Venezuela: Maduro vence eleições, oposição denuncia fraudes e comunidade internacional pede transparência

Após seis horas de espera, o presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Elvis Amoroso, anunciou os resultados das eleições presidenciais deste domingo (28). Segundo os resultados oficiais, Nicolás Maduro recebeu 51,2% dos votos e Edmundo González Urrutia, 44,2%. Os venezuelanos pediam "mudança", mas mais uma vez a Venezuela entra em uma espiral de instabilidade política e social. Um homem morreu após um ataque atribuído aos "coletivos", os paramilitares ligados ao governo do país.

Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Entre gritos de fraude, panelaços e fogos de artifício, as reações foram imediatas após Elvis Amoroso informar que o vencedor da disputa eleitoral foi Nicolás Maduro. Segundo o CNE, ele venceu com 5.150.092 votos, o equivalente a 51,20%, enquanto Edmundo González, recebeu 4.445.978, ou seja, 44,2%. De acordo com a autoridade eleitoral, houve 59% de participação nas urnas. A diferença entre os principais candidatos foi de apenas 704.114 votos.

Antes mesmo de conhecer os resultados, partidários da oposição e do chavismo já estavam nas ruas de várias cidades do país comemorando, mesmo sem saber quem seria o ganhador. Boa parte dos eleitores de Edmundo González aguardavam na frente dos centros de votação, na tentativa de proteger as urnas com os comprovantes impressos dos votos. Durante o domingo, eles denunciavam irregularidades nas zonas eleitorais pelas redes sociais.

Festas para Chávez

Os chavistas em Caracas foram para o Palácio do Miraflores para aguardar os resultados e celebrar o aniversário de 70 anos de Hugo Chávez, que morreu em 2013. Nicolás Maduro, esperado por dezenas de seguidores, subiu ao palco instalado na frente do palácio presidencial para comemorar as eleições. Segundo ele, o resultado da votação foi "o triunfo da independência e da dignidade do povo da Venezuela". O presidente voltou a ressaltar que o "sistema eleitoral do país é o mais confiável".

A oposição também reivindicou a vitória. "Todos na Venezuela sabem o que aconteceu. Sabemos o que as pessoas fizeram para uma mudança pacífica. Hoje, os derrotamos com votos", disse Maria Corina, na madrugada desta segunda-feira, acompanhada por Edmundo González Urrutia. Segundo Corina, "violência é ultrajar a verdade". De acordo com a opositora, "o candidato Edmundo González obteve 70% dos votos". Ela pediu que (os militantes) continuem comemorando a vitória de Edmundo e reiterou que irá "até o final".

Edmundo González afirmou que "foram violadas todas as normas, como indica o fato de ainda não ter sido entregue a maioria das atas (de votação)". Omar Barbosa, secretário da Plataforma Unitária, informou que a oposição tem apenas 30% das atas de votação porque, devido às irregularidades, em algumas zonas eleitorais não foi permitido acesso a testemunhas. Ele fez um chamado para garantir a paz, a integridade do voto e o direito do povo a alternar o poder.

Protestos denunciam fraude

Em algumas partes do país os eleitores da oposição saíram às ruas para protestar após a divulgação dos resultados. Houve panelaços tanto em regiões populares como em áreas mais abastadas. Gritos de "fraude" também ecoaram em Caracas.

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Muitos venezuelanos passaram a noite em filas aguardando pelo início da eleição. Os locais de votação abriram às seis horas da manhã (7h em Brasília). No entanto, em algums deles, os eleitores denunciaram uma série de irregularidades - a maioria no interior do país. Também houve violência.

Durante a tarde, uma mulher foi baleada enquanto aguardava para votar em Maturim, capital de Monagas, no leste da Venezuela. O caso mais grave aconteceu em Patiecitos, no estado Táchira, fronteira com a Colômbia. Um homem morreu após ser baleado nas imediações de um centro de votação. No entanto, os partidários do chavismo celebram o resultado anunciado pelo CNE.

Lula pede análise profunda

Autoridades de todo o mundo criticaram o resultado informado pelo Conselho Nacional Eleitoral. O assessor especial da presidência brasileira, Celso Amorim, está em Caracas e anunciou que pedirá ao Centro Carter e ao painel de especialistas da ONU que analisem os resultados eleitorais.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, exigiu a recontagem "justa e transparente" dos votos presidenciais.

Até mesmo Elon Musk enviou mensagem pelas redes sociais chamando Maduro de "ditador".

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Vários presidentes e autoridades da região latino-americana criticaram os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral, entre eles o argentino Javier Milei e o uruguaio Luis Lacalle Pou.

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