Argentina vive estado de euforia com 4° troféu internacional consecutivo na Copa América 2024

 

O continente americano continua azul-celeste e branco, mas, apesar da festa argentina, sete pessoas ficaram feridas em enfrentamentos entre torcida e polícia em Buenos Aires na noite de domingo (14). Um homem faleceu enquanto festejava no alto de uma estrutura. O estado de euforia avançou pela madrugada, apesar do frio de 7?°C. O bicampeonato da Copa América reforça a esperança dos argentinos no quarto título mundial.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A ansiedade da estudante Melina Ramos é tanta que se confunde com sofrimento, quer seja na esperança de cada ataque desperdiçado pela seleção argentina, quer seja na aflição de cada chance de gol da Colômbia.

No bairro de La Recoleta, argentinos e estrangeiros misturam-se quase em partes iguais. É fácil distinguir cada um. Os argentinos são os que sofrem o jogo, já os estrangeiros, principalmente os brasileiros, sofrem com as baixas temperaturas.

Nos últimos 62 jogos, ao longo de cinco anos, a Argentina só perdeu dois e foi campeã da Copa América e da Copa do Mundo. Mesmo assim, a cada partida, os argentinos vivem num estado de apreensão até o último minuto.

"Não seria Argentina se não sofrêssemos. É como num tango. Não me surpreenderia se ganhássemos nos pênaltis como na Copa do Mundo ou nesta Copa América contra o Equador", diz o torcedor Gabriel Freitas.

No confronto da defesa menos vazada do campeonato, a da Argentina, contra o ataque mais eficaz, o da Colômbia, de repente, uma explosão de alegria. Um país inteiro entra em estado de plena euforia quando a seleção de Lionel Messi marca o primeiro gol.

O calor da torcida em festa passa a ser a maior proteção contra o frio. Melina, agora aliviada, finalmente comemora: "Sempre acabamos ganhando devido à torcida, graças à união de todos, pelo amor que há nos argentinos", declara a estudante à RFI.

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Superstições dos hermanos

Quem fez o gol da vitória foi Lautaro Martínez, o carrasco da Colômbia. Na Copa América de 2021, quando a Argentina foi campeã, Martínez também pontuou contra a Colômbia. Em fevereiro de 2022, nas eliminatórias para o Catar, Lautaro Martínez levou a seleção azul-celeste e branco a vencer os colombianos também por 1 a 0.

Para a maioria dos argentinos o placar igual não é mera coincidência. Eles se dividem entre aqueles que contam e aqueles que escondem as suas superstições. E nesse jogo de coincidências, muitos apostam que uma seleção argentina bicampeã consecutiva da Copa América, pode muito bem ser bicampeã consecutiva na próxima Copa do Mundo que, aliás, também será realizada nos Estados Unidos.

É verdade que, desta vez, a final não foi contra o Brasil como em 2021, mas a Colômbia também se veste de amarelo canarinho.

O comerciante Juan Franco é mais um dos que acredita nessas superstições rumo ao quarto título mundial em 2026. "Eu acredito que uma Argentina bicampeã da Copa América pode ser bicampeã do mundo. Por que não? Se continuarmos como estamos, temos todas as condições porque temos boa química na equipe", aponta Juan à RFI, tentando aplicar alguma lógica à crença.

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"Temos o Messi que, quando achamos que vai render menos devido à idade, continua a avançar e cada vez melhor. Hoje [domingo], tivemos o azar de ele sair por uma lesão, mas, mesmo sem ele, marcamos um gol e somos campões. Isso me emociona", desabafa.

Enquanto isso, os brasileiros em Buenos Aires preferem não acreditar na futurologia argentina. "Eu acho que essa superstição argentina é uma invenção deles, porque na próxima Copa do Mundo o Messi não vai estar tão bem e o Brasil vai chegar muito forte com Endrick, com Estevão e com Rodrygo. Eu acho que, nos Estados Unidos, o Brasil vai sair campeão do mundo", profetiza esperançoso o publicitário Matheus Jaeger.

Confrontos com a Polícia

Após o jogo, mesmo durante uma madrugada congelante, milhares de torcedores comemoraram no Obelisco da avenida 9 de Julho, ponto nevrálgico da cidade e lugar de referência para a concentração popular depois de cada vitória.

Às 4h20, a polícia local decidiu liberar o trânsito na avenida, mas um grupo minoritário ofereceu resistência e atirou garrafas, paus e pedras. Os policiais atacaram com dois carros hidrantes que molhavam os torcedores com uma temperatura já próxima dos 5?°C. Sete pessoas ficaram feridas, sendo duas por armas de fogo (incluindo um policial); duas por armas brancas. Mais cedo, no começo do jogo, na mesma zona do Obelisco, um torcedor subiu no alto de uma estrutura, perdeu o equilíbrio e morreu na hora ao cair no chão.

Além de tornar-se bicampeã da Copa América, a Argentina superou o Uruguai como o país que mais vezes levantou a taça continental: foram 16 vezes para os argentinos contra 15 para o Uruguai. O Brasil detém nove títulos no campeonato.

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