Ganhador do Prêmio Renaudot, Gaël Faye é um artista múltiplo cujo trabalho retoma feridas de Ruanda
Gaël Faye, 42 anos, passou do basquete para a música e seu primeiro álbum solo, "Pili-Pili sur un croissant au beurre", lhe deu notoriedade em 2013. Depois ganhou um prêmio Victoire de la musique (revelação de palco) em 2018 e lançou outro álbum, "Lundi méchant", em 2020. Esta segunda-feira (4), o artista foi laureado com o Prêmio Renaudot, uma das mais importantes premiações literárias da França.
Em 2016, seu primeiro romance, "Petit pays", chegou à final do Prêmio Goncourt, vencido por Leila Slimani. O Goncourt é atribuído todos os anos ao melhor livro de ficção. Finalmente, em 2024, seu segundo romance "Jacaranda" foi um dos favoritos dos júris dos prêmios literários.
Os leitores se apaixonaram, não apenas os fãs da música de Gaël Faye, mas também os amantes da literatura contemporânea. "O sucesso se deve à graça do homem. Há tanta sinceridade, tanto magnetismo...", diz Olivier Nora, diretor da editora Grasset, que publicou o livro na França.
Gaël Faye est lauréat du Prix Renaudot 2024 pour son roman Jacaranda ! pic.twitter.com/mMEhZBgs2j
? Grasset et Fasquelle (@EditionsGrasset) November 4, 2024
Palavras de apaziguamento
Na sua obra literária, a escrita é tão ágil quanto graves são os temas abordados. É impossível se desvencilhar do genocídio que, em 1994, dilacerou Ruanda, o país de sua mãe tutsi.
"A primeira vez que comecei a cantar foi em celebrações que marcam o genocídio. Eu tinha 15, 16 anos", revelou o artista à AFP em setembro.
"Quando alguém acaba de contar sua provação, a única coisa que você pode fazer é inventar palavras suaves. Essa sempre foi minha abordagem", acrescentou.
Sobre o genocídio, Gaël Faye, que é francês e ruandês, nunca perde a oportunidade de aconselhar as pessoas a lerem, por um lado, os testemunhos dos sobreviventes e, por outro, os livros de história mais recentes. Sua literatura e as letras de suas músicas adotam uma abordagem diferente para retratar Ruanda, país da África Oriental onde ele vive hoje. Eles adotam o ponto de vista das pessoas traumatizadas.
O narrador de "Petit pays" cresceu em Burundi, como o autor. Já o narrador de "Jacaranda" nasceu na França antes de partir para Kigali para estudar justiça pós-genocídio.
Ambição
Os críticos literários franceses mais perspicazes podem ter tido sentimentos contraditórios sobre a qualidade desses romances, seu estilo e sua construção. Mas não sobre o equilíbrio entre autor, tema e público.
"Um produto literário bem feito", em que 'o jovem adulto reconstruindo sua infância torna-a muito mais coerente do que certamente foi', disse uma importante revista literária sobre "Petit pays".
"Seu texto é eficaz, generoso e envolvente. Ele mostra as lacunas, mas as preenche", descreveu o jornal francês Le Monde sobre "Jacaranda". O diário disse que "a linguagem é fluida, mas não oferece surpresas".
Sem dúvida, a literatura de Gaël Faye, um artista que multiplica os canais de expressão, ainda tem muito a evoluir. "Quando cheguei à Grasset, eu lhes disse: considerem-me um autor. Não como o rapper que escreve romances".
(Com AFP)
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