França exuma corpos de soldados alemães da Segunda Guerra após revelação de veterano da Resistência

No departamento francês de Corrèze, as buscas relembram a memória dolorosa da Segunda Guerra Mundial. Após as revelações de um ex-combatente, as autoridades francesas pretendem exumar os corpos dos soldados executados durante a Libertação para entregá-los à Alemanha.

A história começa em 2019, quando Edmond Réveil, um ex-membro da Resistência, de 98 anos, revela um segredo que só ele sabia. Na Libertação de 1944, seu grupo de combatentes de Meymac, na região de Corrèze, matou 46 soldados alemães e uma francesa acusada de colaboração. Os corpos foram enterrados em valas comuns.

Essas confissões não foram divulgadas na época, mas desencadearam investigações. Segundo Xavier Kompa, diretor do serviço departamental do Escritório Nacional de Veteranos, assim que a instituição soube do fato comunicou à associação alemã responsável pela recuperação de corpos, mas só agora foi possível realizar as pesquisas para as buscas.

"Uma primeira fase, de geolocalização, no mês de junho, nos permitiu de identificar um local que potencialmente se parece a uma fossa, onde, a partir de hoje, diversos arqueólogos e antropólogos irão trabalhar para exumar os corpos de soldados alemães e de uma francesa", explicou.

Identificação do local

Desde junho passado, uma superfície de três quilômetros quadrados, apontada pelo ex-combatente da Resistência, vem sendo alvo de análises e buscas. Elas revelaram uma mudança na densidade no solo e a presença de objetos de metal em uma pequena área onde os corpos estão enterrados. 

As escavações de outra vala comum nas proximidades, realizadas pelos serviços alemães em 1967, já haviam permitido a exumação de onze corpos, agora enterrados em um cemitério militar alemão localizado em Charente-Maritime, também no sudoeste da França.

Xavier Kompa explica que a identificação do local não foi fácil não apenas pelos longos anos que se passaram, mas porque a paisagem na região também mudou totalmente. No entanto, segundo ele, não foi apenas Edmond Réveil que indicou o local. "Uma outra pessoa, que tinha 10 anos em 1967, quando houve a primeira exumação, nos deu a indicação do perímetro da primeira fossa exumada de 1967 até 1969. Então nós sabemos que a segunda fossa se encontra num local a cerca de 50 metros" disse. 

Destino das ossadas

A exumação terá início nesta quarta-feira (16). Em seguida, as ossadas, bem como objetos e uniformes serão levados e estudados no Instituto de Antropologia de Marselha, antes de serem devolvidos à Alemanha

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"Depois, a Alemanha é que vai decidir o que será feito das ossadas, se irá restituí-los às famílias ou se serão enterrados em cemitérios militares alemães, situados na França", disse Kompa.

Perguntado sobre a importância da exumação 80 anos após as execuções, o diretor informa que primeiramente existe uma convenção recíproca que obriga que a França restitua os corpos à Alemanha.

"Nós temos o dever de devolver esses corpos às famílias, de informar o que aconteceu a esses soldados e, como diz Edmond Réveil, é importante que encaremos a nossa história de frente. Nós temos o trabalho e um dever de memória face às novas gerações e precisamos ir até o fim dessa investigação para saber o que houve exatamente no 12 de junho de 1944", finalizou.

 

(Com informações da AFP)

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