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Iván Velázquez: o homem que derrubou o presidente da Guatemala

O jurista colombiano Iván Velázquez, chefe da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala - EFE
O jurista colombiano Iván Velázquez, chefe da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala Imagem: EFE

Jorge Ramos

17/09/2015 00h02

A Guatemala deu uma grande lição ao México sobre como enfrentar a corrupção e a impunidade quando elas atingem os mais altos níveis do governo. Mas o governo de Enrique Peña Nieto voltou a se esconder e prefere investigar a si mesmo. Isso não serve.

No caso da Guatemala, primeiro é preciso falar sobre os indignados. Milhares de guatemaltecos que pacífica e disciplinadamente protestaram durante meses nas ruas e nas praças até que o presidente Otto Pérez Molina e a vice-presidente Roxana Baldetti fossem obrigados a renunciar por denúncias de corrupção.

O México também tem muitos indignados pelo desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa e pelo evidente conflito de interesses (por parte do casal presidencial) na compra de uma casa de US$ 7 milhões --a chamada "Casa Branca"-- de uma empreiteira contratada pelo governo. Então, por que na Guatemala houve justiça e no México não?

A resposta é simples: porque na Guatemala as investigações foram lideradas por um organismo internacional, e no México não.

Iván Velázquez é o homem que derrubou o presidente da Guatemala. Ele está à frente da Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala. Essa comissão foi criada graças a um acordo entre a ONU e o governo da Guatemala. E por que não fazemos o mesmo no México?

Perguntei em uma entrevista ao advogado colombiano se ele poderia ir ao México investigar casos específicos de corrupção e impunidade, como a "Casa Branca" e o desaparecimento dos 43 estudantes normalistas. "Naturalmente, isso depende de convenções entre o país correspondente e o secretário-geral da ONU", disse-me com sua voz imperturbável, seus óculos e sua barba grisalha quase imóveis.

Depois me explicou as vantagens de uma comissão como a dele. "O que ocorre é que essa comissão tem a grande vantagem da independência absoluta", que ficou conhecida em seu país, a Colômbia, por iniciar investigações que culminaram em denúncias a dezenas de congressistas por atividades paramilitares. "[A comissão] não tem ligação com nenhum fator de poder, dentro ou fora do Estado. Isso garante que possa produzir investigações mais independentes e de maior profundidade."

Esse não foi o caso da investigação da Casa Branca do México. Esta foi realizada por um subordinado do presidente, Virgilio Andrade, que, como era de se esperar, absolveu o presidente e sua esposa, Angélica Rivera, de uma operação altamente suspeita e irregular. Se realmente Los Pinos não tem nada a esconder, por que não pede que a ONU faça sua própria investigação independente sobre a Casa Branca?

A mesma suspeita existe quanto à investigação governamental sobre o desaparecimento de 43 estudantes de Ayotzinapa. A investigação oficial do governo de Peña Nieto, que sugeria que os estudantes foram incinerados em um depósito de lixo público em Guerrero, foi totalmente desmentida por cinco especialistas da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos). Além disso, o grupo Human Rights Watch sugeriu que o Exército mexicano esteve inteirado a todo momento do desaparecimento dos estudantes.

As investigações da CIDH nos levam às seguintes conclusões: a "verdade histórica" que o governo mexicano apresentou sobre o caso Ayotzinapa é falsa, o governo não pode investigar a si mesmo e, diante da falta de credibilidade das autoridades, é necessário que os organismos internacionais se envolvam. O mesmo se aplica à situação da Casa Branca.

Se o México quiser seguir o grande exemplo da Guatemala, e deveria, é preciso pôr de lado o absurdo nacionalismo e as desculpas legais para permitir que peritos internacionais e independentes investiguem a corrupção e a impunidade. Essa é a única maneira de recuperar a confiança dos mexicanos.

Como se mede o êxito?, perguntei a Velázquez antes de me despedir. "O êxito deve ser medido pela desarticulação das estruturas criminosas que existem na Guatemala", disse, "e que infelizmente também existem em muitos países da América Latina".

Pergunta urgente: quem se atreve a convidar Velázquez a ir ao México?

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves