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Britânicos tentam usar óleo de peixe para tratar jovens infratores

Clare Murphy<br>Da BBC News em Londres

29/01/2008 16h13

Jovens infratores, incluindo assassinos, em três instituições penais no Reino Unido vão receber suplementos vitamínicos como parte de um estudo para verificar se os suplementos podem reduzir o comportamento anti-social na prisão.

Pesquisadores britânicos dizem esperar que a pesquisa tenha profundas implicações para o sistema judiciário.

Os jovens vão adicionar os suplementos à sua dieta normal e seu comportamento vai ser comparado ao de outros que vão tomar placebos.

A pesquisa, financiada pela entidade beneficente Wellcome Trust, sucede um outro estudo, menor, que revelou que suplementos tiveram um impacto favorável sobre os níveis de violência e má disciplina em uma instituição na cidade inglesa de Aylesbury.

O estudo não se propõe a melhorar a alimentação oferecida nas prisões britânicas, já que, para os especialistas, a dieta oferecida é satisfatória. "O problema é que os prisioneiros não fazem boas escolhas", disse o professor John Stein, da Oxford University. "É isto que estamos tentando superar".

Histórico

A idéia de que uma alimentação melhor poderia mudar o comportamento é atraente - tomar um comprimido é uma opção simples e barata - mas não é nova.

Em 1942, o médico Hugh Sinclair persuadiu o governo britânico a suplementar as dietas de crianças com suco de laranja e óleo de fígado de bacalhau. Sinclair suspeitava de que a má nutrição poderia provocar, entre outros problemas, o comportamento anti-social.

Hoje, o óleo de fígado de bacalhau, rico no ácido graxo Ômega 3, é consumido por uma nova geração de pais que acreditam que o suplemento possa ajudar o desempenho de seus filhos na escola.

Mas embora haja um certo consenso na comunidade científica de que os ácidos graxos tenham um efeito protetor sobre o coração, seu impacto no cérebro - seja para combater a depressão, impultos violentos ou melhorar a concentração - não foi comprovado.

Estudos pequenos com crianças disléxicas ou com Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA) apresentaram resultados inconclusivos.

O efeito dos ácidos graxos sobre o comportamento anti-social é ainda menos estudado.

O Ômega 3 é um entre 30 componentes do suplemento vitamínico que será dado aos jovens nas três instituições penais britânicas.

Testes com computadores vão avaliar a incidência de tendências impulsivas, tidas como um fator importante no comportamento anti-social, entre os participantes.

O índice de batimentos cardíacos também será medido - já que índices baixos, acredita-se, estariam também associados ao mau comportamento. E alterações na composição sangüínea também serão monitoradas.

Embora o óleo de peixe seja o mais promissor, o estudo medirá níveis de outros suplementos, como o zinco, entre os participantes.

Os resultados serão comparados com os do grupo que vai tomar o placebo.
Os pesquisadores esperam que os resultados confirmem os do estudo feito em Aylesbury.

Nele, os jovens que tomaram os suplementos cometeram em média 26% menos delitos do que os que tomaram o placebo e praticaram 37% menos crimes violentos.

Mesmo que os resultados sejam positivos, os pesquisadores acreditam que ainda haverá muitas perguntas a responder. Por exemplo, será que os suplementos teriam efeito sobre pessoas de todas as idades, ou apenas sobre cérebros em desenvolvimento?

Por quanto tempo duraria o efeito? Como assegurar que o ex-preso continuará a tomar o suplemento após deixar a prisão?

Outra questão, mais polêmica, seria sobre a possibilidade de se oferecer os suplementos a jovens considerados "passíveis" de cometer crimes antes que eles cometam a infração.

Frances Crook, diretor da instituição Howard League for Penal Reform, que faz campanha pela reforma do sistema penal britânico, acredita que a alimentação tem um papel importante no comportamento criminoso.

Mas discorda da proposta por trás do estudo. "Está tudo errado. O que precisamos é de uma abordagem ampla: esses jovens precisam ser ensinados a comprar e cozinhar uma refeição nutritiva e, o que é crucial, a sentar e comê-la com outros", disse Crook.

"Uma sociedade que acredita que um jovem infrator pode ser curado por um comprimido que ele consome em sua cela na prisão junto com a batata frita precisa fazer uma reflexão séria. Tomar um comprimido não pode jamais ser a resposta."