Deputados franceses aprovam proposta de lei contra discriminação capilar no ambiente de trabalho

Os deputados franceses aprovaram nesta quinta-feira (28), uma proposta de lei apresentada pelo deputado Olivier Serva, contra a discriminação capilar. O texto deve ainda passar pelo Senado, que tem maioria de direita e centro. A lei foi inspirada na legislação de algumas partes dos Estados Unidos, como a "Crown Act", da Califórnia, de 2019.

Sylvie Koffi, da RFI, e agências

O assunto pode fazer sorrir quem não se sente afetado. Na França, seis em cada dez pessoas não têm cabelos lisos.

Como  Kenza, influenciadora hoje exibe com orgulho um corte afro cacheado. No entanto, nem sempre foi assim. "Eu tenho um lindo cabelo afro cacheado. Antes eu relaxava e alisava bastante, então em termos de saúde eu me colocava em risco. Eu me contorcia muito para combinar com os padrões de beleza, já que foi isso que me disseram, que meu cabelo estava sujo, despenteado, pouco profissional, que eu ficava melhor com cabelo liso, já que supostamente era mais arrumado, mais macio, mais brilhante", diz. "Minha aparência não justificava minhas competências", lamenta.

Em 2005, um comissário bordo de uma companhia aérea nacional foi demitido por causa de suas tranças. O caso foi o ponto de partida para o deputado Olivier Serva escrever o projeto de lei. "Trata-se de dizer não à discriminação capilar, independentemente do comprimento, textura ou cor do cabelo. Isto diz respeito a muitos afrodescendentes, mas não só", especifica o deputado. Além disso, não há levantamento étnico na França, como nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha", explica. "Duas em cada três mulheres negras escutam que precisam mudar o corte de cabelo para se candidatar a uma entrevista de emprego", acrescenta.

"Não aceitamos você pelo que você é"

Na hora de procurar emprego, a aparência física e o cabelo são fatores importantes que podem influenciar a decisão de um recrutador. "Houve momentos em que eu tinha entrevistas para estágios escolares e entendi que isso incomoda um pouco, e que um corte, digamos, mais quadrado, sem tranças, com degradê, era melhor aceito", diz Louis, 23 anos, estudante.

"Fui chamado no trabalho e me disseram, 'sabemos que você se preocupa com seu cabelo.' Eu respondo: 'Ah, você não?'. E me pediram para alisá-lo, porque não era profissional. Meu cabelo, mesmo que eu alise amanhã, quando eu tomar banho, ele vai cachear de novo. O recado era que eu não era aceita pelo que eu era", testemunha Fanta, ex-policial que foi vítima de assédio.

"Existe uma discriminação implícita, onde não vão te dizer que o problema é que você é negro ou afrodescendente, mas vão te dizer: 'Esse penteado não corresponde à imagem que a nossa empresa quer promover", diz a jornalista Rokhaya Diallo. "Por isso é muito importante falar sobre isso hoje".

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