuar.
"A gente olhou aquela fumaça toda e falei para minha noiva: 'vamos embora'. Só deu tempo de pegar um pouco do meu equipamento de trabalho, ela fez uma bolsa de roupas, pegamos os passaportes e fomos embora com o meu carro, deixamos o dela lá, porque a gente estava preocupado de que teria muito trânsito".
Rodrigo Moraes saiu de caminhonete com a noiva, a californiana Michelle, e os dois filhos, Rio (2) e Isa (7), além do gato e do cachorro. Foram para uma montanha e ficaram estacionados na pista, moradores da região os convidaram para ficar em uma casa, mas após três horas o fogo também começou a chegar na localidade e tiveram que evacuar novamente.
"Para meu filho de dois anos é tudo uma festa, a de sete pergunta sobre os brinquedos. Mas a comunidade aqui é tão boa, já conseguimos doação de roupas e de outras coisas que a gente precisa. Estamos ficando na casa de conhecidos que deram uma quitinete que eles têm no fundo da casa para a gente ficar o tempo que precisar".
A cunhada de Rodrigo também fez uma vaquinha virtual para arrecadar fundos para que a família se restabeleça. Quem quiser colaborar pode entrar no link da campanha. Nas redes sociais, Rodrigo também está compartilhando vaquinhas para amigos que passam pela mesma situação. O fotógrafo conta que vários brasileiros moravam em Lahaina e também perderam tudo.
Cidade devastada
O fogo foi quase completamente contido, mas as cenas deixadas para trás lembram um cenário de guerra e já se somam 80 mortos à tragédia e ainda há muitos desaparecidos. O governador Josh Green alertou que o número provavelmente aumentará à medida que as operações de busca e resgate continuarem.
As autoridades não deram uma estimativa sobre quantas pessoas continuam desaparecidas. "Honestamente, não sabemos", disse o chefe de polícia do condado, John Pelletier na coletiva à imprensa.
Na tarde desta sexta-feira, alguns residentes foram autorizados a retornar à devastada cidade histórica de Lahaina para verificar suas propriedades, mas há um toque de recolher em vigor das 22h às 6h, na área do desastre.
Calculam-se que cerca de 1.000 edificações podem ter sido danificadas ou completamente destruídas e que a reconstrução da cidade, que já foi endereço de reis antes do Havaí pertencer aos Estados Unidos, deve levar anos e custar bilhões de dólares.
Reino do Havaí
O Reino do Havaí foi estabelecido em 1795 depois que o rei Kamehameha, primeiro governante, conquistou várias ilhas no arquipélago. Em 1802, ele mudou a capital para Lahaina que sempre preservou a cultura polinésia. Dentre as perdas de patrimônio histórico estão uma igreja que neste ano, em maio, comemorou 200 anos e uma escola de imersão, uma das poucas do arquipélago que ensinam a língua e cultura havaiana e que dava assistência a crianças de famílias carentes locais.
No centro histórico está também uma das figueiras mais antigas dos Estados Unidos, plantada em 1873, que se expandiu por quase 2.000 m². Funcionários do condado disseram que ela "parece queimada", mas as raízes ainda podem estar saudáveis.
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Quero receberO incêndio de Lahaina já é o desastre natural mais mortal do estado do Havaí desde o tsunami de 1960, que matou 61 pessoas, na Big Island e, o incêndio florestal mais mortal nos Estados Unidos desde o de 2018 na Califórnia, que matou pelo menos 85 pessoas e devastou a cidade de Paradise.
Na sexta-feira, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, e a noiva Lauren Sanchez doaram US$ 100 milhões "para ajudar Maui a se reerguer", anunciou Sanchez nas redes sociais.
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