Hamas x Israel x hutis: ano termina com ainda mais questionamentos

O ano termina ainda com muitos impasses na guerra entre Israel e Hamas, até porque há muitas situações em aberto: um acordo de cessar-fogo que seja capaz de interromper em Gaza a guerra e libertar os reféns israelenses ainda não saiu; o norte da Faixa de Gaza é o foco da atual operação de Israel; e os hutis, no Iêmen, são agora uma preocupação real do governo israelense. 

Henry Galsky, correspondente da RFI Brasil em Israel

O exército israelense realizou ataques aéreos contra as instalações do antigo hospital de Al-Wafa, na Cidade de Gaza, norte do enclave. 

A imprensa palestina informa que sete pessoas morreram. O exército de Israel afirma que se tratam de membros da unidade de defesa aérea do batalhão de Shejaiya, do Hamas, que operavam a partir da estrutura do hospital que está desativado. 

Segundo o exército, os membros do Hamas usavam o centro de comando do hospital para planejar e executar ataques contra tropas que operam em Gaza.

Israel também encerrou as operações no hospital Kamal Adwan, no norte da Faixa de Gaza. A incursão ao hospital levou à Organização Mundial de Saúde (OMS) a se manifestar por meio de comunicado. A OMS disse estar "horrorizada" pela incursão ao hospital e afirmou que o cerco colocava "em risco as vidas dos 75 mil palestinos que continuam na região". 

Segundo o exército, 240 membros de grupos extremistas foram presos na ação, sendo que quinze deles teriam participado dos ataques de 7 de outubro de 2023. 

Entre os presos está o diretor do hospital, Hussam Abu Safiya. Israel considera que ele também é suspeito de ser um agente do Hamas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os pacientes e trabalhadores do Kamal Adwan foram transferidos para o Hospital Indonésio, em Beit Lahia, também no norte de Gaza. 

No sábado, depois de dois foguetes terem sido disparados contra Jerusalém a partir do extremo norte de Gaza, o Exército de Israel deu ordens para a população civil deixar Beit Hanoun, que fica ao lado de Beit Lahia. 

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No domingo, grupos palestinos dispararam cinco foguetes contra Israel a partir do norte de Gaza. Dois dos foguetes foram interceptados por Israel, enquanto os outros três caíram em áreas abertas. 

Por causa disso, segundo Israel, o exército emitiu mais um alerta aos civis palestinos: eles devem deixar uma grande área perto de Jabalia, no norte do território, e precisam mais uma vez se deslocar, agora para abrigos localizados na Cidade de Gaza. 

Segundo fontes militares, o exército atua em Jabalia desde o início de outubro e enfrenta a resistência de células remanescentes do Hamas na área. Ainda de acordo com essas fontes, as forças israelenses se aproximam de completar a missão em Jabalia. 

Palestinos acusam Israel de buscar esvaziar o norte da Faixa de Gaza para estabelecer uma zona tampão e impedir a aproximação da cerca que separa os dois territórios, de modo a impedir que uma situação similar à invasão do Hamas em 7 de outubro de 2023 volte a acontecer. Israel rejeita a acusação. 

Dúvidas sobre cessar-fogo

Nas últimas duas semanas, havia algum otimismo sobre um acordo. Agora, Israel e Hamas se acusam mutuamente pelo impasse, embora as negociações continuem no Catar, mas sem a presença de uma delegação israelense. 

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Fontes egípcias citadas pelo canal Al-Arabi do Catar disseram que o processo de negociação pode entrar em colapso devido à teimosia israelense. Segundo essas informações, Egito e Catar acusam "o escalão político israelense de impedir as visitas de altos funcionários da área de segurança de Israel ao Cairo e a Doha. E afirmam que as negociações podem fracassar definitivamente, se Israel não mudar sua abordagem.

Já o governo israelense afirma que um dos principais neste momento é a recusa ou incapacidade do Hamas para elaborar uma lista com os nomes e a situação de saúde dos reféns israelenses mantidos em cativeiro desde 7 de outubro do ano passado. A metade está morta. 

O jornal do Catar Al-Arabi Al-Jadid cita uma fonte do Hamas que informa sobre a dificuldade de comunicação com os demais grupos extremistas palestinos. Embora o Hamas seja o principal interlocutor de Egito e Catar nas negociações, os reféns foram distribuídos entre outras organizações, como a Jihad Islâmica Palestina.

"O Hamas enfatizou durante as negociações que estaria preparado para fornecer uma lista completa dos sequestrados vivos após o cessar-fogo", disse esta fonte.

Israel quer receber uma lista antes de o acordo de cessar-fogo ser assinado.

Já um outro membro do Hamas garante que o grupo forneceu uma lista com os nomes dos reféns vivos, afirmação negada por Israel. Esta mesma pessoa diz que, apesar disso, há dificuldades para entrar em contato com os demais grupos que mantêm os reféns sequestrados.

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Foco de Israel se volta para os hutis, no Iêmen

Israel já realizou quatro ataques contra os hutis, o último deles na semana passada, deixando três mortos e 30 feridos. 

Após os hutis dispararem seis mísseis balísticos contra Israel num período de menos de duas semanas, as autoridades de defesa israelenses concluíram que não será possível conter os ataques do grupo radical iemenita apenas com ações pontuais. Os israelenses, portanto, consideram a possibilidade de uma guerra de duração prolongada, segundo informação publicada pelo portal N12.

A expectativa é que Israel reúna mais dados e amplie os alvos a serem atingidos no Iêmen. Os ataques devem acontecer também com mais frequência. A cooperação com outros países também deve aumentar, uma vez que a atuação dos hutis não apenas ameaça Israel, mas o comércio internacional.

Relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, em inglês), do governo dos Estados Unidos, mostra que pelo menos 65 países, inclusive o Brasil, foram diretamente prejudicados pela ação dos hutis no Mar Vermelho, rota de passagem para entre 10% e 15% do comércio marítimo internacional. Ao menos 29 grandes empresas de energia e transporte alteraram planejamentos para evitar ataques hutis; o transporte de contêineres pelo Mar Vermelho caiu aproximadamente 90% desde dezembro de 2023.

Uma guerra no Iêmen seria um desafio inédito a Israel, uma vez que envolve uma série de complexidades logísticas, já que há dois mil quilômetros separando os dois países. Israel se prepara também para possíveis efeitos na aviação civil, na medida em que os mísseis balísticos disparados pelos hutis provavelmente devem levar ao cancelamento de voos para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, próximo a Tel Aviv.

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