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Um bom trabalho em equipe desafia probabilidades e até rompe convenções

Vardy e King, jogadores do Leicester, comemoram gol do time no campeonato inglês - Darren Staples/Reuters
Vardy e King, jogadores do Leicester, comemoram gol do time no campeonato inglês Imagem: Darren Staples/Reuters

Richard Branson

30/05/2016 00h02

Quando os corretores de apostas britânicos postam chances de 5.000 para 1 contra a probabilidade de um certo resultado, é quase certo que o resultado em questão não vai acontecer.

Há um ano, seria possível fazer uma aposta com chances semelhantes de, digamos, Elvis Presley ser encontrado milagrosamente vivo, ou da equipe de futebol Leicester City conquistar a Premier League (o campeonato inglês), um evento igualmente milagroso.

Bem, aparentemente milagres acontecem: apesar de Elvis ainda não ter aparecido, neste mês o Leicester City pode ter conseguido a vitória mais incrível de todos os tempos, contra todas as chances, ao se tornar campeão da Premier League.  E para esfregar sal nas feridas dos corretores de apostas, a equipe se sagrou campeã ainda restando duas rodadas para o término do campeonato.

Para colocar este feito Davi contra Golias em perspectiva, considere o fato de que montar a equipe do Leicester custou apenas 54 milhões de libras, ou cerca de R$ 279 milhões. O time do Manchester City é conhecido por pagar essa soma para um único jogador.

Mas isso é muito mais do que uma história esportiva extraordinária: é também uma história de negócios incrivelmente inspiradora para empreendedores.

O sucesso do Leicester é um exemplo dos feitos notáveis que podem ser realizados quando um grupo de indivíduos de mentalidade semelhante se une e decide que suas aspirações não serão impedidas pelo saber convencional. Equipes de sucesso se arriscam, elas determinam em conjunto que se uma ideia não necessariamente funciona na teoria, ela pode funcionar na prática. E quando esses azarões trabalham juntos e se divertem, eles podem superar os gorilas de 350 quilos que dominam setores de atividades.

Em 1984, quando uma empresa chamada Virgin Records decidiu dar início a uma linha aérea transatlântica e enfrentar Golias como a Pan Am, TWA e British Airways, os especialistas achavam que estávamos loucos, e talvez estivéssemos. Não acho que algum corretor de apostas tenha estabelecido nossa probabilidade de sobrevivência, mas 5.000 para 1 poderia soar correto.

E qual probabilidade de sucesso você daria para Steve Jobs e Steve Wozniak transformarem um projeto de garagem de computador na Apple, a empresa mais valiosa do mundo? Ou a probabilidade de sucesso de Larry Page e Sergey Brin, dois estudantes com uma ideia para uma ferramenta de busca chamada Google, ou Sara Blakely, que cortou fora as pernas de uma meia-calça e empregou suas economias de US$ 10 mil na Spanx, que agora é uma empresa multibilionária?

Esses podem ser exemplos excepcionais, mas em milhares de novas empresas menores a fórmula é semelhante: com pouco ou nenhum recurso, cada um desses empreendedores desenvolveu suas equipes ao encontrar e engajar outros sonhadores, que trazem energia e valor ao grupo. Vichai Srivaddhanaprabha, o empresário tailandês que é dono do Leicester City, foi considerado louco por muitos comentaristas quando gastou 39 milhões de libras (cerca de R$ 200 milhões) em 2010 na compra de um time de futebol britânico pouco inspirador de segunda linha. Seis anos depois, estima-se que o valor do clube tenha aumentado pelo menos dez vezes. Mas se o sucesso de uma equipe não pode ser atribuído a despejar dinheiro nela, como se tornou um vencedor?

Uma resposta: o clube tratou seus jogadores como pessoas, não como commodities caras. "Nós dedicamos tempo aos nossos funcionários, jogadores e técnico", disse recentemente Aiyawatt, o filho de Srivaddhanaprabha, o vice-presidente da equipe, ao jornal "The Telegraph". "Nós tentamos administrá-lo como uma família, ouvindo os problemas de cada membro."

Em um esporte que se transformou em um grande negócio e tende a ser dominado por prima-donas brilhantes e multimilionárias, com uma compulsão de vencer a qualquer custo, o espírito "um por todos, todos por um" do Leicester City é uma mudança revigorante.

Sempre acreditei que virar de cabeça para baixo a pirâmide corporativa tradicional é o melhor caminho para o sucesso. Em vez de se concentrar exclusivamente no valor para o acionista, cuide dos interesses do seu pessoal, os mantenha engajados e se sentindo valorizados. Por sua vez, eles farão um trabalho melhor de cuidar dos seus clientes, e seus acionistas, na ponta do triângulo invertido, também ficarão contentes.

Assim, parabéns a todos do Leicester City, dos seus diretores a gandulas. Agora vem a parte difícil: repetir o feito. Na próxima temporada, as probabilidades serão muito diferentes, mas se eles continuarem se divertindo, tenho certeza que surpreenderão a todos de novo.

Uma equipe bem-sucedida

Ao formar uma equipe, tenha estas dicas em mente:

  • Arrisque-se: risco e experimentação fazem parte do empreendedorismo.
  • As coisas não se resumem a dinheiro: cuide de seu pessoal e eles cuidarão de seus clientes, o que elevará o valor para os acionistas.
  • Divirta-se: um grupo engajado de pessoas que amam o que fazem resulta em uma equipe inovadora.