Carteira de combatente francês da Resistência, confiscada há 80 anos pela Gestapo, é devolvida à família
No final de outubro, a família de Camille Labrux conseguiu recuperar a carteira desse avô da Resistência, graças à ajuda dos arquivos de Arolsen (Alemanha), em uma cerimônia organizada na antiga prisão de Montluc, na França, onde ele ficou preso após ser detido pela Gestapo em 1944. A notícia foi tema de uma reportagem publicada esta terça-feira (5) no jornal francês Le Figaro.
Em uma cerimônia realizada na prisão de Montluc, em Lyon, a família do combatente da resistência Camille Labrux conseguiu recuperar a carteira de seu avô, confiscada 80 anos antes, quando ele foi preso pela Gestapo (polícia secreta da Alemanha nazista).
A cerimônia, organizada em 28 de outubro pelas autoridades de Rhône, região dos Alpes, só foi possível graças aos arquivos de Arolsen, o maior centro de documentação, informação e pesquisa do mundo sobre a perseguição nazista, o Holocausto e o trabalho durante a Segunda Guerra Mundial. Entre os 30 milhões de documentos originais, pesquisadores do centro conseguiram desvendar a identidade de Camille Labrux por trás do pseudônimo de Anthelme Girerd, que ele usava em suas atividades de resistência.
Bernard Labrux, neto de Camille Labrux, foi contactado ainda em maio de 2023 para ser informado sobre a descoberta. Ele esteve presente na cerimônia e fez uma declaração emocionada ao Le Figaro: "Na época, fiquei muito surpreso. Eu tinha visto na Internet que esses arquivos existiam e queria entrar em contato com eles. Mas me contive porque não sabia o nome de sua falsa identidade. Eu realmente gostaria que ele tivesse estado lá para ver a apresentação".
Um avô que "falava muito pouco" sobre seu passado como combatente da Resistência e membro da equipe da rede de franco atiradores e partidários franceses (Francs-tireurs et partisans français - FTPF), da qual era responsável pelo recrutamento na região do sudeste da França. "Por outro lado, ele escrevia. Seus manuscritos nunca foram publicados, ele conheceu historiadores, mas no final não gostou do que produziu. Para ele, não representava suficientemente o que ele havia vivido", explica Bernard Labrux, que se comprometeu a escrever uma biografia para que essa memória possa ser transmitida a 'seus filhos e netos'.
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Um pseudônimo que salvou sua vida
Camille Labrux, que faleceu em 1994, foi deportado em 1944 após ser preso pela Gestapo. Internado em Montluc, ele foi deportado para o campo de concentração de Neuengamme, na Alemanha. Ele deveu sua salvação à sua identidade falsa, como Anthelme Girerd, que ele havia criado meticulosamente. "A maioria dos membros da sede da FTPF foi fuzilada. Ele não foi. Ele havia inventado esses documentos falsos porque não confiava em quase ninguém. Ele criou uma identidade falsa com documentos válidos. Ele tinha recibos de pagamento falsos de uma empresa em Clermont-Ferrand e recibos de aluguel falsificados. Foi isso que salvou sua vida", continua seu neto.
Na libertação, ele escapou por pouco da morte depois que os britânicos bombardearam o navio em que ele estava sendo transportado pelos alemães, o Athen. Ele acabou retornando a Lyon. Como símbolo, as fábricas Berliet, para as quais ele havia trabalhado e que havia sabotado em 1940, decidiram batizar os primeiros quatro caminhões do pós-guerra com o nome dos combatentes da Resistência. O primeiro veículo foi batizado com o nome de Jean Moulin, o segundo General Delestraint, o terceiro de Emmanuel d'Astier de la Vigerie e o último com o nome de Camille Labrux.
"Quando o orador disse o nome do meu avô e indicou que ele estava morto, ele saiu da fila para dizer: 'Ainda estou vivo'. Isso surpreendeu a todos. Estava escrito em todos os lugares que ele havia sido deportado ou fuzilado".
Essa não é a primeira vez que os arquivos de Arolsen entregam objetos pessoais a uma família em Lyon. Em março passado, o arquivo permitiu que o sobrinho de Yvon Montagny, um jovem de 19 anos injustamente acusado de sabotagem que foi deportado em 1945, recuperasse o relógio que lhe pertencia.
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