Na abertura da Cúpula dos Líderes da COP28, Lula cobra cumprimento de promessas pelos países

Presidentes e chefes de Governo de 140 países participam nesta sexta (1°) e sábado (2) da Cúpula dos Líderes da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP28), em Dubai, que dá impulso inicial a quase duas semanas de negociações sobre o tema. Na abertura do evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva associou o combate às mudanças climáticas ao das desigualdades e criticou os países que não cumprem as suas promessas na área ambiental e os acordos internacionais sobre o clima.

O presidente disse que os desastres naturais que atingiram o Brasil nos últimos meses - como a seca na Amazônia e as enchentes no sul - são uma amostra de que "o planeta já não espera para cobrar da próxima geração".

"A ciência e a realidade nos mostram que, desta vez, a conta chegou antes", disse. "O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas, do auxílio financeiro aos países pobres que não chega, de discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas", conclamou o brasileiro, afirmando que as promessas não cumpridas "corroem" a credibilidade das discussões e a crença no multilateralismo.

Lula lembrou que, em 2022, o mundo gastou mais de US$ 2,2 trilhões em armas - um valor que, defendeu, poderia ter sido investido no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática. 

"Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas? A conta da mudança climática não é a mesma para todos, e chegou primeiro para as populações mais pobres", alegou. "O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial", argumentou.

Para o presidente brasileiro, a redução das desigualdades socioeconômicas também significa aumentar a resiliência das populações aos fenômenos extremos que, segundo a ciência, vão se repetir cada vez se a temperatura global continua a subir. O ano de 2023 é o mais quente já registrado.

"É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis", defendeu o líder brasileiro, embora o Brasil planeje aumentar a produção de petróleo nas próximas décadas. A produção e a queima de energias fósseis é a principal causa do aquecimento global, e um dos temas mais importantes da COP28.

Caminho para a COP30

O presidente disse que o Brasil deseja liderar pelo exemplo e citou avanços como a queda do desmatamento, a correção do compromisso climático do país - que havia sido rebaixada pelo governo de Jair Bolsonaro -, o plano de transformação ecológica implementado pelo governo e a realização da Cúpula dos Países Amazônicos em Belém.

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"Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia", lembrou Lula, referindo-se à conferência que será realizada em 2025 na capital paraense.

Na ocasião, os países deverão apresentar novas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) para fazer frente ao desafio da emergência climática - um caminho que começa a ser traçado desde já, em Dubai.

Rei Charles III e primeiro rascunho de acordo

Na plenária da ONU, Lula sucedeu Lula o rei britânico, Charles III, que falou na abertura da cerimômia. O soberano disse que a humanidade está "terrivelmente longe" de fazer o que é preciso para conter o aumento das temperaturas globais.

"Eu rezo com todo o meu coração para que a COP28 seja uma nova virada decisiva em direção a uma verdadeira ação transformadora", exortou Charles III.

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, salientou que "a ciência é clara: o limite de 1,5°C só é sustentável se pararmos de queimar todos os combustíveis fósseis", frisou.  "Os sinais vitais do planeta estão falhando: emissões recorde, incêndios ferozes, secas mortais e o ano mais quente de que há registo", disse Guterres.

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Distante da sala principal que recebe os líderes, delegações e comitês técnicos começaram a trabalhar na sexta-feira com a dura tarefa de avaliar o progresso nos objetivos climáticos globais, em especial para cumprir a principal meta do Acordo de Paris sobre o Clima, de limitar o aquecimento global a 1,5°C, em relação às temperaturas pré-industriais.

As Nações Unidas publicaram nesta manhã um primeiro projeto de texto que poderá servir de modelo para o acordo final da COP28, que acaba em 12 de dezembro. O rascunho projeto propõe "blocos de construção" para um resultado político e inclui várias opções para abordar uma das questões mais espinhosas da cúpula: decidir se, e em que medida, os combustíveis fósseis devem desempenhar um papel no futuro.

Uma dessas opções é incluir compromissos para reduzir gradualmente ou eliminar gradualmente a utilização de combustíveis fósseis, abandonar o carvão e triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.

Lula com agenda cheia

Durante a conferência, Lula terá uma série de reuniões bilaterais: com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, os chefes de Governo do Reino Unido, Rishi Sunak, e da Espanha, Pedro Sanchez, entre outros, além de visitar o pavilhão do Brasil na COP28.

No sábado (2), segue com intensa agenda na conferência, com destaque para a reunião com o G77+ China, grupo que reúne países emergentes e em desenvolvimento, e o almoço com o presidente francês, Emmanuel Macron. O presidente brasileiro deixa Dubai na manhã de domingo (3), rumo à Alemanha.

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Com Reuters

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