De volta à Colômbia, 200 migrantes deportados pelos Estados Unidos falam sobre o 'pesadelo'
Nesta terça-feira (28), dois aviões militares enviados pelo governo colombiano repatriaram cerca de 200 pessoas que haviam sido expulsas pelos Estados Unidos, incluindo várias que denunciaram condições de detenção e deportação dignas de um "pesadelo norte-americano".
A chegada foi anunciada pelo presidente colombiano Gustavo Petro e ocorre após tensões diplomáticas entre os dois países no último fim de semana, relacionadas ao transporte de migrantes expulsos pela administração Trump.
Petro, o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia, havia recusado no domingo a chegada de voos militares norte-americanos com colombianos deportados, preocupado com a "dignidade" das pessoas a bordo. No Brasil, o governo Lula também criticou no dia anterior o "tratamento degradante" de 88 migrantes brasileiros expulsos pelos Estados Unidos, que afirmaram ter viajado "com pés e mãos atados".
Em sua conta no X, Petro declarou: "Os migrantes que chegaram hoje a Bogotá são colombianos, livres e dignos, em seu país que os ama. Um migrante não é um criminoso, mas um ser humano que quer trabalhar, evoluir e viver sua vida." Entre os repatriados, estavam 21 crianças e duas mulheres grávidas, informou o ministro das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo. Ele ressaltou que essas pessoas foram deportadas devido à "situação migratória irregular" e que nenhuma delas é procurada pela justiça, nem na Colômbia, nem nos Estados Unidos.
Carlos Gomez, um dos deportados, descreveu à imprensa as difíceis condições de detenção. "Não é o sonho norte-americano, mas o pesadelo norte-americano", afirmou, em entrevista no aeroporto El Dorado de Bogotá. Após passar apenas uma semana nos Estados Unidos com seu filho de 17 anos, ele contou que a comida era "horrível", "jogada no chão", e que eles passaram longos dias confinados em "celas" onde não podiam distinguir o dia da noite.
Carlos e seu filho estavam a bordo de um dos voos americanos que foram recusados por Gustavo Petro, partindo de San Diego. "Fomos algemados, ficamos apertados", e seu filho chorava dizendo "papai, estou com dor", lembrou ele. A bordo, "fomos algemados e usamos correntes na cintura, como se fôssemos... criminosos de alta periculosidade", relatou Daniel, outro migrante, que pagou mais de U$ 5.000 a traficantes para chegar aos Estados Unidos.
Após horas de tensões e a ameaça de sanções comerciais recíprocas, "o impasse" foi superado, e Washington retirou a ameaça de tarifas sobre produtos colombianos. Aviões militares colombianos decolaram de Bogotá na segunda-feira para repatriar migrantes dos estados do Texas e Califórnia, que os Estados Unidos desejavam expulsar.
O governo colombiano anunciou nesta terça-feira fundos para apoiar a "reinserção produtiva" dos repatriados, sem esclarecer se haverá mais voos para os Estados Unidos. Donald Trump, desde seu retorno ao poder em 20 de janeiro, prometeu lançar "o maior programa de deportações da história americana". A Casa Branca se vangloriou da prisão de centenas de "migrantes criminosos ilegais", destacando que foram expulsos por aviões militares, ao invés de civis, como era feito anteriormente.
Após a disputa com a Colômbia, Trump se orgulhou de que "a América está novamente sendo respeitada". "Deixamos claro para todos os países que vamos devolver os criminosos, os estrangeiros ilegais que vêm desses países", afirmou.
Relações tensas com a América Latina
"O que aconteceu entre a Colômbia e os Estados Unidos nos últimos dias é exatamente o que não deveria acontecer", disse Juan Manuel Santos, ex-presidente colombiano, durante um evento em Washington, mencionando "erros de ambos os lados". Os planos de deportações em massa de migrantes colocaram Trump em rota de colisão com os governos latino-americanos, de onde vêm a maioria dos cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos nos Estados Unidos.
Na segunda-feira, o governo brasileiro convocou o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília para exigir explicações. Uma reunião de emergência da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), proposta pela presidente de Honduras, Xiomara Castro, para discutir questões migratórias diante da ofensiva de Trump, está marcada para quinta-feira.
(Com AFP)
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