Tribunal autoriza imprensa a ver vídeos de estupros de francesa drogada pelo marido durante processo

A decisão, descrita como uma "vitória" pelos advogados de Gisèle Pélicot, foi anunciada pelo juiz do tribunal francês, Roger Arata, após um debate que durou quase duas horas no início da audiência nesta sexta-feira (4). A transmissão das imagens será, no entanto, precedida de um "anúncio que permita que pessoas sensíveis e [menores] saiam da sala", disse o magistrado.

Nesta sexta-feira (4), o tribunal criminal de Vaucluse reverteu a decisão inicial de seu presidente e decidiu que os vídeos e fotos exibidos durante os procedimentos do julgamento dos chamados "estupros de Mazan", numa referência à pequena cidade onde Pélicot foi drogada e abusada pelo marido durante décadas, seriam, a partir de agora, exibidos na presença da imprensa e do público.

Os vídeos dos eventos relativos a alguns dos réus começaram a ser exibidos nesta sexta-feira à tarde, às 13h30 locais (8h30 no Brasil), após o recesso do tribunal, anunciou Roger Arata, o juiz presidente da corte que julga o caso de Pélicot. As transmissões não serão "sistemáticas" e só ocorrerão em casos "estritamente necessários para estabelecer a verdade", a pedido de uma das partes, acrescentou Arata.

O estupro é tão chocante, tão indigno, que mesmo em 2024 a sociedade ainda não está pronta para encará-lo de frente

A decisão ocorreu após uma reviravolta do tribunal em 20 de setembro, quando o juiz decidiu que os vídeos seriam exibidos à portas fechadas, na ausência do público e dos jornalistas, argumentando que as "imagens são chocantes e indecentes".

Essa restrição provocou fortes reações, especialmente dos advogados de Gisèle Pélicot, que pediram que os procedimentos fossem abertos ao público novamente. Stéphane Babonneau, representante da vítima, expressou sua frustração na época: "O estupro é tão chocante, tão indigno, que mesmo em 2024 a sociedade ainda não está pronta para encará-lo de frente".

Um "sentido para o sofrimento"

A mudança da decisão do tribunal sobre a transmissão dos vídeos foi descrita como uma "vitória" pelos advogados de Gisèle Pelicot. "Mas foi uma vitória em uma batalha que não deveria ter sido travada", disse Babonneau. "Para Gisèle Pélicot, é tarde demais, o dano já foi feito. Mas se esses mesmos debates, por meio de sua difusão, impedirem que outras mulheres tenham que passar por isso, então ela encontrará sentido em seu sofrimento", argumentou.

Pélicot, que foi estuprada durante dez anos por seu marido, Dominique Pélicot, e por dezenas de homens desconhecidos que ele recrutou na internet, depois de tê-la drogado com medicamentos ansiolíticos, opôs-se a que os procedimentos fossem realizados à portas fechadas tão logo eles foram iniciados em 2 de setembro.

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Desde o começo do julgamento, Gisèle Pelicot pediu um debate público como parte de sua luta para dar visibilidade à violência sexual.

Para um de seus advogados, Antoine Camus, esses vídeos "derrubam a teoria do estupro acidental". Segundo ele, as imagens "mostram que foram estupros oportunistas e que, além disso, foi uma questão de degradação, humilhação e desonra, e na realidade foi uma questão de ódio às mulheres. Nenhum deles denunciou os fatos, cada um deles contribuiu, à sua maneira, para essa banalidade do estupro, essa banalidade do mal", acrescentou Camus.

Vídeos dos estupros

Por outro lado, alguns advogados dos cinquenta co-réus nesse julgamento extraordinário na França se opuseram veementemente à presença do público e da imprensa durante a exibição dos vídeos. "A justiça não precisa disso para ser aprovada, qual é o objetivo dessas projeções nauseantes? Tivemos uma exibição do primeiro caso. Um vídeo não foi suficiente?", argumentou Olivier Lantelme, sem sucesso, se referindo à transmissão, na quinta-feira, de imagens arrepiantes que mostravam um acusado abusando de Gisèle Pelicot completamente inerte.

No entanto, a promotora pública também solicitou na manhã desta sexta-feira que a audiência fosse fechada à imprensa e ao público.

A advogada de Dominique Pélicot, Béatrice Zavarro, que havia dito anteriormente que era a favor da divulgação dos vídeos, decidiu não se pronunciar desta vez.

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(Com agências)

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