Em Paris, Formiga e Michael Jackson dizem o que falta para o futebol feminino decolar no Brasil

Formiga e Michael Jackson, duas jogadoras que marcaram a história do futebol brasileiro, estão na França para acompanhar os Jogos Olímpicos de Paris e promover a 10ª edição da Copa do Mundo Feminina de Futebol de 2027 no Brasil. O ministro do Esporte, André Fufuca, vê o evento como uma oportunidade para impulsionar a igualdade de gênero e o desenvolvimento do futebol feminino no país.

Mariléia dos Santos, ou melhor, Michael Jackson, como prefere ser chamada, integrou a seleção brasileira durante 12 anos, período em que disputou duas Copas do Mundo e uma Olimpíada. Já Miraildes Maciel Mota, conhecida pelo apelido de Formiga, participou de sete Copas e sete edições dos Jogos Olímpicos.

Experientes, as duas compartilham a mesma opinião sobre o que está faltando no Brasil para que as meninas tenham a mesma chance oferecida aos meninos de crescer no futebol e se dedicar a uma carreira profissional.

"O que nós pretendemos é que o futebol feminino não seja mais problema para as meninas que queiram jogar. Ela tem que ter facilidade, porque se ela está na escola, tem futebol. Se ela vai para a esquina, tem futebol. As meninas precisam de espaço para que elas possam jogar futebol a hora que quiserem", disse Michael Jackson durante um evento de apresentação da Copa do Mundo de 2027 na Casa Brasil em Paris. 

Formiga afirma que muitos talentos são desperdiçados, devido à falta de criação de categorias de base em cada clube do país para o futebol feminino. Faltam gramados para treino e acompanhamento técnico que eleve o futebol feminino ao mesmo patamar do masculino. Segundo Formiga, "infelizmente o machismo ainda reina dentro dos clubes". A torcida tem sido aos poucos conquistada, diz a meio-campista. Mas para mudar o cenário, é preciso promover mais jogos dentro do Brasil. "Os clubes precisam incluir o futebol feminino como pauta principal deles e chamar sua torcida, assim como o Corinthians chama a sua torcida ao estádio", defende Formiga. 

Duas vezes vice-campeã olímpica e uma vez vice-campeã mundial, Formiga alerta que é preciso recrutar pessoas capacitadas para acompanhar as equipes femininas nos clubes. "O presidente tem que ser flexível, escutar e executar as necessidades que o futebol feminino precisa. Dessa forma, a gente vai conseguir, sim, trazer torcedores, o que tínhamos antes", preconiza. Ela também é favorável à apresentação de times femininos nas preliminares de jogos masculinos. "Eu não vejo como uma coisa ruim as preliminares. É dar essa oportunidade para que a torcida saiba o que é o futebol feminino", argumenta.

'Torcer e xingar'

Durante os governos da ex-presidente Dilma Rousseff, Michael Jackson coordenou o departamento de futebol feminino do Ministério do Esporte e recorda da época como um período de avanços. "O Ministério do Esporte fez um papel excelente porque o Campeonato Brasileiro estava parado há mais de 11 anos e com a minha coordenação o torneio voltou", recorda. 

Depois de disputar sete Olimpíadas, Formiga conta que veio a Paris preparada para encarar qualquer resultado da atual seleção brasileira. "A função vai ser torcer, torcer, torcer e xingar. Xingar bastante, cobrar, entender que quando eu jogava, fiz quantas pessoas passar raiva como eu passo hoje?", fala em tom divertido. "É uma emoção gostosa", garante. "É bom ver outras meninas batalhando em campo, algo que eu fiz por tantos anos. Saber que a minha luta e a luta das pioneiras não estão sendo em vão, que essas meninas têm hoje a oportunidade de vestir a camisa e sentir a emoção e a atmosfera que é uma Copa do Mundo, assim como as Olimpíadas", enfatiza. 

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A Copa do Mundo Feminina de Futebol de 2027 terá 32 países participantes e 64 partidas. A abertura e a final serão no Maracanã, no Rio de Janeiro. Dez capitais que já receberam jogos do torneio masculino em 2014 foram selecionadas para o evento: Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). O ministro André Fufuca considera que a infraestrutura esportiva necessária já está pronta, o que evitará novos gastos.

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