Análise: os possíveis caminhos de Kamala Harris para uma eventual vitória presidencial nos EUA

Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, agora é a candidata preferida do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2024. Com Joe Biden fora da corrida, surgem várias questões sobre como Harris pode conquistar a vitória e quem poderia ser seu parceiro ideal como vice. Vamos explorar os caminhos possíveis para sua vitória e os nomes que podem fortalecer sua chapa

Thiago de Aragão, analista político

A vitória de Harris vai depender, como sempre, do desempenho nos "estados-pêndulo" ["swing states", em inglês]. Em 2020, Joe Biden garantiu a Casa Branca vencendo em seis desses estados mais disputados: Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Nevada, Arizona e Geórgia. A exceção foi a Carolina do Norte, que ficou com Trump.

Harris tem um desafio específico no Rust Belt (Michigan, Wisconsin e Pensilvânia), onde Biden se deu bem entre os eleitores brancos da classe trabalhadora. Harris pode ter dificuldades com esse grupo, mas tem um trunfo com os eleitores não-brancos, o que abre possibilidades em estados com grandes populações negras (Geórgia e Carolina do Norte) e hispânicas (Arizona e Nevada).

Cenários para a Vitória

Perdendo os Três Estados do Rust Belt 

Se Harris perder Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, ela precisa vencer nos quatro estados do Sun Belt (Geórgia, Carolina do Norte, Nevada e Arizona) para alcançar 275 votos no Colégio Eleitoral. Isso exige um aumento significativo no apoio dos eleitores negros e hispânicos.

Vitória em Michigan, Perda em Wisconsin e Pensilvânia 

Com os 15 votos eleitorais de Michigan, Harris teria duas opções: vencer tanto na Geórgia quanto na Carolina do Norte, ou uma combinação de Geórgia, Nevada e Arizona.

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Vitória em Michigan e Pensilvânia, Perda em Wisconsin

Nesse cenário, Harris ficaria com 260 votos eleitorais e precisaria vencer em um dos estados do Sun Belt (Geórgia, Carolina do Norte ou Arizona) para garantir a vitória.

A escolha do vice-presidente é essencial para complementar a chapa e atrair eleitores dos estados-chave. Vários nomes estão sendo considerados, incluindo governadores de estados swing e figuras moderadas que podem ampliar o apelo de Harris.

Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, é um dos favoritos. A Pensilvânia é um estado crucial, e Shapiro tem uma sólida reputação como moderado pragmático, o que poderia garantir os 19 votos eleitorais do estado, frequentemente decisivos em eleições presidenciais.

Outro nome em destaque é Tim Walz, governador de Minnesota. Conhecido por suas políticas progressistas e por atrair eleitores jovens, Walz tem um histórico de sucesso em questões como a legalização da maconha recreativa, controle de armas e direitos LGBTQ+. Sua presença na chapa poderia energizar a base progressista do Partido Democrata e fortalecer o apoio no Centro-Oeste.

JB Pritzker, governador de Illinois, também é uma opção viável. Como uma estrela em ascensão dentro do Partido Democrata, Pritzker traz um histórico de sucesso econômico e políticas progressistas que podem atrair uma ampla gama de eleitores.

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Seu trabalho em fortalecer a economia de Illinois e em políticas de saúde pública pode servir como um poderoso contraponto aos ataques republicanos e ajudar a mobilizar eleitores em estados-chave.

Pete Buttigieg, atual secretário de Transporte e ex-prefeito de South Bend, Indiana, tem uma experiência significativa em campanhas presidenciais e é visto como um nome capaz de atrair eleitores moderados e jovens. Buttigieg se destacou nas primárias de 2020, demonstrando uma capacidade notável de comunicação e engajamento com diversos grupos demográficos. Sua inclusão na chapa poderia ajudar a ampliar o apelo de Harris entre eleitores indecisos e reforçar a imagem de renovação e diversidade do Partido Democrata.

Finalmente, o senador Mark Kelly do Arizona é outro nome que está sendo considerado para a vice-presidência. Como ex-astronauta e veterano militar, Kelly traz uma narrativa de serviço público e sacrifício que ressoa fortemente com muitos eleitores. Sua eleição para o Senado em um estado tradicionalmente republicano como o Arizona demonstra sua capacidade de conquistar apoio bipartidário. A presença de Kelly na chapa poderia solidificar o apoio no Arizona e em outros estados do Sun Belt, regiões onde Harris precisa performar bem para garantir a vitória.

Desde que se tornou a candidata presumível, Harris tem mostrado desempenho superior ao de Biden em estados-chave. Pesquisas recentes indicam que Harris está reduzindo a vantagem de Trump, especialmente em estados do Sun Belt como Geórgia e Arizona. Em comparação com Biden, Harris está conseguindo reconquistar eleitores jovens e minorias, segmentos em que Biden vinha enfrentando dificuldades.

A decisão de Biden de sair da corrida parece ter sido bem recebida pela maioria dos eleitores, aumentando o entusiasmo e a coesão dentro do Partido Democrata. A campanha de Harris arrecadou US$ 200 milhões na primeira semana após o anúncio de Biden, com um influxo significativo de novos doadores e voluntários.

Kamala Harris enfrenta um caminho desafiador, mas não impossível, para a vitória presidencial. Com múltiplos caminhos para alcançar os 270 votos no Colégio Eleitoral, sua estratégia dependerá de equilibrar a manutenção do apoio nos estados do Rust Belt e expandir seu apelo nos estados do Sun Belt. A escolha de um vice-presidente adequado será crucial para complementar suas forças e cobrir suas fraquezas.

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As pesquisas iniciais são promissoras e mostram que Harris tem potencial para se sair melhor do que Biden, especialmente entre eleitores não-brancos e jovens. A campanha está apenas começando, mas os sinais iniciais são de uma disputa acirrada e competitiva.

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