Diretor da abertura dos Jogos de Paris fala da gravação de Lady Gaga e rebate críticas de católicos

O diretor artístico da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Thomas Jolly, negou neste domingo (28) ter zombado da "Última Ceia" em um dos momentos do espetáculo, criticado pela extrema direita e pelo episcopado católico. Ele também explicou que a escadaria escolhida para a apresentação de Lady Gaga e seus bailarinos, diante da previsão de chuva no horário da sequência, levou a produção a optar por uma pré-gravação da cena, como revelaram vários internautas.

"Nunca encontrarão da minha parte nenhuma vontade de zombar, de difamar nada. Eu queria fazer uma cerimônia que reparasse, que reconciliasse. Que também reafirmasse os valores da nossa República", disse Thomas Jolly à emissora BFMTV. 

Em um dos momentos da cerimônia de sexta-feira, chamada de "Festividade", um grupo de pessoas apareceu em uma longa mesa, incluindo várias drag queens, que recordavam a "Última Ceia", a refeição final, segundo os Evangelhos, que Jesus teria compartilhado com seus apóstolos antes de sua crucificação.

No sábado (27), a conferência episcopal francesa (CEF) condenou o que considera cenas de "zombaria do Cristianismo". Mas de acordo com Jolly, a "Última Ceia não foi minha inspiração". "A ideia era fazer um grande festival pagão ligado aos deuses do Olimpo... Olimpismo", afirmou.

Nas redes sociais, houve quem se referisse ao quadro "A Festa dos Deuses", pintado no início do século XVI por Jan Harmensz van Biljert, guardado em um museu em Dijon (leste de França). Thomas Jolly, questionado sobre uma Maria Antonieta decapitada (segurando a cabeça entre os braços), garantiu que não houve "glorificação deste instrumento de morte que foi a guilhotina".

"Se utilizarem o nosso trabalho para regenerar (...) a divisão, o ódio (...) e ela continue a progredir, quando acredito que promovemos um pouco a paz (...), seria muita pena", enfatizou o consagrado diretor de teatro e ópera. A cerimônia teve um "enorme respeito pela história das Olimpíadas", defendeu também Daphné Bürki, diretora de figurinos.

A gravação de Lady Gaga

Thomas Jolly esclareceu que a sequência de Lady Gaga cantando "Mon truc en plumes" ("Meu fascínio por penas"), da francesa Zizi Jeanmaire, teve de ser pré-gravada algumas horas antes do horário iprevisto para a performance ao vivo, devido à previsão de chuva. "Foi uma das decisões que tivemos que tomar no último minuto", explicou. "Ela queria muito atuar (...), ela estudou o francês", mas "teria sido perigoso, o chão estava escorregadio", disse ele. "O público já estava se instalando (nas arquibancadas) quando ela se apresentou", explicou o diretor artístico de 42 anos.

A gravação gerou polêmica porque vários internautas filmaram a sequência antecipada, encenada em uma escadaria na margem do Sena, e publicaram as imagens nas redes sociais, enquanto os espectadores que assistiram mais tarde o espetáculo pela TV sequer foram alertados que Lady Gaga não cantava ao vivo.

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A cantora americana usou uma jaqueta de penas preta da linha de alta-costura da Dior, idealizada pela estilista Maria Grazia Chiuri, com um corpete e uma hot pants de cetim preto, além de uma saia preta e rosa bordada de penas e lantejoulas, em referência ao figurino de cantoras de cabaré. Em um post publicado nas redes sociais, a cantora explicou que alugou as penas e pompons no acervo do Lido de Paris.

Céline Dion e Aya Nakamura 

Ainda na entrevista à BFMTV, Thomas Jolly disse que as cantoras Céline Dion, assim como Aya Nakamura, concordaram imediatamente em participar do projeto. Céline Dion, que cantou "L'hymne à l'amour" ("Hino ao Amor"), de Edith Piaf, alertou sobre o seu estado de saúde, mas tudo era possível", disse ele. A canadense, conhecida pela interpretação da trilha sonora do filme "Titanic", tem uma doença rara que a faz perder o controle sobre os músculos.

No caso de Aya Nakamura, a ideia era criar um elo com a Guarda Republicana. "Eu queria chamar a atenção para o trabalho extraordinário que ela faz" e a vitalidade que ela retribui à língua francesa". A cantora franco-malinesa, celebrada no exterior como uma das vozes da diversidade de maior talento na atualidade, é perseguida pela extrema direita francesa que não queria vê-la representar o país na festa de abertura.

Apesar das polêmicas em torno de determinadas sequências, a cerimônia olímpica, repleta de descobertas artísticas, despertou emoção, surpresa e entusiasmo quase unânime, inclusive no exterior.

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