Carla Araújo

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Reportagem

O que acontece com Lira e Pacheco agora fora das cadeiras de presidente

Deixar a cadeira da presidência da Câmara e do Senado, depois de quatro anos com o poder de tocar a pauta legislativa, não é uma mudança simples.

"Voltar para a planície", como se costuma dizer em Brasília, exige sabedoria política e muita estratégia.

Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) sabem disso. Os dois deixam a presidência da Câmara e do Senado neste sábado (1º) de olho em 2026. Ambos têm diversos caminhos possíveis de serem traçados para atingir seus objetivos políticos.

Lira foi Bolsonaro na eleição de 2022 e agora está cotado a virar ministro de Lula
Lira foi Bolsonaro na eleição de 2022 e agora está cotado a virar ministro de Lula Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert/PR

De algoz a aliado

Lira, que na campanha de 2022 subiu nos palanques de Jair Bolsonaro (PL), termina sua passagem no comando da Casa com a possibilidade de se tornar ministro de Lula. Se essa hipótese for concretizada, dizem aliados do governo, Lira terá que assumir o compromisso de estar do lado de Lula (ou do candidato da esquerda) nas eleições de 2026.

Auxiliares de Lira dizem que ele evita verbalizar compromissos, até porque ressaltam que a conversa com Lula sobre ministérios "ainda não aconteceu". A previsão é que ela aconteça nesta semana. Fevereiro, dizem os parlamentares, será o mês da reforma ministerial.

Centrão quer Lira na Agricultura, mas PSD não abre mão de ministério. Embora um grupo de deputados faça campanha para levar o deputado alagoano para a pasta, o partido de Gilberto Kassab já informou que não vai ceder. Pesa sobre essa decisão o fato de o presidente Lula ter apreço por Carlos Fávaro.

Lira demorou para falar dos seus projetos políticos futuros, mas já está praticamente decidido que concorrerá a uma vaga no Senado em 2026. Disputada com a família Calheiros, com quem já divide o eleitorado alagoano.

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A rivalidade local, entretanto, pode ter que ser suspensa caso Lira assuma um lugar na Esplanada de Lula, que já conta com o ministro Renan Filho (Transportes). Lira ainda terá que melhorar a relação com Alexandre Padilha, que pode deixar o comando da Secretaria das Relações Institucionais, mas deve continuar com alguma vaga na Esplanada. A Saúde é a aposta que mais circula em Brasília.

A aliados, Padilha tem dito que receberá o novo colega sem ressentimentos e que as divergências "ficaram na temporada passada".

Caso não conquiste uma vaga de ministro, Lira terá que conviver em 2025 e 2026 com seus antigos liderados. O estilo "trator" dele, às vezes considerado duro por parlamentares, deu a Lira muitas vitórias, mas também gerou ressentimento em alguns parlamentares, que confidenciam que vai ser "bom não ter que olhar para a cara dele".

Obviamente, nenhum parlamentar e antigo aliado falará isso publicamente, mas alguns citam que é quando "o telefone para de tocar" que o "ex-todo-poderoso" mostra suas fragilidades. Ontem, na sua festa de despedidas, diversos parlamentares, no entanto, fizeram promessas de que não irão esquecê-lo.

Há quem ressalte que Lira ainda tentará usar a sua influência ao reforçar que ajudou a construir o consenso em torno de Hugo Motta. Mas o próprio Lira sabe que, ao chegar à cadeira que ele ocupou - com gosto - nos últimos quatro anos, todo político quer escrever o seu capítulo na história.

E uma coisa é fato: a do Lira na presidência da Câmara terminou.

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Lula como cabo eleitoral

A máxima da política é que todo senador foi ou quer ser governador. Na última coletiva como presidente neste sábado, ele admitiu que tem um sonho. "Quem diz que está na política e que não tem o sonho de governar o seu próprio estado, não está falando a verdade. É óbvio que isso é um desejo, isso é um sonho".

Pacheco tem o apoio de Lula para a missão. Na quinta-feira, o presidente Lula (PT) fez uma declaração espontânea de apoio.

Durante entrevista coletiva no Planalto, ele foi perguntado se Pacheco vai virar ser lembrado em sua reforma ministerial. "Não posso dizer quem vai ser. Se eu pudesse falar, falaria. O que quero é que Pacheco seja governador de Minas Gerais."

Pacheco tem algumas cartas na manga para mostrar ao eleitor. Foi o principal articulador do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O nome burocrático significa que a União deu condições de pagamentos paternais para estados endividados quitarem suas dívidas.

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Minas Gerais será bastante beneficiada. Em agosto do ano passado, o estado devia R$ 165 bilhões para a União. A situação era tão grave que as parcelas estavam em atraso desde 2018.

O governador Romeu Zema (Novo) escolheu brigar com o governo federal. Pacheco costurou um projeto que vira argumento para pedir voto na eleição de 2026. Ele pode dizer que resolve enquanto os outros lacram.

Mas a eleição em Minas contra um adversário bolsonarista promete ser difícil. O nome mais cotado é o histriônico senador Cleitinho (Republicanos-MG) sendo apoiado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).

Pacheco ao menos uma perspectiva de mais visibilidade até a eleição. Ele pode virar ministro da Justiça, no lugar de Ricardo Lewandowski. O senador tem dois requisitos para este cargo: formação em direito e capital político. A postura de estadista que ele vende também conta pontos. Neste caso, a dificuldade passa pelo fato de Lula não dar sinais de querer tirar o atual ministro, considerado de sua cota pessoal.

Se a cadeira de ministro é incógnita, é certo o entendimento com o atual presidente do senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Ambos estão em total consonância e Pacheco, caso não seja lembrado por Lula na reforma ministerial, terá oportunidades para aparecer diante do eleitor mineiro.

Não se espera no Senado que Pacheco faça sombra ao mandato de Davi Alcolumbre, pelo contrário. A aposta é que o senador mineiro vai adotar o estilo discreto de sempre e deixar o novo presidente conduzir os rumos da casa.

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A alternativa derradeira é abandonar a política e trabalhar na iniciativa privada. O bom relacionamento e contatos permitiriam vagas nas principais bancas de advocacia do Brasil. O caminho é parecido com o de Rodrigo Maia, deputado que presidiu a Câmara e hoje é diretor-presidente da Confederação Nacional de Instituições Financeiras. A declaração de hoje faz esta possibilidade pouco crível.

São muitas possibilidade e uma certeza: Pacheco volta para a planície bem cotado para realizar o próximo projeto que escolher.

Reportagem

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14 comentários

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Emerson Medeiros Emerenciano

Não acontece nada prezada articulista. O conluio é o mesmo, Continuarão com as mesmas imoralidades dos últimos anos!! E emendas secretas para encher o bolso de todos os parlamentares! O povo merece, votou neles!!!

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Carlos Macedo Madeira Pereira

Ou seja a receita é a mesma, farinha, água e tudo no mesmo saco!!!

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Lourenço Pellegrini Neto

Compete ao Senado enquadrar os poderes dentro do previsto na Constituição para que a verdadeira democracia volte ao Brasil, pacificando a Nação que precisará da união de todos para tirarmos o país do buraco econômico de hoje!!!’

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