França: Livro investiga como fake news sobre Brigitte Macron ser transexual cruzou o Atlântico

Desde a eleição de Emmanuel Macron, em 2017, teorias da conspiração afirmam que sua esposa é uma mulher transexual, cujo nome de nascimento seria Jean-Michel Trogneux. Essa versão teve um eco inesperado nos Estados Unidos pela influente conservadora Candence Owens, apoiadora declarada de Donald Trump nos EUA. Uma investigação sobre como essa bola de neve de desinformação se formou chega agora às livrarias francesas.

 

No último dia 8 de março, ao final de uma cerimônia do Dia Internacional dos Direitos da Mulher, o presidente francês Emmanuel Macron achou necessário responder à imprensa que sua esposa, Brigitte, não era transexual.

Essa fake news afirma que Brigitte, cujo nome de solteira é Trogneux, é na verdade uma mulher transgênero, cujo nome de nascimento seria Jean-Michel.

A teoria, que vem circulando desde que Macron se tornou presidente em 2017, ganhou força nos últimos dias depois que a polêmica conservadora norte-americana Candence Owens retuitou a versão em um vídeo para seus mais de três milhões de assinantes.

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Para entender a origem dessa teoria delirante, a jornalista Emmanuelle Anizon está publicando atualmente L'Affaire Madame (O caso Madame), livro no qual investiga os principais promotores dessas notícias falsas.

Duas pessoas foram identificadas pela investigação: a primeira é Natacha Rey, uma mulher que se apresenta como "jornalista independente" e adere a várias teorias da conspiração.

De acordo com o jornalista Anizon, Rey é alguém que, após um término de relacionamento, "se perdeu na Internet" e criou um círculo heterogêneo de pessoas que a apoiam "de vendedores de seguros a recepcionistas, passando por um ex-gerente de ativos no norte da França ou um jovem empresário do setor de eventos culturais. Pessoas de todas as idades, de todos os estilos de vida", disse ela ao jornal Libération.

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Panfletário antissemita

Rey contou com uma segunda pessoa-chave para disseminar essa teoria: Xavier Poussard, um jornalista de extrema direita ligado a Alain Soral, um notório panfletário antissemita com amplo alcance nas redes sociais.

No entanto, o autor da pesquisa acredita que essa teoria da conspiração transcende as divisões políticas tradicionais, como foi o caso dos "coletes amarelos".

"O que eles têm em comum, que atravessa todas as divisões, é a desconfiança em relação às instituições. Mas também o medo da 'globalização', uma certa perda de direção que leva à desistência, a ideia de que os poderosos gozam de impunidade, de que as elites os desprezam", diz ele ao Libé.

O questionamento sobre o sexo biológico das esposas de presidentes ou ex-primeiros-ministros é uma tática conhecida de desinformação usada nas redes sociais para desgastar a liderança política de alguém.

A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, a ex-primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, e Begoña Gómez, esposa do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também foram alvos de tais rumores.

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(Com imprensa francesa e RFI)

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