Em comunicado final, líderes pedem esforço para acabar guerra em conferência pela paz na Ucrânia

Mais de dois anos após a invasão russa, líderes de mais de 90 países reuniram-se neste fim de semana em um hotel em Bürgenstock, no centro da Suíça, para discutir maneiras de colocar um fim ao maior conflito da Europa, desde a Segunda Guerra Mundial. O comunicado final da cúpula, que ficou pronto no início da tarde deste domingo (16), foi considerado "satisfatório" e "equilibrado" por Kiev, segundo seu ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba. 
 

 

O texto, que é apoiado pela grande maioria dos cerca de cem participantes, também reafirma "os princípios de soberania, independência e integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia".

"Acreditamos que alcançar a paz requer participação e diálogo entre todas as partes", diz o documento. "Decidimos, portanto, tomar medidas concretas no futuro nas áreas mencionadas acima, com maior engajamento de representantes de todas as partes", acrescentou.   

Vários participantes lamentaram a ausência da Rússia, que não foi convidada para o encontro, incluindo a Arábia Saudita e o Quênia. Cerca de 80 países apoiam a declaração final. Brasil, Índia, Arábia Saudita estavam ausentes no início da tarde. 

O comunicado também ressaltou que "a segurança alimentar não deve ser militarizada de forma alguma". A invasão da Ucrânia, um dos principais exportadores de grãos do mundo, teve repercussões dramáticas para o abastecimento dos países pobres, e também para a inflação. A paralisação das exportações russas de fertilizantes teve o mesmo efeito no início do conflito.   

O comunicado final também exige a libertação dos prisioneiros de guerra e "de todas as crianças ucranianas deportadas e deslocadas ilegalmente". O texto também exige que todos os civis ucranianos detidos ilegalmente sejam devolvidos à Ucrânia.

Mas, de acordo com o chanceler austríaco Karl Nehammer, que participou da reunião, o documento não obteve o consenso de todos os participantes. O texto, cujos detalhes não foram divulgados, não precisa ser aprovado por unanimidade. "Ele é equilibrado e todas as posições apresentadas pela Ucrânia foram levadas em conta", disse Dmitro Kuleba.

"Sabemos que vai chegar uma hora em que teremos que conversar com a Rússia", disse o chefe da diplomacia ucraniana aos jornalistas em Bürgenstock. "Mas nossa posição é muito clara: não vamos permitir à Rússia nos dar ultimatos, como vem fazendo nesse momento.

Continua após a publicidade

O Kremlin não descarta negociações com a Ucrânia, mas exige "garantias" que as medidas sejam colocadas em prática. O país não foi chamado para participar da cúpula e a China, sua grande aliada, recusou o convite. Por essa razão, as propostas de paz discutidas no encontro foram todas formuladas por Kiev, garantiu Dmitro Kuleba.

Para encerrar a guerra, o presidente russo, Vladimir Putin, exige que a Ucrânia renuncie a todos os territórios reivindicados por Moscou e à futura adesão do país à Otan. Kiev, por outro lado, insiste em recuperar todos os territórios ocupados pela Rússia desde 2014, incluindo a península da Crimeia.

O ministro austríaco das Relações Exteriores, Alexander Schallenberg, disse que ainda é cedo para saber se a reunião de Bürgenstock poderá levar de forma concreta a negociações de paz e não descartou a hipótese de organizar uma conferência  Arábia Saudita.

Paz pode ser alcançada

Neste sábado (15), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recebeu disse ter esperança de que será possível unir a comunidade internacional em torno de uma proposta de paz que seria apresentada a Moscou. "Devemos decidir juntos o que significa uma paz justa para o mundo e como ela pode ser alcançada de forma sustentável", disse ele no sábado. 

No domingo, as delegações se dividiram em três grupos de trabalho sobre questões concretas e urgentes: segurança nuclear, segurança alimentar global, incluindo a garantia da liberdade de navegação no Mar Negro.

Continua após a publicidade

As discussões se concentraram em questões relacionadas a prisioneiros de guerra e civis e ao destino de pessoas desaparecidas. Haverá também a questão do repatriamento de crianças retiradas dos territórios ucranianos ocupados para a Rússia.

"Vimos cerca de 20.000 crianças ucranianas retiradas de suas famílias, comunidades e países. É aterrorizante dizer isso, e como o mundo pode virar as costas?", disse o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris. "Este é um roubo de crianças e é hora de a comunidade internacional denunciá-lo", acrescentou o Taoiseach. A Irlanda e outros 27 países estão se concentrando nesse aspecto.

Segurança alimentar

As discussões sobre segurança alimentar se concentrarão na crise na produção agrícola e nas exportações, que criou um choque alimentar e inflacionário no início da guerra, já que a Ucrânia é um dos maiores exportadores de grãos do mundo.

A insegurança do tráfego marítimo no Mar Negro também contribuiu para o aumento dos custos, pelo que se trata de encontrar formas de garantir uma navegação livre e segura nesse país As negociações também se concentrarão na segurança das usinas nucleares ucranianas e, especialmente, a de Zaporíjia, a maior da Europa, ocupada pelos russos.

"Estou pronto para participar no debate sobre segurança nuclear porque é realmente uma grande ameaça à nossa segurança", sublinhou o Presidente lituano, Gitanas Nauseda.

Continua após a publicidade

Com informações da AFP

Deixe seu comentário

Só para assinantes