Brasileiras que moram no sul do Líbano criam grupo de apoio online para ajudar pessoas em risco

No Oriente Médio, desde o assassinato dos líderes do Hamas e do Hezbollah na quarta-feira (31), a promessa de retaliação do Irã e de seus aliados contra Israel permanece. A tensão na região está em um nível altíssimo. A Embaixada do Brasil em Beirute orientou os brasileiros que moram ou estão de passagem pelo país a considerar deixar o Líbano "por meios próprios, até o retorno à normalidade". Brasileiras que moram no sul do país se organizaram numa inicitativa solidária de apoio e informações.

Os Estados Unidos reforçaram sua presença militar e várias companhias aéreas cancelaram voos para o aeroporto de Beirute, enquanto cidadãos de vários países receberam ordens de deixar o Líbano. O Líbano abriga a maior comunidade de brasileiros no Oriente Médio, com cerca de 22 mil pessoas, segundo o Itamaraty. A embaixada brasileira também recomendou que aqueles que não estão no país evitem viajar para lá.

Os Estados Unidos, a Suécia, a Jordânia, a Arábia Saudita, mas também a França e o Reino Unido, estão pedindo que seus cidadãos deixem o Líbano o mais rápido possível. Eles devem agir rapidamente, pois a cada dia que passa a resposta prometida pelo Irã e seus aliados - Hamas em Gaza, Houthis no Iêmen e Hezbollah no Líbano - torna-se mais iminente.

No entanto, a advogada líbano-brasileira, Jéssica Zakhour, que mora e trabalha na capital Beirute, diz não considerar a possibilidade de deixar o Líbano neste momento. "Até agora não pensei em deixar o país, até agora as tensões estão localizadas no sul e, fora isso, a vida continua normal. Não conheço outros brasileiros que estejam tentando sair, apesar de ter muito contato com a comunidade por causa da Embaixada e do meu trabalho", afirmou à RFI nesta segunda-feira (5). 

Zakhour diz não temer as tensões do momento, e que o Líbano continua mantendo um cotidiano normal, apesar das tensões nas fronteiras. "Os restaurantes, as baladas e as praias continuam cheios, isso reflete a resiliência e a determinação do povo libanês em celebrar a vida. A população demonstra uma força e uma capacidade de adaptação notáveis", acredita.

Já no sul, região controlada pelo Hezbollah libanês, a situação parece bem diferente. Orientadora consular, Katia Aawar contou que está há 12 anos envolvida com a comunidade brasileira no Líbano, em especial mulheres brasileiras, onde atua como intermediadora de conflitos. Ela criou, com as brasileiras em risco no sul, um grupo de apoio online para compartilhar informações em tempo real e dar apoio psicológico, em época de tensão.

"Logo no início dos conflitos fui procurada por brasileiras pedindo orientações e criei o grupo para informar e acompanhar a situação", conta. "Muitos brasileiros que querem voltar não têm recursos não só para viajar, mas também para recomeçar uma vida fora de suas casas", diz.

"Busquei apoio do consulado para que quem destas precisassem de documentos como passaportes e registros de nascimento em caso de urgência", conta Aawar. "Recomendei que todas as brasileiras tenham malas de emergência preparadas na porta de suas casas e mantenham seus documentos na cintura", afirmou.

Fronteira tensa

O Líbano compartilha uma fronteira tensa com Israel. Na noite de sábado (3), o Hezbollah reivindicou a responsabilidade pelo disparo de uma dúzia de foguetes contra a região. Os israelenses interceptaram a maioria deles e, em troca, atingiram o sul do país, que pode muito bem se tornar o epicentro do conflito, caso ele se regionalize.

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Em suas recomendações de viagem para o país, o Ministério das Relações Exteriores da França afirma que "em um contexto de alta volatilidade de segurança, mais uma vez chamamos a atenção dos cidadãos franceses, especialmente aqueles que estão de passagem, para o fato de que voos comerciais diretos com escalas na França ainda estão disponíveis, e orientamos tomar providências para deixar o Líbano o mais rápido possível".

No sábado, Washington e Londres já haviam aconselhado seus cidadãos a deixar o país. A Suécia anunciou o fechamento de sua embaixada em Beirute e pediu a seus cidadãos que deixassem o país. Depois de pedir a seus cidadãos que deixassem o Líbano no final de junho, o Canadá também pediu a eles no sábado que "evitassem todas as viagens a Israel".

Rotas de fuga fechadas

A partir de agora, quem quiser deixar o Líbano vai ter que agir rapidamente, pois várias companhias aéreas suspenderam os voos para o aeroporto da capital libanesa.

No sábado, a Air France e a Transavia France decidiram estender a suspensão até pelo menos 6 de agosto "devido à situação de segurança". A companhia aérea alemã Lufthansa suspendeu os voos até 12 de agosto. A Qatar Airways anunciou o cancelamento de seus voos noturnos para Beirute até segunda-feira que vem.

As possíveis rotas de partida já foram fechadas. Como resultado, os Estados Unidos pediram a seus cidadãos que adquirissem "qualquer passagem aérea disponível".

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