Morre aos cem anos Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA, deixando legado de diplomacia e humanidade
O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, faleceu neste domingo (29) em sua residência na Geórgia. Com 100 anos de idade, o político havia optado há quase dois anos por não continuar com cuidados médicos intensivos após uma série de crises de saúde. A informação da morte foi confirmada por pessoas próximas à família e pelo Carter Center, organização sem fins lucrativos fundada por ele e sua esposa, Rosalynn.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
O atual presidente americano, Joe Biden, agendou o funeral de Jimmy Carter para o dia 9 de janeiro, em Washington, e declarou essa data como um Dia Nacional de Luto em todo o país.
Antes de ingressar na política, Carter era agricultor de amendoim e tenente da Marinha dos EUA. Ele serviu como governador da Geórgia antes de assumir a presidência entre 1977 e 1981. Seu mandato foi marcado por turbulências econômicas, mas ele conquistou reconhecimento global por suas ações humanitárias e diplomáticas pós-presidência. Foi o único ex-presidente americano a alcançar os 100 anos.
Casado por mais de 75 anos, Jimmy Carter compartilhou uma parceria notável com Rosalynn Carter, falecida em novembro de 2023, aos 96 anos. Ela era reconhecida por seu trabalho em defesa da saúde mental e causas humanitárias. O casal detinha o título de mais longa união presidencial da história dos Estados Unidos.
Tributos de líderes globais
Diversos líderes globais se manifestaram com relação à morte do ex-presidente Jimmy Carter, destacando sua vida dedicada ao serviço público, à paz e aos direitos humanos.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden fez um discurso no qual lembrou Carter como um exemplo de decência e compaixão, destacando sua fé inabalável na humanidade. Através das redes sociais, a vice-presidente Kamala Harris enfatizou que ele demonstrou a força da bondade e do compromisso com o bem comum. Donald Trump, presidente eleito, ressaltou os desafios enfrentados durante sua presidência e reconheceu os esforços de Carter para melhorar a vida dos americanos. Já o ex-presidente George W. Bush destacou a contribuição de Carter para um mundo mais justo, mencionando seu trabalho com organizações como o Habitat for Humanity e o Carter Center.
Na arena internacional, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, destacou o papel de Carter na promoção da paz mundial, mencionando seu papel crucial nos históricos Acordos de Camp David, que levaram ao primeiro tratado de paz entre Israel e Egito, encerrando décadas de conflito direto.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou Carter como "um amante da democracia e defensor da paz". Ele também relembrou a atuação do ex-presidente norte-americano durante a ditadura militar brasileira, quando pressionou o regime pela libertação de presos políticos, e afirmou que Carter será lembrado por sua defesa da paz como condição essencial para o desenvolvimento.
Da Europa, mensagens carregadas de admiração também marcaram o momento. O rei Charles III recordou a dedicação de Carter ao serviço público e à promoção dos direitos humanos, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou sua luta incansável pelos mais vulneráveis e pela paz global. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, apontou como Carter redefiniu o papel de ex-presidente com seu compromisso notável com justiça social e direitos humanos.
O legado de Jimmy Carter foi celebrado como um exemplo de liderança baseada em princípios, uma inspiração para futuras gerações e um símbolo de solidariedade global.
Carter e o Brasil
As relações entre Carter e o Brasil foram tensas - ainda candidato presidencial, ele colocou o desarmamento nuclear e a defesa dos direitos humanos na pauta de sua política externa. O Brasil estava em plena ditadura militar, negando torturas, abusos de direitos humanos e censura à imprensa. Paralelamente, o governo militar queria a expansão nuclear no país, tendo assinado um acordo de cooperação com a Alemanha, que resultou na construção dos reatores das usinas em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Carter irritou os militares ao enviar o vice Walter Mondale para a então Alemanha Ocidental, para que tentasse pôr fim ao acordo de cooperação nuclear alemão com o Brasil. A viagem foi feita sem conhecimento prévio das autoridades brasileiras. O acordo foi mantido e o então presidente brasileiro, general Ernesto Geisel, terminou um acordo de assistência militar entre os EUA e o Brasil.
Antes de ir ao Brasil, Carter enviou Rosalynn, que se encontrou com os militares, mas também com parlamentares da oposição e missionários americanos que testemunharam sobre a repressão no Brasil.
Carter visitou o Brasil em 1978, mas evitou fazer críticas explícitas ao governo brasileiro. No entanto, o presidente americano, driblando o protocolo, conseguiu se encontrar na ocasião com dom Paulo Evaristo Arns, cardeal e arcebispo de São Paulo, além de árduo combatente da ditadura militar.
Em 1984, Jimmy Carter, agora como ex-presidente, fez uma nova visita ao Brasil e teve um encontro com o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, na época líder do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 2009, já vencedor do Nobel da Paz, Carter veio novamente ao Brasil, durante o segundo governo Lula.
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