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Prefeito e traficantes são acusados por sumiço de estudantes no México

Do UOL, em São Paulo

23/10/2014 09h28

O prefeito da cidade mexicana de Iguala, José Luis Abarca, e sua mulher, María de los Angeles Pineda, em cumplicidade com um cartel criminoso, teriam planejado o desaparecimento de 43 estudantes no sul do México, em um caso que abalou o país e colocou dúvidas sobre a estratégia de segurança do governo. As acusações foram feitas na noite de quarta-feira (22) pela procuradoria geral do país.

Abarca e sua esposa - que é irmã de pelo menos três traficantes de drogas -  queriam impedir que uma mobilização de estudantes, em 26 de setembro, interferisse em um ato da primeira-dama, que ela faria como chefe de uma entidade de assistência a menores, afirmou ontem o procurador federal, Jesús Murillo.

O casal, que segundo a acusação trabalhava em cumplicidade com o cartel criminoso Guerreiros Unidos e que também tinha o apoio da polícia municipal, ordenou que os estudantes fossem contidos ao virem em um comboio em direção a Iguala, que fica no Estado de Guerrero, após terem tomado ônibus para coletar dinheiro para a escola rural onde estudavam.

“Foi uma repressão violenta por parte dos policiais de Iguala e Cocula, dirigidos pelo grupo delinquente mencionado, com intenção de dissuadir um grupo de pessoas a fazer presença no evento que o prefeito e sua esposa estavam celebrando naquela noite”, disse Murillo em uma coletiva de imprensa.

O caso abalou o governo do presidente Enrique Peña Nieto, que até pouco tempo era elogiado internacionalmente por ter prosseguido com reformas econômicas e até há algumas semanas assegurava que a violência dos cartéis do narcotráfico estava diminuindo no México.

A Procuradoria Geral da República (PGR) emitiu uma ordem de prisão contra o prefeito, sua esposa e os chefes das polícias de Iguala e Cocula, informou Murillo. O paradeiro deles é desconhecido.

Os Guerreiros Unidos são um dos vários grupos do crime organizado resultantes da divisão do antes poderoso cartel de Beltrán Leyva, cujo líder Arturo Beltrán Leyva morreu em um confronto com fuzileiros navais em dezembro de 2009.

A organização criminosa não apenas se dedica ao narcotráfico como também a sequestros e extorsões. Em Iguala, eles decidiam quem entrava para a polícia, disse Murillo.

Sidronio Casarrubias, detido na semana passada e líder dos Guerreiros Unidos, confessou que os policiais envolvidos entregaram os estudantes a seus capangas, e que seu principal tenente no começo do incidente acreditou que se tratava de integrantes de um grupo rival conhecido como Os Vermelhos.

Casarrubias indicou a mulher do prefeito como a principal operadora do grupo criminoso, segundo o procurador.

Os capangas levaram os desaparecidos em uma caminhonete branca rumo a um local onde uma semana depois foram encontradas diversas covas coletivas com 30 corpos, os quais, segundo as primeiras perícias, não pertencem aos estudantes.

No entanto, Murillo disse na quarta-feira que ainda faltavam resultados de provas realizadas pela equipe forense para saber com certeza se os restos mortais poderiam ser de algum estudante.

Protestos

Ontem, manifestantes atearam fogo no prédio da Prefeitura de Iguala durante um protesto pelo desaparecimento dos jovens.

Alguns dos milhares de professores e estudantes presentes no ato invadiram o local, que estava vazio, e puseram fogo no imóvel.

Situada no centro dessa cidade de 140 mil habitantes, a sede do Executivo de Iguala foi praticamente esvaziada na última quinta-feira, quando o Sindicato dos Professores de Guerrero e outras organizações sociais anunciaram que planejavam assumir o controle das 81 prefeituras da região.

Na Cidade do México, mais de 45 mil pessoas - carregando tochas e velas - protestaram na noite desta quarta-feira para exigir informações sobre o paradeiro dos 43 estudantes.

As gritos de "venceremos", a multidão partiu do emblemático monumento do Anjo da Independência em direção ao Zócalo, a principal praça da capital mexicana.

Familiares e amigos dos estudantes desaparecidos lideraram a passeata, que teve a participação de milhares de estudantes, professores, camponeses, ativistas e até crianças. (Com agências internacionais)