Kamala Harris aceita nomeação para ser candidata democrata e promete unir americanos

Kamala Harris aceitou nesta quinta-feira (22) a nomeação oficial do Partido Democrata durante a convenção da sigla, em Chicago. Em seu discurso, ela prometeu dar um novo rumo ao país. "Em nome do povo, de cada americano, independentemente do partido, da raça, do gênero ou da língua falada pelos seus antepassados, aceito a nomeação", declarou a vice-presidente de 59 anos.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Chicago

A última noite da Convenção do Partido Democrata no United Center encerrou uma semana de festa. O evento acontece cerca de um mês após a desistência de Joe Biden à reeleição e teve que ser totalmente reorganizado para a nova candidata.

"Eu serei a presidente que nos unirá em nossas maiores aspirações, que lidera e ouve", prometeu Kamala. Vestida com um traje azul-marinho, cor do Partido Democrata, ela agradeceu Biden pelo apoio à sua candidatura.

"O caminho que me trouxe até aqui foi, sem dúvida, inesperado", afirmou diante dos mais de 5 mil delegados do partido que a nomearam. "Mas estou acostumada com esse tipo de reviravoltas", declarou. Kamala também homenageou seus pais, que a inspiraram em sua trajetória. A vice-presidente falou sobre suas origens na Califórnia, como filha de imigrantes. O pai da candidata é jamaicano e sua mãe era indiana.

A candidata disse acreditar que os Estados Unidos estão prontos para seguir adiante. "Neste país, tudo é possível. Nada está fora de alcance", completou antes que balões tomassem o recinto, encerrando uma convenção histórica.

Críticas a Trump

Como era esperado, Kamala Harris criticou Donald Trump. "Em muitos aspectos, Donald Trump é um homem pouco sério e as consequências de seu retorno à Casa Branca seriam extremamente graves", disse a democrata, alertando para o fato de que, em um segundo mandato, Trump teria o poder de perdoar os próprios crimes pelos quais vem sendo julgado pela Justiça americana.

Sobre a guerra em Gaza, a candidata democrata disse que é preciso negociar o cessar-fogo imediatamente, mas lembrou que os Estados Unidos, sob seu governo, sempre apoiarão Israel em seu direito de se defender. No momento da fala, alguns gritos de "Palestina livre" ecoaram da platéia.

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Em relação ao aborto,  a candidata, que tem entre suas bandeiras de campanha a defesa das mulheres, dividiu com o público um episódio de abuso sofrido por uma colega de faculdade. A vice-presidente contou que o  trauma vivido pela amiga, foi uma das razões que a motivou a se tornar procuradora.

Os chamados direitos reprodutivos ganharam destaque na Convenção. Uma van instalada nas imediações do evento oferecia contracepção de emergência e vasectomias gratuitas. O candidato a vice, Tim Walz, relatou o tratamento de fertilidade que teve de passar com a esposa.

Outro momento marcante do evento foi a presença de quatro integrantes do grupo conhecido como "Central Park 5". Um de seus membros, Yusef Salaam, integra agora o Conselho Municipal de Nova York. Ele foi um dos cinco adolescentes negros da cidade injustamente acusados ??de estuprar e espancar uma corredora no Central Park em 1989.

Em seu discurso, Salaam falou sobre a cruzada de Donald Trump na época para puni-los, incluindo a aplicação da pena de morte, e como Trump continuou a denunciá-los depois deles terem sido inocentados.

Convenção empolga Partido Democrata 

Após um começo de campanha eclipsado pelo mal desempenho de Biden no primeiro debate presidencial e pelo atentado contra Donald Trump, o Partido Democrata voltou aos holofotes. Alguns dos adjetivos utilizados pela mídia local para descrever a Convenção foram "eletrizante", "histórica", "entusiasmada", "unificada" e "progressista".

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Vários integrantes do partido discursaram durante o evento, como a ex-primeira dama Michelle Obama. Ela pediu "ação" aos delegados, e alertou, ao lado do ex-presidente Barack Obama, que ainda há muito trabalho a ser feito até o momento das eleições. Eles lembraram que Kamala Harris deverá contar com um trabalho ativo de sua militância para chegar à presidência.

O ex-presidente Bill Clinton também advertiu que ainda é cedo para cantar vitória. "Temos energia, estamos felizes, sentimos que um peso foi tirado de nossos ombros", disse Clinton. Mas, acrescentou, "vimos mais de uma eleição nos escapar quando pensávamos que isso não poderia acontecer, quando as pessoas se distraíam com questões falsas ou com excesso de confiança".

Liberdade como centro da campanha

Os principais temas dos discursos desta semana em Chicago abordaram a defesa das liberdades individuais, assim como críticas diretas a Trump como uma real ameaça à democracia. "Não importa quem você seja, Kamala Harris vai se levantar e lutar pela sua liberdade de viver a vida que você deseja, porque é isso que queremos para nós mesmos", disse o candidato a vice Tim Walz na noite desta quarta (21).

A invasão ao Capitólio do dia 6 de janeiro de 2021 foi exposta como uma ameaça à democracia incentivada por Trump. A ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, pediu ao público para não esquecer  "quem salvou a Democracia naquele dia", disse ela. "Nós o fizemos!", lembrou, completando que "graças a Deus a Câmara estava composta por uma maioria democrática", naquele momento.

A intenção de semear um senso de comunidade, na tentativa de unir um país dividido, também deu o tom de várias falas. A apresentadora Oprah Winfrey, por exemplo, declarou aos democratas que "quando uma casa está em chamas, não perguntamos sobre a raça ou religião do proprietário, não nos perguntamos quem é o seu parceiro ou como votou."

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Esta ideia de união contrasta com a proposta republicana de deportação em massa de imigrantes. Os democratas ressaltam que seu plano de governo inclui todos, sem exceção. Para isso a assessoria de imprensa da campanha de Harris enfatizou o fato dela também ser filha de dois imigrantes e anunciou o lançamento de um canal de Whatsapp com o objetivo de se aproximar do eleitorado latino.

Trump faz visita a fronteira para desviar a atenção de Chicago

Em uma visita relâmpago ao estado do Arizona, na fronteira sul, Trump voltou a responsabilizar Harris pela crise migratória dizendo que ela é "responsável por um número recorde de imigrantes ilegais que entram no país, incluindo criminosos violentos e terroristas". Uma das principais críticas do republicano é que Kamala nunca visitou a fronteira, mesmo sendo esta uma de suas responsabilidades no cargo de vice-presidente.

 

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